Por�m, n�o h� maneiras de saber, exatamente, quais animais s�o os mais afetados, com um dado al�m da classe que pertencem. "N�o se sabe quais as esp�cies que mais fogem, mais morrem ou mais param nas estradas, isso porque existem muitas vari�veis e n�o h� um estudo sobre", disse Thiago Stehling, m�dico veterin�rio do Instituto Estadual de Florestas (IEF), que atua no Centro de Triagem de Animais Silvestres do IBAMA em Belo Horizonte (Cetas/BH).
O veterin�rio explica que apesar da quantidade de inc�ndios em todo o estado, poucos animais conseguem ser resgatados com vida e levados para tratamento. "Muita gente acha que, por causa dessas queimadas, devem chegar v�rios animais queimados para tratamento. Na verdade, n�o e s�o muitos fatores que levam � essa situa��o".
"As caracter�sticas no nosso relevo, vegeta��o e fauna s�o alguns exemplos. Os animais silvestres ou s�o carbonizados e nem encontramos os restos mortais, pensando que a maioria da nossa fauna s�o de animais pequenos. Ou eles conseguem escapar. Poucos v�o ser encontrados agonizando, com ferimentos ou queimados."
"Muitas vezes acontece de os animais estarem fugindo do fogo e serem atropelados nas estradas. Isso tamb�m � uma consequ�ncia do fogo. Mas n�o temos informa��es detalhadas do hist�rico dos animais que chegam de atropelamento."
Complexidade de acesso aos locais
Diferente de outros estados, em Minas Gerais, o relevo n�o apresenta plan�cies e para acessar os locais de inc�ndio, h� uma maior exig�ncia de preparo e conhecimento das matas.
"� diferente, por exemplo, do Pantanal, que diversas pessoas falam dos animais resgatados. � cobra, on�a, jacar�, sucuri. Em Minas � diferente, nosso relevo � muito acidentado. Quem consegue chegar, por vezes, s�o s� profissionais altamente treinados para combate de inc�ndio florestal", explica o veterin�rio.
"L� (Pantanal), os bi�logos ou veterin�rios conseguem acessar alguns lugares, a composi��o da fauna � diferente, com muitos grandes mam�feros e r�pteis, formando uma concentra��o bem maior de animais, isso devido as caracter�sticas do pr�prio ambiente", continua.
Segundo o sargento Aloisio Henrique Souza, que trabalha do pelot�o de combate � inc�ndios florestais do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG), algumas circunst�ncias realmente complicam, ainda mais, o trabalho dos militares.
"Um elemento favor�vel ao combate ao inc�ndio � quando o terreno � plano, levemente acidentado e h� exist�ncia de estradas, que permitem uma resposta r�pida. Porque, quanto mais r�pido o inc�ndio for debelado, menos estragos trar�. Agora, a aus�ncia de estradas, aclives e declives, regi�es montanhosas, mata densa e fechada, terrenos alagados e p�ntanos, s�o elementos desfavor�veis, que geram um tempo de resposta demorado", explica.
Em Minas Gerais, o relevo � mais acidentado em diversas �reas e o clima seco das �ltimas semanas t�m dificultado o combate �s chamas. "A cobertura vegetal de Minas Gerais pode ser resumida em quatro tipos de biomas principais, a Mata Atl�ntica, Cerrado, Campos de Altitude e Mata Seca", diz o sargento.
"Assim como numa batalha, no combate ao inc�ndio florestal tamb�m s�o analisadas algumas vari�veis que podem ser de fundamental import�ncia � opera��o no combate direto ao inc�ndio e o resgate de animais encontrados", continua.
"Tem que ficar bem claro que combater os inc�ndios florestais no combate direto n�o e f�cil, al�m de se tratar de uma atividade desgastante, requer aten��o e uma vis�o constante de tudo, j� que o inc�ndio possui comportamento, at� certo ponto, previs�vel".
"Por isso � comum n�s vermos planos sendo adequados durante a a��o e equipamentos sendo exigidos de �ltima hora. O inc�ndio, literalmente, age ao sabor dos ventos. Aqui n�s temos alguns problemas. S�o dias sem chover, temperatura acima de 30°C, umidade relativa do ar abaixo de 30% e a velocidade do vento acima de 30km/h", finaliza.
O resgate dos animais
No cansativo trabalho de combater as chamas e impedir que elas se alastrem ainda mais pela vegeta��o, o resgate dos animais � feito na medida que os militares os encontram com vida. O problema � que, a maioria dos bichos acaba morrendo, antes mesmo de serem vistos pela equipe.
De acordo com o sargento Henrique, o pelot�o que faz o combate ao inc�ndio tamb�m resgata os animais e as diferentes esp�cies s�o afetadas de algumas formas. Entretanto, todas sofrem com dois pontos principais, a falta de comida e abrigo.
"Os efeitos do fogo, no geral, est�o na elimina��o da fonte de alimento e abrigo. Animais maiores, como mam�feros e aves, sentem a chegada do fogo por meio das ondas emanadas pelas chamas e do cheiro da fuma�a, por isso partem em fuga. Mas aqui h� um grande problema, que parte da fauna n�o consegue fugir, por conta de sua baixa mobilidade. Quando o inc�ndio se torna de grandes propor��es, ele espalha animais carbonizados por toda extens�o de �rea queimada", disse.

