
Gr�vida de oito meses e com os pulm�es tomados pela COVID-19, a dona de casa Camila Franciele Silva Barbosa, de 29 anos, chegou na �ltima quinta-feira ao hospital do Instituto de Previd�ncia dos Servidores do Estado de Minas Gerais (Ipsemg), em Belo Horizonte. Sozinha e isolada, teve seu filho prematuramente, por meio de parto normal, j� intubada e sedada, respirando por ventila��o mec�nica e sendo mantida por sondas. Ningu�m da fam�lia os viu at� ent�o.
S� e confinada por mais de 15 dias, a tamb�m dona de casa Maria Aparecida Souza Silva, de 55, se internou na Santa Casa de Miseric�rdia de BH. Chegou junto com o marido, Galdino Silva, de 66, ambos em estado cr�tico, ap�s serem contaminados pelo v�rus. N�o puderam se despedir, pois nem imaginaram que n�o se veriam outra vez. Ela morreu na quinta-feira e ele continua lutando contra a infec��o.
S� e confinada por mais de 15 dias, a tamb�m dona de casa Maria Aparecida Souza Silva, de 55, se internou na Santa Casa de Miseric�rdia de BH. Chegou junto com o marido, Galdino Silva, de 66, ambos em estado cr�tico, ap�s serem contaminados pelo v�rus. N�o puderam se despedir, pois nem imaginaram que n�o se veriam outra vez. Ela morreu na quinta-feira e ele continua lutando contra a infec��o.
Hist�rias como as dessas duas v�timas da doen�a respirat�ria superlotam leitos hospitalares e s�o contadas, numa batalha pela vida, em meio ao colapso assistencial nas seis institui��es m�dicas da regi�o hospitalar de Belo Horizonte, a que mais concentra pacientes com o novo coronav�rus (Sars-CoV-2) no estado. A reportagem do Estado de Minas acompanhou, durante toda a �ltima semana, o colapso hospitalar, que aflige os mineiros nessa reg�o da capital, onde, segundo levantamento feito pelo EM, funcionam ininterruptamente cerca de 500 leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) destinados aos pacientes com a infec��o pand�mica. Doentes n�o param de chegar.

Toda manh�, por volta das 7h, um ru�do irrompe pela �rea de BH percorrendo todas as ruas da vizinha�a. O som alerta os parentes de pacientes internados, ainda encolhidos pelo frio na cal�ada, sob as sombras dos grandes edif�cios hospitalares. E tamb�m chama a aten��o dos doentes despertos nos leitos das unidades de sa�de.
O barulho cont�nuo vem de um jato forte de �gua despejado pela mangueira de um caminh�o-tanque da Superintend�ncia de Limpeza Urbana (SLU) da capital. Diariamente, o ve�culo percorre com suas equipes os passeios dos quarteir�es onde os hospitais est�o localizados despejando �gua sobre uma mistura previamente pulverizada de sab�o e cloro para desinfectar a passagem dos pedestres do v�rus mortal.
O barulho cont�nuo vem de um jato forte de �gua despejado pela mangueira de um caminh�o-tanque da Superintend�ncia de Limpeza Urbana (SLU) da capital. Diariamente, o ve�culo percorre com suas equipes os passeios dos quarteir�es onde os hospitais est�o localizados despejando �gua sobre uma mistura previamente pulverizada de sab�o e cloro para desinfectar a passagem dos pedestres do v�rus mortal.
O preparo � feito sistematicamente e com rapidez, pois, menos de uma hora depois, vindos de todos os quarteir�es e esquinas, come�am a chegar aqueles que fazem essa regi�o funcionar como um pulm�o da capital contra a COVID-19, recebendo doentes e os tratando em institui��es p�blicas e privadas. S�o enfermeiros, faxineiros, motoristas de ambul�ncias, m�dicos, parentes de doentes, taxistas, balconistas de lanchonetes, vendedores ambulantes com m�scaras, luvas, �lcool em gel e at� escovas de dentes para quem chegou despreparado.
Ao mesmo tempo, nas �reas de manobra dos hospitais come�am a se enfileirar ambul�ncias vindas de todas as regi�es de BH e outros munic�pios de Minas. A reportagem chegou a ver cinco paradas simult�neas na garagem da Santa Casa. Com suas luzes de alerta ligadas e, �s vezes, chegando com as sirenes acionadas, buscam vagas para pacientes com a COVID-19. O movimento se concentra sobretudo na Santa Casa, Hospital das Cl�nicas, Centro Especializado em COVID-19 (Cecovid) e na UPA Centro-Sul.
O condutor de ambul�ncias Hebert Rodrigues, de 28, conta que a estada dos pacientes dentro dos ve�culos de socorro tem se prolongado com a dificuldade de vagas para atender ao n�mero crescente de doentes. “O normal tem sido esperar de 30 a 40 minutos dentro da ambul�ncia. Os hospitais est�o enfrentando um verdadeiro sufoco. E isso nos exp�e mais ao v�rus”, afirma.
Marcas profundas
Na sexta-feira, a reportagem do EM mostrou que um colapso do sistema de transporte de doentes tamb�m pode ocorrer, porque v�rios tripulantes de ambul�ncias est�o sem vacina��o ou receberam apenas uma dose do imunizante contra o coronav�rus. “Recebi duas doses na empresa. Mas as pessoas t�m de fazer a parte delas, manter a dist�ncia at� a vacina��o chegar. � terr�vel a pessoa j� vir sozinha e ficar esperando sem destino, intubada no oxig�nio dentro do carro, at� ser levada para uma �rea isolada, de onde n�o sabe quando sair� e se vai sair. Uma doen�a muito triste”, afirma.

