Imagine um sofrimento que j� dura 15 anos. Voc� est� em casa, quando de repente, um oficial de justi�a bate � sua porta, entregando-lhe uma intima��o para se apresentar � justi�a, por ilegal de arma, na regi�o de Santa Luzia, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte. Mas voc� mora em Passos, no sul do estado, e nunca saiu de l�. Voc� constitui advogado, prova que n�o � voc�. � absolvido. Mas o tempo passa e chega outra intima��o, de que praticou um roubo, tamb�m nas imedia��es de BH. O tempo passa. Dez anos depois, outra intima��o. E na �ltima quinta-feira (28/10), uma nova intima��o judicial, determinando que se apresente ao juiz criminal, pois sua pena que era no regime semiaberto, agora, passar� para o regime aberto.
Pois essa tem sido a rotina do marceneiro e empres�rio do ramo de m�veis, em Passos, Rog�rio Oliveira Silva, que h� 15 anos, teve o nome e dados clonados e falsificados, por um homem, que reside em Santa Luzia, e que j� praticou v�rios crimes, sempre usando o nome do empres�rio.
“E olha, que nesse tempo todo, o falsificador j� cumpriu duas penas, uma no pres�dio Jos� Maria Alkimin, e outra no Pres�dio Municipal de Santa Luzia, mas nem mesmo seu verdadeiro nome foi descoberto pela pol�cia. Imagine que enquanto esteve no pres�dio, usando o meu nome, sua fam�lia o visitou, devem ter registro de quem entrou e quem saiu. � f�cil descobrir de quem se trata, mas n�o. N�o demonstram o m�nimo interesse em descobrir o nome do criminoso”, conta o verdadeiro Rog�rio.
Tatiana, mulher de Rog�rio - o casal tem dois filhos, de 9 e 12 anos, ambos homens -, diz que a vida deles se tornou um verdadeiro inferno. “Imagina voc� estar em casa e � pol�cia ou � oficial de justi�a batendo � sua porta com intima��es criminais. N�s tivemos de contratar um advogado para nos defender, o dr. F�bio de Oliveira, que � ex-delegado. Ele foi a Belo Horizonte, nesta sexta-feira, para tentar conseguir algum progresso nessa situa��o, que � insustent�vel.”
O “verdadeiro” Rog�rio conta que a clonagem aconteceu em 2007, mas s� tomou conhecimento da clonagem em 2008, �poca em se casou com Tatiana. “Levei um susto. Fui a julgamento. Conseguimos provar que n�o era eu quem tinha cometido os crimes. Nunca sa� de Passos. Nessa �poca, pela confus�o, recebi at� uma pequena indeniza��o por parte do Estado. Achei que estava livre, mas n�o, os casos continuaram a acontecer.”
Inexplic�vel
De l� para c�, tornou-se rotina os oficiais de justi�a baterem � porta de Rog�rio e Tatiana para entregar intima��es. �s vezes, at� mesmo a pol�cia. A rotina � tanta, que eles j� conhecem os policiais pelo nome.
Na �poca do julgamento, Rog�rio teve de ser medicado. “Eu n�o conseguia dormir. Tinha de tomar rem�dio controlado para conseguir. Foram dois anos assim.”
Em 2017, o casal teve not�cia de que o “falso” Rog�rio estava preso na Penitenci�ria Jos� Maria Alkimin. Pensaram que seria o fim do mart�rio. Depois, tomaram conhecimento de que houvera a transfer�ncia de pres�dio, de Neves para o Pres�dio Municipal de Santa Luzia.
“Achamos que a confus�o acabaria, mas n�o. Eles n�o identificaram esse homem pelo nome verdadeiro. Continuou com o nome do meu marido. Houve, na �poca, uma determina��o do juiz, daqui de Passos, para que a Pol�cia Penal, a Pol�cia Civil e a justi�a, verificassem o hist�rico de crimes, colocando o nome certo do autor, mas isso n�o foi feito”, diz Tatiane.
O verdadeiro Rog�rio diz que reza todos os dias para que essa confus�o acabe e que ele possa, enfim, viver e dormir tranquilo, mas at� hoje, a confus�o n�o foi desfeita e quem sofre com tudo isso � sua fam�lia, que n�o v� a hora de tudo terminar.