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Estado de Minas PATRIM�NIO HIST�RICO

Templo interditado h� 12 anos em cidade mineira enfim ser� restaurado

Obras na Igreja S�o Jos�, de Itapanhoacanga, devem come�ar este m�s, encerrando d�cadas de abandono que corroeram o im�vel erguido no s�culo 18 na Estrada Real


04/10/2021 04:00 - atualizado 04/10/2021 06:36

A Igreja São José, em Itapanhoacanga, vista por fora
Do piso ao forro, passando pela parte externa, constru��o hist�rica clama por socorro (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press )
 

 

Alvorada de Minas – Maria Jos� prepara os foguetes, Silv�nia abre o maior sorriso e Eli fortalece a corrente de confian�a formada ainda por dona Ladica, Maria Efig�nia, Ana Fl�via e outros moradores de Itapanhoacanga, em Alvorada de Minas, na Regi�o Central, a 210 quil�metros de Belo Horizonte. Ap�s mais de tr�s d�cadas de incertezas e 12 anos de interdi��o do seu principal templo cat�lico, a comunidade ver�, finalmente, o in�cio da restaura��o da Igreja S�o Jos�, do s�culo 18, em vis�vel estado de deteriora��o.

 

“Neste ano dedicado a S�o Jos�, n�o poderia haver nada melhor. Esta igreja � minha fam�lia, minha casa, minha comunidade”, alegra-se Geralda Maria Ferreira de Souza Pimenta, a dona Ladica, oficial do cart�rio de registro de of�cios e notas, ministra da eucaristia e apaixonada pelo monumento de f�. Em uma manh� de tempo fechado, dona Ladica se emocionou, diante do templo, ao falar sobre a longa trajet�ria de dificuldades.

 

“A situa��o nos causa muito sofrimento, pois a igreja, al�m da celebra��o de missas, casamentos e batizados, sempre foi o local da catequese, das reuni�es dos moradores, enfim, o �nico ponto de encontro de todos n�s. Minha m�e, Geralda Majela, tocava o �rg�o musical, meus filhos foram batizados aqui”, contou dona Ladica, no adro da igreja, ao lado do marido Eli Pimenta e da filha Ana Fl�via Ferreira de Souza Pimenta. “Seu Pedro morreu levando consigo a tristeza de n�o ver a igreja reaberta. Ele veio aqui a vida inteira, mesmo quando as portas estavam fechadas. Ficava olhando do lado de fora”, lembrou a ministra da eucaristia.

 

Geralda de Souza Pimenta reza na Igreja São José, em Itapanhoacanga
Geralda de Souza Pimenta, a dona Ladica, renova a expectativa na reforma do templo: "Minha fam�lia, minha casa, minha comunidade" (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press )
 

 

Pedro de Carvalho Filho, ao qual dona Ladica se refere, teria hoje, se vivo, 93 anos. Ele foi uma das pessoas entrevistadas pelo Estado de Minas, em 1999, em reportagem que j� naquela �poca denunciava o quadro lastim�vel da constru��o hist�rica (leia abaixo). Nove meses depois, quando come�aram os servi�os emergenciais a cargo do Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan), respons�vel pelo tombamento em 29 de setembro de 1971, ele saudou o feito.

 

Tamb�m satisfeita com a restaura��o da Igreja S�o Jos�, que ter� investimento de R$ 4 milh�es da mineradora Anglo American e previs�o de in�cio das obras neste m�s, a professora Silv�nia Maria Moreira de Oliveira Reis prefere n�o culpar ningu�m pela degrada��o e apostar na conserva��o permanente. “Somos todos respons�veis pelo bem, pois � coletivo. Viveremos nova etapa, e cabe � nossa comunidade, de agora em diante, preservar da melhor forma poss�vel o patrim�nio”, afirmou.

