
Na linha de frente de combate ao novo coronav�rus, trabalhadores da sa�de tiveram que enfrentar um �rduo aprendizado sobre um inimigo desconhecido e trai�oeiro. Nessa guerra, o v�rus pode ter vencido batalhas, mas o enfrentamento di�rio fez com que m�dicos, enfermeiros, fisioterapeutas e toda a equipe se armassem de conhecimento para salvar vidas.''Estamos lidando com equipes que est�o cansadas, que se adoentaram e tiveram que ser substitu�das, e que precisaram se capacitar e investir em habilidades que n�o tinham''
Maria Aparecida Braga, presidente da Associa��o Brasileira de Medicina de Emerg�ncia
Em busca de respostas sobre esse arsenal, o Estado de Minas ouviu profissionais para que revelassem o que tiveram de aprender na pr�tica e hoje funciona para o tratamento desses pacientes – em uma busca cont�nua, que est� longe de terminar ou de ter conseguido todas as respostas.
Com o passar dos meses e dos sucessivos combates travados � beira dos leitos, ao lado dos pacientes, os m�dicos foram entendendo que o v�rus ataca muito mais os pulm�es.
“A gente achava que era uma infec��o viral inicialmente, e agora sabemos que a COVID-19 � muito sist�mica. O acometimento pulmonar � uma das fases, mas a doen�a tamb�m acomete rim, cora��o, pulm�o, e existe ainda um grande grau de acometimento muscular. E o v�rus causa les�es secund�rias, que o paciente vai apresentar em longo prazo. Ent�o, existe a chamada s�ndrome p�s-COVID, com recupera��o lenta. Muitos evoluem com falta de ar e cansa�o, a longo prazo. N�o � uma gripe que na semana seguinte voc� est� normal”, afirma o m�dico intensivista Norberto de S�, professor da Faculdade de Medicina do Vale do A�o.
“A gente achava que era uma infec��o viral inicialmente, e agora sabemos que a COVID-19 � muito sist�mica. O acometimento pulmonar � uma das fases, mas a doen�a tamb�m acomete rim, cora��o, pulm�o, e existe ainda um grande grau de acometimento muscular. E o v�rus causa les�es secund�rias, que o paciente vai apresentar em longo prazo. Ent�o, existe a chamada s�ndrome p�s-COVID, com recupera��o lenta. Muitos evoluem com falta de ar e cansa�o, a longo prazo. N�o � uma gripe que na semana seguinte voc� est� normal”, afirma o m�dico intensivista Norberto de S�, professor da Faculdade de Medicina do Vale do A�o.

O aprendizado tamb�m significou que muita teoria foi sendo abandonada � medida que os resultados n�o eram satisfat�rios, como explica o m�dico. “N�o existe nenhuma droga – nem antibi�ticos ou hidroxicloroquina – que funcione e que reduza a mortalidade dos pacientes hospitalizados.''No in�cio, n�o t�nhamos EPIs adequados. Acabou que nos vimos em uma guerra praticamente combatendo com pau e pedra, sem prote��o adequada e sem conhecimento do inimigo''
Anderson Rodrigues, presidente do Sindicato dos Enfermeiros de Minas Gerais
V�rias subst�ncias foram testadas no in�cio, incluindo alguns antivirais, como o pr�prio Tamiflu, que a gente usou muito para a gripe H1N1 e funcionou. Achamos inicialmente que ele funcionaria para a COVID-19, e n�o deu certo”, explica o professor.
Ele acrescenta que tamb�m foram testadas drogas que s�o empregadas para o tratamento da Aids. Da mesma forma, sem sucesso. “V�rios antivirais que s�o usados no tratamento do HIV e outras infec��es virais tamb�m n�o funcionaram para a COVID-19. A gente testou muita coisa que n�o deu certo”, explica.
Mas nem tudo foram ataques malsucedidos. A m�dica emergencista e intensivista Maria Aparecida Braga, presidente da Associa��o Brasileira de Medicina de Emerg�ncia, fala sobre os procedimentos que deram certo. “Agora, a gente tem um pouco mais de conhecimento sobre como lidar com esses pacientes do ponto de vista das determina��es precoces”, explica.

