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Estado de Minas BOMBA-REL�GIO

Risco de rompimento em mina da AngloGold leva medo a Santa B�rbara

Eros�es profundas e progressivas em pilha de est�ril que estaria sendo usada para dep�sito de rejeitos amea�am ruptura, vidas e meio ambiente


04/02/2022 07:59 - atualizado 04/02/2022 18:51
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Erosões na Pilha do Sapê de 80 metros, na Mina Córrego do Sítio, em Santa Bárbara
Pilha do Sap� exibe eros�es em seus taludes e base trazendo risco de desabamento e cat�strofe (foto: Mateus Parreiras/EM/D.A.Press)
Santa B�rbara - As fendas profundas e vo�orocas que se abriram com as chuvas engolem a base e os taludes de uma montanha de rejeitos da minera��o de ouro. Se os mais de 80 metros de detritos da chamada Pilha do Sap� vierem abaixo, uma trag�dia pode ser provocada como a de Brumadinho e at� mesmo cortar o abastecimento de mais de 25 mil pessoas.

 

Por isso, os funcion�rios da Mina C�rrego do S�tio (CDS), da AngloGold Ashanti, em Santa B�rbara, foram evacuados �s pressas, segundo afirmam, na �ltima semana de janeiro. A empresa chegou a minimizar, comunicando que se tratava de medida preventiva.

"O processo de eros�o dessa estrutura � evidente e preocupante, precisa receber interven��o urgente. Refor�a isso a retirada dos trabalhadores pela pr�pria empresa", afirma o professor Carlos Barreira Martinez, do Instituto de Engenharia Mec�nica (IEM) da Universidade Federal de Itajub� (Unifei), ap�s ver as imagens exclusivas da reportagem do Estado de Minas mostrando os rombos na estrutura. A reportagem aguarda posicionamento da empresa.

Veja infogr�fico com detalhes da situa��o da Pilha do Sap�, em Santa B�rbara 


O Governo de Minas Gerais, por meio do Gabinete Militar do Governador (GMG)/Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec), informou que, "ao tomar conhecimento sobre poss�vel instabilidade em uma pilha de rejeitos de minera��o do complexo da Mina C�rrego do S�tio, localizada no munic�pio de Santa B�rbara-MG e explorada pela AngloGold Ashanti, solicitou, de imediato, informa��es � mineradora". 

Detalhe das drenagens soterradas e da base da pilha erodida da Pilha do Sapê
Detalhe das drenagens soterradas e da base da pilha erodida (foto: Mateus Parreiras/EM/D.A.Press)
Segundo a Cedec-MG, a Anglo Gold informou que identificou processos erosivos em uma pilha de rejeitos, mas que estes est�o controlados, n�o havendo risco para a estrutura, e que o material est� classificado como n�o perigoso.

"A empresa informou que n�o houve extravasamento de material ou impacto ao meio ambiente e �s comunidades pr�ximas. A empresa destacou que j� faz interven��es preventivas. O Governo de Minas, por meio de seus �rg�os fiscalizadores, est� atento �s opera��es da mineradora em pauta e acompanhando a situa��o", aponta o �rg�o de estado.

 

�s moscas


No complexo CDS1 da por��o oeste da mineradora n�o h� mais nem sinal dos trabalhadores de macac�o laranja da empresa. Tudo que ficava abaixo da Pilha de Sap� foi redirecionado, evacuado e transferido para a planta CDS2, 7,5 quil�metros a leste.

Complexo minerário de Córrego do Sítio, da AngloGold em Santa Bárbara
Complexo miner�rio de C�rrego do S�tio, da AngloGold em Santa B�rbara (foto: Mateus Parreiras/EM/D.A.Press)
Enquanto especialistas afirmam que obras emergenciais de conten��o da pilha deveriam estar em andamento, o cen�rio constatado pela reportagem do EM na �ltima semana � de abandono. N�o h� movimenta��o de m�quinas na pilha, e estruturas funcionais esvaziadas chegam a inundar com as chuvas ainda constantes.

A proximidade dos funcion�rios com o perigo se mostrava semelhante ao que se tinha na Mina C�rrego do Feij�o, em Brumadinho, onde 270 pessoas morreram, em 2019.