A m�dica veterin�ria e soldado do CBMMG, Luana Maressa explica que n�o h� uma equipe especializada para resgate de animais. "N�o existe uma equipe especializada em resgat�-los. A pr�pria equipe no combate ao inc�ndio, que se deparar com um animal ferido, vai peg�-lo e encaminhar para atendimento. H� recomenda��o de usar um pano limpo, para n�o agarrar a pele do animal no equipamento, em seguida eles s�o levados para o IBAMA, em hor�rio comercial, ou para as cl�nicas veterin�rias mais pr�ximas", explica.
Alguns animais conseguem fugir das chamas e na tentativa de se proteger, acabam chegando em �reas urbanas e entram em casas. Nesses casos, a soldado d� algumas orienta��es. "Muitas vezes os parques atingidos pelos inc�ndios est�o pr�ximos � �reas urbanizadas e para fugir do fogo, o animal pode ir parar numa casa, garagem, buscando ref�gio em locais p�blicos e urbanizados", disse.
"E na tentativa de ajudar o animal, uma pessoa pode at� ser ferida, porque o animal com dor est� propenso a atacar. Recomendamos sempre ligar para o 193 para fazermos o resgate. Algumas pessoas fazem receitas caseiras para tentar melhorar a queimadura, mas n�o algo aconselhado".
"Se o animal estiver na garagem, por exemplo, tamb�m � poss�vel fechar o ambiente, com seguran�a, e ligar para o 193. Se ele estiver no recinto fechado, d� tempo de os bombeiros chegarem para realizar o resgate, sem que o animal fuja ou as pessoas corram risco de serem atacadas", finaliza a soldado Maressa.
Para onde v�o os animais resgatados?
Quando conseguem sobreviver ao caos do inc�ndio e s�o resgatados, os animais podem ser levados para atendimento emergencial em cl�nicas ou hospitais veterin�rios mais pr�ximos. Por�m, segundo a Semad, o ideal � que esses animais sejam entregues nos Centros de Triagem e Reabilita��o de Animais Silvestre do IEF, localizados em Belo Horizonte, Juiz de Fora, Montes Claros, Patos de Minas e Divin�polis. Nestas estruturas, os animais ser�o tratados e quando poss�vel, reabilitados.
De acordo com o veterin�rio Thiago Stehling, do Cetas/BH, entre a chegada dos animais no Centro at� a soltura no ambiente ocorrem muitas fases. Nos �ltimos tr�s meses, apenas quatro animais deram entrada para tratamento na capital mineira v�timas de inc�ndios. Foram um jabuti, um ouri�o-cacheiro (porco-espinho) e dois gamb�s de orelha branca.

"Apesar de chegarem poucos, n�o quer dizer que o fogo n�o cause problemas. Pelo contr�rio, n�o chegam tantos animais porque muitos morrem. Um animal que veio de inc�ndio n�o necessariamente est� com queimadura. �s vezes ele s� estava fugindo e foi resgatado. Fazemos uns exames e se ele n�o tem nada, podemos levar para a �rea de soltura", explica.
A reabilita��o
O processo de recupera��o passa pelo tratamento das feridas, quando h�, recupera��o f�sica e reabilita��o. "Se o animal chega queimado, n�s tratamos da queimadura e s� depois da recupera��o f�sica � que fazemos a reabilita��o. Ele fica num viveiro, fazendo recupera��o f�sica para escalar, correr ou voar, a depender da esp�cie", diz o veterin�rio.
"Fazemos alguns artif�cios para trein�-lo a voltar para a natureza, como esconder os alimentos para ele trabalhar o olfato, reaprendendo a procurar. Animais adultos j� t�m mais medo dos seres humanos, mas os filhotes n�o. Por isso, geralmente, a reabilita��o deles demora mais, pois � necess�rio tirar o v�nculo que ele teve na inf�ncia, criado durante o tratamento. Isso ocorre porque n�s precisamos dar mamadeiras, por exemplo".
"Para ir desvinculando, a gente pode usar algumas estrat�gias como sons altos, para ele associar que a presen�a de seres humanos pode ser algo ruim. Tamb�m precisamos apresentar poss�veis predadores para ele saber que n�o pode aproximar de certos animais", continua.
Nessa t�cnica, pegamos, por exemplo, o cheiro de um predador, colocamos no recinto e quando ele sente, colocamos um som alto para ocorrer associa��o � algo perigoso. Tamb�m podemos colocar animais empalhados, que j� morreram, e aplicamos a t�cnica de associa��o negativa. Mas muitas vezes, basta um afastamento nosso, sem tanto contato, s� com os b�sicos - como colocar comida e limpar o espa�o, eles j� conseguem cortar o v�nculo com humanos", finaliza o m�dico veterin�rio.
*Estagi�ria sob supervis�o da subeditora Ellen Cristie.