Segundo ela, em pacientes em que a doen�a avan�a com gravidade, o ponto principal de alerta � a queda de satura��o de oxig�nio. “Nosso objetivo nesses casos � manter uma oxigena��o adequada com os meios que temos. Isso vai desde o cateter nasal simples at� a intuba��o e a ventila��o mec�nica invasiva. Temos hoje, e n�o t�nhamos no in�cio, o uso de corticoide. Utilizamos n�o apenas no hospital, mas para pacientes que t�m uma baixa de satura��o que necessite de oxig�nio, inclusive em ambiente domiciliar”, explica.''Foi uma medicina de guerra o que a gente viveu nesses �ltimos meses, mas os treinamentos e conhecimentos que adquirimos no passado fizeram muita diferen�a''
Norberto de S�, intensivista e professor da Faculdade de Medicina do Vale do A�o
O medo de faltarem escudos de prote��o
Desde as primeiras informa��es sobre a chegada do v�rus ao Brasil, em mar�o de 2020, muitos profissionais de sa�de se preocuparam com a capacidade de o sistema de sa�de p�blica do pa�s suportar o fornecimento de equipamentos de prote��o individual (EPIs), para que pudessem combater com um m�nimo de seguran�a. O intensivista Norberto de S�, professor da Faculdade de Medicina do Vale do A�o, conta que a maior dificuldade enfrentada na �poca foi a estrutural.
“A gente ficava vendo os v�deos dos chineses e italianos se paramentando, e ficava pensando: ‘E no Brasil, que a gente passa por problemas estruturais graves na rede p�blica, ser� que vamos ter equipamento para nos proteger desse jeito?’”, relembra.
“A gente ficava vendo os v�deos dos chineses e italianos se paramentando, e ficava pensando: ‘E no Brasil, que a gente passa por problemas estruturais graves na rede p�blica, ser� que vamos ter equipamento para nos proteger desse jeito?’”, relembra.
O enfermeiro Anderson Rodrigues, presidente do sindicato da categoria em Minas Gerais, refor�a a import�ncia da preocupa��o do colega.
“No in�cio, n�o t�nhamos EPIs adequados, passamos por momentos muito dif�ceis, realmente. N�o havia um suporte para esses profissionais que estavam na linha de frente. Quando come�aram a chegar os equipamentos, n�o eram de boa qualidade, e acabou que nos vimos em uma guerra praticamente combatendo com pau e pedra, ou seja, sem prote��o adequada e sem conhecimento do inimigo”, completa.
“No in�cio, n�o t�nhamos EPIs adequados, passamos por momentos muito dif�ceis, realmente. N�o havia um suporte para esses profissionais que estavam na linha de frente. Quando come�aram a chegar os equipamentos, n�o eram de boa qualidade, e acabou que nos vimos em uma guerra praticamente combatendo com pau e pedra, ou seja, sem prote��o adequada e sem conhecimento do inimigo”, completa.
Por outro lado, a experi�ncia de epidemias como a de H1N1, em 2009, ajudou esses profissionais a se prepararem para o que estava por vir, apesar de as propor��es serem imensamente diferentes da atual pandemia.
“Foi uma medicina de guerra o que a gente viveu nesses �ltimos meses, mas os treinamentos e conhecimentos que adquirimos no passado fizeram muita diferen�a. Aquele preparo que tivemos para a gripe H1N1, de isolamento, UTI e leitos isolados, de paramenta��o, uso de circuitos fechados em respiradores – isso tudo a gente organizou antes e muitos hospitais mantiveram a estrutura relativamente operacional”, afirma o m�dico Norberto de S�.
“Foi uma medicina de guerra o que a gente viveu nesses �ltimos meses, mas os treinamentos e conhecimentos que adquirimos no passado fizeram muita diferen�a. Aquele preparo que tivemos para a gripe H1N1, de isolamento, UTI e leitos isolados, de paramenta��o, uso de circuitos fechados em respiradores – isso tudo a gente organizou antes e muitos hospitais mantiveram a estrutura relativamente operacional”, afirma o m�dico Norberto de S�.
No come�o, com poucas informa��es, todo o conhecimento dispon�vel vinha da It�lia e da China, que j� enfrentavam o novo coronav�rus havia mais tempo, e eram a base do tratamento no Brasil.
“Foi um per�odo de muito aprendizado, em que a gente consertou o carro com o motor ligado. No in�cio tudo era surpresa, tudo era medo, muito medo de contamina��o da equipe. Mas agora as coisas v�o melhorando”, disse o m�dico intensivista do Vale do A�o.
“Foi um per�odo de muito aprendizado, em que a gente consertou o carro com o motor ligado. No in�cio tudo era surpresa, tudo era medo, muito medo de contamina��o da equipe. Mas agora as coisas v�o melhorando”, disse o m�dico intensivista do Vale do A�o.
Sabedoria vai al�m do campo de batalha
O aprendizado que profissionais de sa�de em a��o no campo de batalha adquiriram vai muito al�m da doen�a propriamente dita, avaliam especialistas.