 

Igreja São José vista do alto, em Itapanhoacanga
Interditada h� 12 anos, Igreja S�o Jos�, de grande valor hist�rico e refer�ncia para a comunidade, deve recuperar sua beleza com restaura��o patrocinada pela Anglo American (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press )

 

Servi�os

A Igreja São José, em Itapanhoacanga, vista por fora
Do piso ao forro, passando pela parte externa, constru��o hist�rica clama por socorro (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press )
 

 

A igreja receber� obras civis e restaura��o art�stica, al�m do sistema de prote��o contra descargas atmosf�ricas, alarme e prote��o contra inc�ndios e servi�os hidrossanit�rio e de sonoriza��o. A previs�o � de que o trabalho dure 18 meses. Com acompanhamento do Iphan, as interven��es ter�o � frente o Instituto Fl�vio Gutierrez.

 

A superintendente do Iphan em Minas, D�bora do Nascimento Fran�a, informa que o objetivo da autarquia federal � sempre valorizar o patrim�nio por meio dessa e de outras obras de restaura��o e requalifica��o. “A Matriz de S�o Jos� de Itapanhoacanga � uma representante singular da arquitetura religiosa de Minas, de grande riqueza e import�ncia para o Brasil.”

 

Titular da Par�quia Santo Ant�nio, em Alvorada de Minas, padre D�rio Vieira destaca a import�ncia do templo para os cat�licos e tamb�m fi�is de outras religi�es que vivem em Itapanhoacanga. “Cheguei aqui h� seis anos, e a igreja estava fechada. Vejo a ansiedade das pessoas para terem de volta sua igreja, que � muito bonita e tem tantas hist�rias, muitas delas ligadas aos pais e antepassados de morasdores”, afirmou o p�roco. Dependendo da situa��o sanit�ria, padre D�rio, que deixar� a par�quia em novembro, pensa em celebrar missa para marcar o in�cio da obra.

 

Mem�ria


Batalha de d�cadas

 

Falta de estrutura em piso da Igreja São José, em Itapanhoacanga
D�cadas de abandono e apelos de moradores marcam a igreja (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press )
 

 
Em 2 de maio de 1999, o Estado de Minas publicou reportagem denunciando a degrada��o da Igreja S�o Jos� de Itapanhocanga, em Alvorada de Minas, na Regi�o Central. Unidos na porta do templo, os moradores davam seus “gritos de esperan�a”, conforme o t�tulo da reportagem, pedindo provid�ncias urgentes das autoridades para a constru��o n�o ruir.
 
Estavam l� Geralda Maria Ferreira de Souza Pimenta, a dona Ladica, e outros. A foto que t�o bem ilustra a reportagem n�o pode ser repetida em tempos de pandemia, embora o sentimento seja id�ntico.
 
“Alguns morreram, outros cresceram e se mudaram, mas a luta � a mesma”, conta a professora Silv�nia Maria Moreira de Oliveira Reis, sempre presente �s mobiliza��es pelo restauro da edifica��o.
 
No ano seguinte, em 26 de mar�o de 2000, o EM publicou nova reportagem, naquela oportunidade sobre os servi�os emergenciais executados pelo Iphan, iniciados havia um m�s.
 
Junto aos oper�rios, moradores volunt�rios marcavam presen�a e, sob a orienta��o dos t�cnicos, ajudavam a fazer tijolos de adobe. Da vizinhan�a, chegavam pessoas a cavalo para ver o andamento da obra. Passadas duas d�cadas, est� na hora, mais uma vez, de salvar um patrim�nio de Minas e deter um dos seus maiores inimigos: a falta de preserva��o.
 
Geralda de Souza Pimenta reza na Igreja São José, em Itapanhoacanga
Geralda de Souza Pimenta, a dona Ladica, renova a expectativa na reforma do templo: "Minha fam�lia, minha casa, minha comunidade" (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press )
 

Sil�ncio, abandono e invas�o de maritacas 

 
Forro da Igreja São José, em Itapanhoacanga
Do piso ao forro, passando pela parte externa, constru��o hist�rica clama por socorro, que chega ap�s d�cadas de abandono e apelos de moradores (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press )
 
 
Edificada em meio a um gramado, tendo � frente um muro de arrimo de pedras, a Igreja S�o Jos�, vinculada � Diocese de Diamantina, vive em permanente estado de sil�ncio, algumas vezes quebrado pelo barulho de maritacas atravessando a nave. Para evitar a invas�o de p�ssaros, foram colocadas telas cobrindo os �culos laterais (aberturas na fachada), mas, pelo visto, as aves encontraram novas entradas.