Uma das cenas mais impactantes para o condutor de ambul�ncias Hebert Rodrigues � um retrato de como as novas variantes do coronav�rus afetam mais jovens e os fazem ser levados em estado grav�ssimo para os hospitais. “Nunca vou me esquecer do transporte que fiz de uma bebezinha, de 10 meses, que j� veio intubada. Chegou de avi�o ao aeroporto da Pampulha, vinda de S�o Paulo para o Mater Dei. Marcou muito, porque o nome dela era o mesmo da minha filha: Valentina. Minha menina tem 3 anos. O beb� era muito pequena e fr�gil e soubemos que tinha sofrido duas paradas card�acas no voo”, conta.
Ele destaca que o acompanhamento psicol�gico tem sido fundamental nessas horas. “Pelo desgaste que estamos sofrendo, pelos casos impactantes, � preciso ter esse apoio profissional. N�o podemos perder o nosso foco. Por isso, n�o acompanhei o destino do beb�, apenas desejei sorte e as b�n��os de Deus”, disse.
Ele destaca que o acompanhamento psicol�gico tem sido fundamental nessas horas. “Pelo desgaste que estamos sofrendo, pelos casos impactantes, � preciso ter esse apoio profissional. N�o podemos perder o nosso foco. Por isso, n�o acompanhei o destino do beb�, apenas desejei sorte e as b�n��os de Deus”, disse.
Desola��o
Sentados na mureta da �rea de manobra do hospital do Ipsemg, o marido e a m�e da dona de casa Camila Franciele Silva Barbosa, de 29, vivem esse drama desde quinta-feira (18/03). “Ela j� tinha consultado o m�dico aqui (no Ipsemg) queixando-se de dores, de falta de ar, muita tosse. Mas o m�dico nem fazia exame e a mandava voltar, mesmo gr�vida de oito meses”, afirma a m�e, Sueli C�ndida da Silva Barbosa, de 53.
Dias depois, Franciele enfrentava febre persistente e teve de ser levada �s pressas para o mesmo hospital, onde foi internada e nunca mais vista. “Disseram que, para v�-la, teria de fazer um exame de COVID-19 e o teste mais barato custa R$ 270. N�o tenho dinheiro nem para comer aqui nas lanchonetes em volta do hospital, tem dia que passo sem nada na barriga”, reclama a m�e.
O drama � tamb�m desolador para o marido da dona de casa, o aut�nomo Adriano Aparecido de Oliveira, de 38, que soube por informa��es obtidas na recep��o do hospital que a esposa teria sido submetida a parto normal e seu filho prematuro havia nascido, mas estava internado.
“Meu filho nasceu, n�o sei como est�, em que condi��es. N�o sai da minha cabe�a a preocupa��o com eles, queria informa��o. Queria conhecer meu filho”, desabafa, em l�grimas.
Alta ocupa��o e demanda aos milhares
As interna��es em hospitais da Rede SUS-BH ocorrem por meio da Central de Interna��o (CINT), quando a solicita��o chega � CINT. O quadro cl�nico do paciente � avaliado por um m�dico regulador e, de acordo com a disponibilidade de vagas, o paciente � encaminhado para o hospital. Na regi�o hospitalar, foi criado no ano passado o Cecovid, que funciona dentro da UPA Centro-Sul. O servi�o especializado atende 24 horas, contando com 36 leitos, sendo 12 leitos de cuidado semi-intensivo e 24 leitos de observa��o.
Segundo a Secretaria Municipal de Sa�de de BH (SMSA), a UPA Centro-Sul e o Cecovid contam com m�dico, enfermeiro, t�cnicos de enfermagem, auxiliar administrativo e de servi�os gerais. “S�o cerca de 330 profissionais. As equipes dos plant�es diurnos s�o compostas por 8 m�dicos, 7 enfermeiros e 22 t�cnicos de enfermagem. J� nos plant�es noturnos, s�o 6 m�dicos, 6 enfermeiros e 19 t�cnicos de enfermagem. Em mar�o, at� o dia 17, foram realizados 3.014 atendimentos nos dois servi�os, sendo 1.611 s� no Cecovid Centro-Sul”, informa a SMSA.
Na Rede Fhemig, as refer�ncias de atendimento s�o os hospitais Eduardo de Menezes e J�lia Kubitschek, ambos no Barreiro, sendo que o Hospital de Pronto-Socorro Jo�o XXIII frequentemente atende pacientes que se mostram contaminados e depois de estabilizados s�o transferidos. Na regi�o hospitalar, a �nica refer�ncia da Fhemig � no atendimento pedi�trico aos casos de COVID, no Hospital Infantil Jo�o Paulo II (antigo Centro Geral de Pediatria), que tinha 25 casos respirat�rios suspeitos ou confirmados dos 28 leitos de enfermaria: 90% de ocupa��o. Na UTI, 17 (85%) dos 20 leitos est�o ocupados. “A m�dia de perman�ncia dos casos em crian�as tem sido de nove dias. (O hospital) Possui 780 profissionais de sa�de, de todas as categorias necess�rias ao atendimento”, informa a rede.
A reportagem entrou em contato com a Rede Semper, Santa Casa – S�o Lucas e Hospital das Cl�nicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mas at� o fechamento desta edi��o n�o obteve resposta aos questionamentos e pedidos de informa��es estruturais do atendimento e sobre pacientes.