“A pandemia colocou um holofote muito grande sob os emergencistas e intensivistas, ao mostrar a import�ncia do trabalho de equipe para a assist�ncia social. Ent�o, se voc� tem uma equipe que funciona, como deve funcionar de fato, tem condi��o de cuidar desse paciente”, explica a presidente da Associa��o Brasileira de Medicina de Emerg�ncia, Maria Aparecida Braga.
“A pandemia colocou um holofote muito grande sob os emergencistas e intensivistas, ao mostrar a import�ncia do trabalho de equipe para a assist�ncia social. Ent�o, se voc� tem uma equipe que funciona, como deve funcionar de fato, tem condi��o de cuidar desse paciente”, explica a presidente da Associa��o Brasileira de Medicina de Emerg�ncia, Maria Aparecida Braga.
Ela destaca ainda a import�ncia de investir em educa��o continuada. “Estamos lidando com equipes que est�o cansadas, ainda sobrecarregadas, que se adoentaram e tiveram que ser substitu�das, e que precisaram se capacitar e investir em habilidades que n�o tinham. Profissionais de outras �reas foram nos ajudar. Tudo isso demanda educa��o continuada e faz diferen�a no resultado assistencial. A equipe � a pedra angular, � a base do atendimento do paciente gravemente enfermo, n�o apenas na COVID-19, mas em todas as situa��es de gravidade”, refor�a Maria Aparecida.
E as li��es foram muito al�m do ambiente hospitalar. “Nesses 16 meses, todo mundo aprendeu alguma coisa; aprendemos que as coisas mais importantes s�o as mais simples. Ficar em casa, abra�ar os filhos, ver os amigos, fazer uma reuni�o de fam�lia... Eu passei o Dia dos Pais, o Dia das M�es, anivers�rio, Natal e ano-novo, tudo isso longe dos meus pais. S�o coisas muito b�sicas e simples. A gente vai sair mais sens�vel. E vamos aprender mais”, acrescenta o m�dico Norberto de S�.
Aprendizados
» T�cnica da prona��o, que consiste em manter o paciente de “barriga para baixo”, tem ajudado a melhorar a fun��o dos pulm�es dos doentes com insufici�ncia respirat�ria que est�o internados nos leitos cl�nicos e na UTI.
» O uso de corticoides, como a dexametasona e prednisolona, foi positivo em pacientes internados com quadros graves de COVID-19. Pesquisas v�m demonstrando que os corticoides reduzem o n�mero de �bitos em pacientes muito graves, diminuem o tempo no respirador e encurtam a interna��o
» Pacientes com COVID-19 demandam uso de sedativos e bloqueadores mais potentes e os m�dicos aprimoraram os conhecimentos espec�ficos nessa �rea
» Capacete Elmo: foi positivo para pacientes, porque evita intubar e possibilita ventila��o com press�o positiva
» Identifica��o de grupos de risco: hoje, sabe-se que idosos e pessoas com doen�as n�o transmiss�veis, a exemplo das cardiovasculares, respirat�rias cr�nicas, diabetes e c�ncer, t�m um risco mais alto de desenvolver quadros graves
» Crian�as e adolescentes t�m chance menor de desenvolver casos com gravidade. H� poucos relatos de doen�as graves nesse grupo, o que
n�o significa que ele � menos vulner�vel ao cont�gio
» O uso da m�scara, antes n�o recomendado para a popula��o em geral, se revelou fundamental para suprimir a transmiss�o da COVID-19 e salvar vidas, de acordo com estudos cient�ficos
» A hidroxicloroquina n�o reduz a mortalidade de pacientes hospitalizados com COVID-19. A Organiza��o Mundial da Sa�de interrompeu testes com a subst�ncia em pacientes graves, depois que estudo cient�fico mostrou que ela n�o � eficaz para esse fim. Outros trabalhos indicam inefic�cia tamb�m em quadros leves e moderados...
Desafios
» Descobrir uma droga que tenha efeito sobre o Sars-CoV-2, um antiviral que consiga bloquear a fase inicial de replica��o do coronav�rus, que � muito agressiva
» Aprender a lidar com a s�ndrome p�s-COVID, com as sequelas que a doen�a deixa nas pessoas que contra�ram o v�rus
» Definir qual o prazo de prote��o proporcionado pelas vacinas, e a necessidade de doses regulares de refor�o
» Estabelecer o risco real de reinfec��o. Cientistas trabalham para entender o papel da resposta imunol�gica na primeira e na eventual segunda infec��o
» Determinar quando ser� seguro suspender medidas de preven��o e distanciamento social