A BH de 1971: esqui na Pampulha, olimp�ada e a chegada do Yakult
Belo Horizonte de 50 anos atr�s tinha corrida da carros ao redor do Mineir�o e recebia grande evento com artistas ilustres, como Roberto Carlos e Wilson Simonal
Em 71 havia os primeiros an�ncios da chegada do Yakult em BH (foto: Arte sobre fotos do Arquivo EM)
A hist�ria do t�tulo do Atl�tico na conquista do Brasileiro em 1971 todo atleticano sabe contar – e muitos rivais j� ouviram falar. Mas voc� sabe como era Belo Horizonte naquele ano? Cinco d�cadas atr�s, BH enfrentava um grave problema de buracos por v�rias ruas do Centro, assim como tentava fazer obras emergenciais de saneamento para os mais de 1,2 milh�o de habitantes da �poca.
Em 71, a capital mineira recebeu no Mineir�o um grande cl�ssico de futebol, decidido no par ou �mpar, apesar do grande n�mero de jogadores de fama internacional, e tinha como atra��es tur�sticas um tobog� no Parque Municipal e o pirulito da Pra�a Sete estava em outro bairro da cidade.
“BH foi planejada para ter 210 mil habitantes dentro de um s�culo”, dizia a manchete do Estado de Minas de 12 de dezembro de 1971, anivers�rio de 74 anos da cidade. Um planejamento que n�o deu muito certo, j� que v�rias pessoas do interior migraram para a capital num r�pido movimento. Hoje s�o 2,722 milh�es de pessoas circulando pela cidade, mais que o dobro da popula��o em 1970, de 1.235.001 habitantes.
“Dez anos depois, j� se aproxima de 1 milh�o e meio, num dos maiores crescimentos demogr�ficos do Brasil e do mundo. Nos �ltimos 20 anos, a popula��o de Belo Horizonte aumentou 223%, a maior taxa do Brasil”, destacava a reportagem de 1971.
Cisnes brancos e Yakult chegam a BH
Enquanto o Galo erguia a ta�a, Belo Horizonte se preparava para o Natal com luzes e �rvores luminosas pelas ruas e novos integrantes chegando ao zool�gico: leopardo, iaque, lhama e cisnes brancos.
Jornal anuncia novas atra��es no zool�gico de BH em 71 (foto: Arquivo EM)
E 1971 marcou ainda o lan�amento do leite fermentado Yakult, rec�m-chegado nos an�ncios, mas ainda n�o dispon�vel nas prateleiras, somente por entrega em domic�lio, “mediante pedido mensal”, conforme o fabricante.
As publicidades da �poca mostram que a fabricante estava empenhada em tentar esclarecer que o produto n�o era medicamento. “Yakult estar� com o povo mineiro a partir do dia 1 de janeiro. At� sua chegada, os nossos funcion�rios estar�o empenhados em explicar a todos o que � Yakult. Solicite-os. Yakult n�o ser� posto � venda nas casas comerciais. Ser� entregue a domic�lio mediante pedido mensal”, afirmava o an�ncio.
Em 71 havia os primeiros an�ncios da chegada do Yakult em BH (foto: Arquivo EM)
Numa cidade ainda em grande transforma��o, o Galo foi campe�o em um ano com muitas outras curiosidades.
BH, a capital ol�mpica
N�o s� o Atl�tico foi a sensa��o do esporte naquele ano. Em junho de 1971, BH sediou um evento que agitava a cidade: a Olimp�ada do Ex�rcito. A abertura da grande maratona teve a presen�a do ent�o presidente do Brasil durante a ditadura militar, general Em�lio M�dici.
Milhares de pessoas acompanharam partida de futebol no Mineir�o durante a Olimp�ada do Ex�rcito (foto: Arquivo Nacional)
Com o Mineir�o de portas abertas, milhares de pessoas assistiram ao jogo entre mineiros e cariocas, com grandes nomes de fama e carreira internacional em campo: Tost�o, Carlos Alberto (capit�o do Tri em 1970), Raul, Ti�o, Dirceu Lopes e Piazza.
A disputa ficou empatada, mas algu�m tinha de ser campe�o. “O desempate � decidido num pitoresco par ou �mpar. Na sorte, os cariocas venceram f�cil e levaram a ta�a”, narra um v�deo do Arquivo Nacional sobre a partida no Gigante da Pampulha.
Naquela olimp�ada, os militares de todo Brasil participaram ainda de provas de salto com vara, corrida, hipismo, gin�stica, t�nis, tiro ao alvo, v�lei, esgrima, jud� e at� vela, competi��o realizada na Lagoa da Pampulha.
Competi��es de automobilismo no entorno do Mineir�o na d�cada de 1970 (foto: Arquivo EM)
O entorno do Mineir�o naquela �poca tamb�m era palco de competi��es de automobilismo, que atraiam grande p�blico.
Roberto Carlos e Simonal
O evento trouxe outras atra��es para BH. No gin�sio do Minas T�nis Clube, o p�blico compareceu para assistir ao Programa do Chacrinha e acompanhar um show do cantor Roberto Carlos e de outros artistas famosos da cena da MPB.