Portaria da Mina Córrego do Sítio (CDS), da AngloGold Ashanti, em Santa Bárbara
Portaria, refeit�rio, �reas administrativas e operacionais sob a pilha foram evacuadas (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A.Press)
� sombra da pilha minada pela �gua est�o �reas de trabalho que eram ocupadas e intensas, como o escrit�rio central, a 260 metros da estrutura, os alojamentos e refeit�rios (290 metros), os tanques onde trabalhadores afirmam estar estocadas misturas com cianeto que � t�xico para animais e o ser humano (322 metros) e a portaria do complexo (600 metros).

Mapa
(foto: Soraia Piva/EM/D.A Press)

 

Risco de desastre 


Mas ambientalistas alertam que a devasta��o que um desmoronamento da Pilha do Sap� pode trazer ainda � enorme, n�o sendo sanada pela evacua��o dos funcion�rios da AngloGold Ashanti.

“A estrada que leva a Itabirito e a Santa B�rbara, passando pela Mina C�rrego do S�tio, n�o recebeu seguran�a, n�o tem equipes prontas para fechar o tr�fego nem a popula��o pr�xima foi alertada”, destaca o dirigente estadual da Regi�o do Cara�a do Movimento Pela Soberania Popular na Minera��o (MAM), Luiz Paulo Siqueira.

Uma onda de rejeitos precisaria percorrer apenas 525 metros a partir da pilha para chegar ao Rio Concei��o. A reportagem testemunhou que um volume consider�vel do material do empilhamento j� est� escoando pelas eros�es para o manancial.

De t�o l�mpido, o corpo h�drico � considerado de classe 1 naquele segmento, ou seja, segundo o Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), as �guas est�o aptas ao abastecimento humano com tratamento simplificado, pesca, nata��o, mergulho, irriga��o de hortali�as e frutas consumidas cruas.

Uma vez que rejeitos despejados de suas conten��es escorrem para dentro de �guas o perigo se amplia, segundo observam especialistas e ambientalistas. “Como ocorreu em em Mariana, quando a Barragem do Fund�o se rompeu e o rejeito entrou na Barragem Santar�m, de �gua, ganhando mais for�a e velocidade”, compara Siqueira.

Material escoa da Pilha do Sapê e chega ao Rio Conceição
Material que escoa da pilha chega ao Rio Concei��o e pode afetar a qualidade das �guas e abastecimento em caso de desabamento (foto: Mateus Parreiras/EM/D.A.Press)
Encaixada na calha do Rio Concei��o, a devasta��o dos rejeitos da minera��o de ouro e seus poss�veis contaminantes teriam um caminho de 10 quil�metros para chegar at� a estrada que leva ao Santu�rio do Cara�a.

S�o apenas 500 metros para saltar do Rio Concei��o e chegar at� o Ribeir�o do Cara�a, em v�rios pontos mais baixo que o manancial carregado de rejeitos. Com isso, a comunidade, os ambientalistas e os especialistas temem que ocorra uma contamina��o do Ribeir�o do Cara�a, que � a principal fonte de abastecimento do munic�pio de Santa B�rbara, chegando �s torneiras de cerca de 25 mil pessoas.

“A devasta��o no caminho de uma capta��o de �gua poderia ser uma trag�dia atr�s da outra e temos visto isso acontecer com certa frequ�ncia no estado”, alerta Carlos Barreira Martinez, que � doutor em Planejamento de Sistemas Energ�ticos pela Universidade Estadual de Campinas.

A onda de rejeitos ainda traria impactos como inunda��es aos lares de 800 pessoas do distrito de Brumal, que fica �s margens do Rio Concei��o, interropendo acessos ou trazendo impactos �s atividades de cerca de 2 mil pessoas dessa comunidade.

J� no Rio Santa B�rbara, o destino dos res�duos que podem ser altamente t�xicos � a Barragem do Peti, que pode conter o volume, mas teria impactos na atividade pesqueira e de lazer, sendo que ap�s a hidrel�trica da Cemig, o manancial desagua no Rio Piracicaba e por fim no Rio Doce, em Ipatinga.


Empresa diz que situa��o est� sob controle 

 

A AngloGold Ashanti afirma que os danos na pilha de deposi��o de rejeito a seco ocorreu devido a impactos das fortes chuvas do in�cio de m�s de janeiro e que realizando uma s�rie de obras em estruturas internas da unidade, como vias internas e acessos.