Na companhia de Silv�nia e dona Ladica, a equipe do EM revisitou o templo, conclu�do em 1785 como capela filial da matriz da Vila do Pr�ncipe, atual Serro, no Vale do Jequitinhonha. A tela do celular vai iluminando um corredor at� a equipe se deparar com a imagem de Senhor dos Passos, com a veste branca, sobre um andor. “S� ficou essa imagem aqui, as outras foram levadas, com seguran�a, para Alvorada de Minas”, explica Silv�nia, referindo-se � sede do munic�pio, que fica a 16 quil�metros. Mostrando a base da pe�a sacra, dona Ladica conta que, h� pouco tempo, notou que algo ali se movia: “Enxerguei uma cobra preta e amarela, me falaram que bem venenosa. Chamei meu marido e ele espantou o bicho”.

A hist�ria rec�m-contada mostra que todo cuidado � pouco ao pisar, pois h� madeiras bem estragadas. Por onde se olha, est�o marcas enormes de infiltra��o e mofo, algumas perto do crucifixo na parede, testemunha de outros tempos, assoalho quebrado, peda�os de esteios jogados num canto, um antigo extintor de inc�ndio sem utilidade, tudo envolto pelo vazio inc�modo. “Os elementos art�sticos est�o embalados e guardados em caixas”, revela Silv�nia.

Um dos orgulhos dos moradores de Itapanhoacanga, palavra que significa “Serra da Cabe�a Preta”, em tupi-guarani, est� no forro datado de 1777, feito por Manuel Ant�nio Fonseca a mando do capit�o Jos� Pereira Bonjardim. As pinturas mostram passagens da vida de S�o Jos�, esposo de Maria, pai adotivo de Jesus, padroeiro universal da Igreja Cat�lica, protetor das fam�lias, dos trabalhadores e dos �rf�os. “Temos muita devo��o com S�o Jos�”, ressalta dona Ladica.

Na porta das casas, a satisfa��o ganha terreno. As irm�s Maria Jos� Ferreira de Souza e Maria Efig�nia de Ferreira de Souza chamam os rep�rteres para tomar um caf� com biscoito polvilho, mas o adiantado da hora e a chuva adiam a visita. “Mas voc�s vir�o para o in�cio das obras, n�? A�, teremos bolo tamb�m”, convida Maria Efig�nia, com muito gosto. Entusiasmada na mesma medida, Maria Jos�, que trabalhou 19 anos na Igreja S�o Jos�, atual Santu�rio S�o Jos�, no Centro de BH, avisa que j� est� comprando foguete para comemorar o in�cio das obras. “Precisa ter foguet�rio. Estou esperando a restaura��o h� 32 anos.”

HIST�RIA De acordo com estudos do Iphan, a Igreja S�o Jos� de Itapanhoacanga foi erguida como capela filial da matriz da Vila do Pr�ncipe (atual Serro), tendo sido conclu�da, provavelmente, em 1785, j� que em 1787, Manuel Ant�nio da Fonseca foi contratado para executar a pintura em pain�is no forro da nave. Os forros, tanto da capela-mor quanto da nave, t�m forma abobadada, sendo que o segundo apresenta bela pintura decorativa composta por 12 pain�is de formato retangular.

Itapanhoacanga, localidade com cerca de 1,7 mil habitantes e antes pertencente ao Serro, passou a  fazer parte de Alvorada de Minas em 1962. Por muito tempo, foi pouso no Caminho dos Diamantes e da Estrada Real na liga��o de Diamantina com Ouro Preto. 


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