Roberto Carlos cantou "Jesus Cristo, eu estou aqui" durante Olimp�adas do Ex�rcito em BH, em 1971 (foto: Arquivo Nacional)
O gin�sio tamb�m recebeu a apresenta��o dos vencedores da maratona num programa de televis�o da TV Globo, com direito ao show do cantor Wilson Simonal.
Al�m disso, a Olimp�ada tamb�m trouxe escolas de samba do Rio de Janeiro.
Simonal ficou respons�vel pelo show de encerramento, que ocorreu no Minas T�nis Clube (foto: Arquivo Nacional)
O “Hino das Olimp�adas do Ex�rcito”, composto por Miguel Gustavo, publicit�rio respons�vel pela m�sica “Pra frente, Brasil”, que embalou a campanha da Sele��o Brasileira de Futebol na Copa de 1970, foi interpretada por Clara Nunes. H� quem diga que ela s� participou da cerim�nia pois se sentiu pressionada pela gravadora depois de regravar “Apesar de voc�”, de Chico Buarque. A can��o tinha sido proibida de ser executada pelas r�dios brasileiras no governo de M�dici.
Inaugura��o do CEU da UFMG
O Centro Esportivo Universit�rio da UFMG, o CEU, foi inaugurado em mar�o de 1971, em uma parceria firmada entre o governador Israel Pinheiro da Silva e o reitor da UFMG, Professor Marcello de Vasconcelos Coelho.
Centro Esportivo Universit�rio da UFMG, na Pampulha, constru�do em 1971
(foto: Arquivo EM)
Anos antes, na d�cada de 1950, a UFMG cedeu ao governo uma �rea total de 300 mil metros quadrados, onde o est�dio Governador Magalh�es Pinto (o Mineir�o) foi erguido. O governo de Minas ficou, ent�o, respons�vel pela constru��o do Centro Esportivo Universit�rio.
Esqui aqu�tico na Pampulha
No mesmo dia em que o Atl�tico disputava a final com o Botafogo no Maracan�, em 19 de dezembro de 1971, BH sediava uma exibi��o de esqui aqu�tico na Lagoa da Pampulha.
Imagem de 1961 mostra que esqui aqu�tico na Lagoa da Pampulha era uma pr�tica de esporte e lazer aos fins de semana
(foto: Arquivo EM)
“Esquiadores mostram sua arte na Pampulha”, destacava o t�tulo de reportagem no jornal Estado de Minas. Foram mais de 30 esquiadores de BH e Lagoa Santa que usaram o dia n�o para competir, mas apenas exibir o esporte. “Ningu�m pode perder a primeira grande exibi��o de esqui aqu�tico em Belo Horizonte, dia 19, na Lagoa da Pampulha. Ser� um show de equil�brio e agilidade”, diz o texto.
Jornal Estado de Minas anunciava exibi��o de esqui aqu�tico na Lagoa da Pampulha (foto: Arquivo EM)
O tr�nsito de BH nos anos 1970
Quando criada a capital, apenas o trem de ferro ligava BH a outras cidades e s� muito depois as “jardineiras” come�aram a servir de transporte entre BH e cidades vizinhas. Mas na d�cada de 1970, o tr�nsito come�ou a ficar complicado.
Tr�nsito de BH nos anos 1970 j� provocava preocupa��es e transtorno nas ruas (foto: Arquivo EM)
Em 71, a cidade tinha cerca de 110 mil ve�culos em circula��o, uma m�dia de quase um carro para 10 habitantes, uma das maiores m�dias brasileiras da �poca. Para longas dist�ncias, a popula��o utilizava os 2 mil �nibus ou lota��es de mais de 100 empresas de transporte coletivo. E os n�meros s� aumentaram � medida que a popula��o cresceu. Cinquenta anos depois, BH tem atualmente 2.274.465 ve�culos cadastrados, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE).
T�neis e buracos na cidade
Devido aos problemas com o tr�fego expoente de autom�veis, foi naquela �poca em que se come�ou a estudar a implanta��o de metr�, que s� foi inaugurado em agosto de 1986. Al�m disso, a prefeitura, que enfrentava muitas obras e buracos na cidade, pensava em criar novas avenidas e incluir t�neis sob a Pra�a Sete e Raul Soares e tamb�m na Serra do Curral.
“Uma cidade onde s�o registrados mensalmente mais de 1.300 carros � uma cidade com problema de tr�nsito. Ainda mais quando sua planta foi feita para o tempo em que as carro�as rolavam mensalmente”, dizia reportagem do Estado de Minas em dezembro de 1971.
A rodovi�ria mais moderna da Am�rica Latina
O Aeroporto da Pampulha era um dos maiores e de maior movimento do Brasil e o terminal rodovi�rio era o mais moderno da am�rica latina, saindo diariamente 600 �nibus por dia. Mesmo assim, havia novos planos audaciosos.