A empresa admite os desgastes, mas n�o a gravidade observada pelos especialistas ouvidos pelo EM. "Esta pilha sofreu um processo de eros�o, que est� controlado e n�o apresenta risco iminente".

Os impactos aos recursos h�dricos devido ao carreamento de detritos dessas eros�es, no entanto foram negados, mesmo ap�s as imagens mostradas pela reportagem. "A eros�o permaneceu totalmente na �rea da empresa sem impactos aos cursos h�dricos da regi�o e �s comunidades pr�ximas".

A AngloGold Ashanti contraria as informa��es repassadas por funcion�rios de que h� t�xicos na pilha. "A estrutura cont�m material classificado como n�o-perigoso, de acordo com a norma t�cnica brasileira. O local, inclusive, recebeu nesta semana vistoria do Governo do Estado, por meio do �rg�o ambiental".

Ainda que a reportagem tamb�m tenha mostrado a planta sob a pilha e a pr�pria pilha vazios, a empresa afirma que h� obras ocorrendo. "Desde o dia 10 de janeiro, t�cnicos e engenheiros da companhia atuam na �rea com maquin�rio para as obras de reparo. Tamb�m de forma preventiva, para que as obras sejam feitas com o m�ximo de seguran�a e agilidade, neste per�odo, algumas estruturas e empregados foram deslocados temporariamente j� h� mais de 10 dias".

A AngloGold Ashanti tamb�m refor�ou que a pilha n�o tem rela��o com suas barragens, que continuam est�veis, segundo laudos. Em caso de d�vidas, a empresa atende a comunidade pelo canal de relacionamento: 0800 72 71 500.

Perigo em Santa B�rbara

Eros�es em estrutura com rejeitos da Anglogold amea�am comunidades e ambiente

Mina C�rrego do S�tio

  • Munic�pio
    Santa B�rbara

  • Regi�o
    Central de MG

  • Dist�ncia de BH
    108km

  • Bacia Hidrogr�fica
    Rio Doce

  • Produ��o
    Ouro

  • Implanta��o
    1987, composta por duas minas subterr�neas (Minas I e II), uma mina a c�u aberto (Open Pit) e duas plantas metal�rgicas

  • Barragens de rejeitos
    M�todos linha de centro (CDS1) e jusante (CDS2)

  • Situa��o
    Laudos de estabilidade, desativadas e sendo desmanchadas

  • Disposi��o de rejeitos
    A seco
Fonte: AngloGold Ashanti

Estrutura que amea�a a seguran�a da comunidade, trabalhadores e meio ambiente

Pilha de Sap�

  • Altura
    83 metros

  • �rea
    133 mil m2 (dobro da �rea que cont�m os edif�cios Minas e Gerais da Cidade Administrativa de MG)

  • Composi��o
    Sedimentos est�reis (inserv�veis) e rejeitos (empresa afirma serem inertes, trabalhadores denunciam t�xicos presentes como cianeto e ars�nio)

Problemas identificados

  • Eros�es grandes e em progresso nos taludes e na base
  • Aus�ncia de conten��es
  • Material sendo carreado para o Rio Concei��o
  • N�o foram vistos trabalhos de reparos
  • Vias de acesso livres em caso de emerg�ncia
  • Comunidades reclamam de falta de informa��es e transpar�ncia

Dist�ncias da estrutura

  • 260 metros
    Escrit�rio Central da Mina (evacuado)

  • 290 metros
    Alojamentos e refeit�rios (evacuados)

  • 322 metros
    Tanques (trabalhadores afirmam estar estocado ali misturas com cianeto)

  • 525 metros
    Rio Concei��o

  • 652 metros
    Estrada Brumal,  Itabirito (Parque nacional da Serra do Gandarela)

Dist�ncias dos rejeitos pelos vales dos rios

  • Rio Santa B�rbara
    7,3km

  • Estrada para o Santu�rio do Cara�a e capta��o de �gua de Santa B�rbara
    10km

  • Brumal (Santa B�rbara)
    11,2 km

  • Barragem do Peti (Cemig)
    26,5km

  • Usina Hidrel�trica do Peti
    41km

  • Rio Piracicaba (Nova Era)
    95km

  • Rio Doce (Ipatinga)
    211km

Fontes: MAM, AngloGold Ashanti, Copasa, Cemig, ANA, Igam e reportagem


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