Constru��o da rodovi�ria de Belo Horizonte no come�o dos anos 70 (foto: Arquivo EM)
“A Esta��o Rodovi�ria ter�, a partir de janeiro, tr�s novidades, que incluem um elevador para descida de cargas; sistema de rel�gios eletr�nicos e um servi�o de autofalantes moderno, com voz clara e m�sica para distrair os passageiros enquanto esperam a hora de viajar”, descrevia uma not�cia publicada no EM.
Uma semana antes do t�tulo do Galo, houve tamb�m o fechamento ao tr�fego de ve�culos das ruas Carij�s e Rio de Janeiro, nos quarteir�es da Pra�a Sete, que ainda n�o tinha o obelisco. A hist�ria do Pirulito da Pra�a Sete a gente j� contou em outra reportagem da s�rie Sabia N�o, Uai!.
Foi nessa �poca que os bancos da pra�a foram instalados, dando in�cio a uma nova forma de ocupa��o do local ainda hoje com maior circula��o di�ria de pessoas de BH. “Durante todo o dia, muita gente anda despreocupada pelo meio da rua, num trecho onde antes era preciso correr muito para n�o morrer atropelado”, relata um texto do extinto jornal Di�rio da Tarde.
Di�rio da Tarde registou quando o quarteir�o da Pra�a Sete foi bloqueado ao tr�fego de ve�culos, em 71 (foto: Arquivo EM)
Al�m disso, tamb�m foi proibido o estacionamento ao longo da Avenida Afonso Pena, entre a Rua Caranda� e a Pra�a Rio Branco, como � at� hoje em dias �teis.
Os cinemas de rua de BH
Belo Horizonte agrada os amantes da m�sica, do teatro, da dan�a e da literatura h� muitos anos. Em 1971, as pessoas j� iam aos teatros que funcionam at� hoje, como o Pal�cio das Artes, Mar�lia e Francisco Nunes.
Cinemas de rua, como o Path�, foram a sensa��o cultural de Belo Horizonte por d�cadas (foto: Arquivo EM)
E se engana quem pensa que filme s� se v� dentro dos shoppings. Naquela �poca, quando n�o existia esses grandes centros comerciais, ir ao cinema era “uma febre”. A capital contava com 35 cinemas catalogados, al�m de outros menores em bairros e vilas mais distantes.
A pol�tica da �poca
Em 1971, o Brasil estava em seu terceiro per�odo da ditadura militar. Naquele ano, Minas Gerais teve dois governadores: Israel Pinheiro da Silva (31/01/1966 at� 15/03/1971) e Rondon Pacheco (15/03/1971 at� 15/03/1975).
O prefeito de Belo Horizonte era Oswaldo Pieruccetti. Ele foi nomeado primeiramente durante o governo de Magalh�es Pinto, para o per�odo de 1965 a 1967. Foi novamente prefeito da capital mineira no per�odo de 1971 a 1975, designado pelo governador Rondon Pacheco.
D�ficit na educa��o
O acesso � educa��o n�o era t�o simples como hoje em dia. Em 1971 havia um d�ficit de 66 mil crian�as, de 7 a 14 anos, que n�o tinham conseguido vagas nas escolas, por isso a prefeitura implantou a reforma nacional do ensino, a��o que resultou em mais de 20 escolas constru�das.
No ensino superior, existiam 42 unidades, distribu�das entre quatro universidades: Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Uni�o Colegial de Minas Gerais (UCMG), Funda��o de Educa��o para o Trabalho de Minas Gerais (Utramig) e Universidade Mineira de Arte. Nelas havia aproximadamente 15 mil estudantes. Hoje, somente a UFMG tem mais de 40 mil alunos e 3 mil docentes em 91 cursos de gradua��o e 90 programas de p�s-gradua��o.
Jornal anunciava o vestibular, realizado nas arquibancadas do Mineir�o, marcado para janeiro de 1972 (foto: Arquivo EM)
Ao estudar para a prova, n�o existia a facilidade de pesquisar o tema no Google. O estudante n�o tinha outra alternativa al�m de visitar alguma das 63 bibliotecas espalhadas pela cidade. O vestibular era feito no Mineir�o: “10.861 rapazes e 6.968 ‘m��as’ no Vestibular da UFMG”, informava reportagem sobre o exame que lotaria as arquibancadas do est�dio em 9 de janeiro.
Trag�dia da Gameleira
O ano de 1971 foi palco de uma trag�dia que chocou o Brasil: 69 trabalhadores morreram na queda de uma estrutura de 10 mil toneladas que estava sendo constru�da no Expominas, na Gameleira, Regi�o Oeste de BH.
Na semana em que o Galo se consagrava campe�o brasileiro, o caso ainda estava sendo apurado pelas autoridades.
Sabia N�o, Uai!
O Sabia N�o, Uai! mostra de um jeito descontra�do hist�rias e curiosidades relacionadas � cultura mineira. A produ��o e apresenta��o s�o feitas pela rep�rter D�borah Lima, que conta com o apoio do vasto material dispon�vel no arquivo de imagens do Estado de Minas, que inclui ainda as publica��es dos extintos Di�rio da Tarde e revista O Cruzeiro.
O conte�do oferece um olhar �nico e com propriedade sobre a hist�ria de Belo Horizonte e de Minas Gerais desde a d�cada de 1920.
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