
Roni Peixoto entrou para o tr�fico no in�cio da d�cada de 1990. Tendo como base de atua��o a Pedreira Prado Lopes, Regi�o Noroeste de BH, ele se notabilizou por ter sido um dos pioneiros na venda do crack na capital. A droga � um subproduto da coca�na com um efeito mais intenso, r�pido e viciante.
Para o soci�logo e especialista em seguran�a p�blica Luis Fl�vio Sapori, a entrada do crack alterou para sempre a din�mica do tr�fico por ser um produto com pre�o baixo e vendido em larga escala. O fato de ser altamente viciante tamb�m gerou complica��es do ponto de vista da sa�de p�blica e da seguran�a dos centros urbanos a partir do surgimento das ‘cracol�ndias’, onde dependentes qu�micos se re�nem para o consumo do entorpecente.
“A implementa��o do crack aumentou o n�vel de homic�dios na cidade, conforme estudo que realizei. Houve uma escalada crescente de homic�dio entre jovens, muito em raz�o da disputa territorial e tamb�m no aspecto do acerto de contas por d�vidas entre usu�rios e traficantes, especialmente na virada dos anos 2000”, aponta Sapori.
Roni Peixoto n�o teve muito tempo para ver o impacto de sua atividade em liberdade. Condenado pela primeira vez em 1995 por tr�fico de drogas, viu sua pena ser aumentada sucessivas vezes ap�s fugas do c�rcere e novas condena��es a crimes como homic�dio, posse e porte ilegal de arma de fogo e forma��o de quadrilha.
Em 2011, o traficante conhecido como ‘Gordo’ recebeu da Justi�a a possibilidade de cumprir sua pena, que j� chegava a 35 anos de reclus�o, no regime semiaberto. Na ocasi�o, ele desapareceu e s� foi encontrado um ano depois, vivendo em Goi�nia-GO. � �poca, segundo levantamentos da Pol�cia Civil, ele chegou a faturar R$ 50 mil por dia com a venda de drogas.
Desde 2019, ap�s 24 anos de reclus�o, Peixoto estava em regime aberto domiciliar. A maior parte de sua carreira como um dos chefes do tr�fico em Minas, portanto, se deu dentro de pres�dios.
“N�o tem novidade nenhuma nisso, � um fen�meno nacional. Existe uma conex�o muito estreita entre o crime das ruas e o crime dentro das pris�es. O uso de advogados, parentes e aparelhos celulares estabelece essas vincula��es”, comenta o especialista Luis Fl�vio Sapori.
Ap�s a �ltima libera��o, Roni Peixoto afirmou ter se afastado do crime e se convertido � uma denomina��o evang�lica em Santa Luzia. Em 2020, em entrevista concedida � R�dio Itatiaia, o ex-traficante disse que nunca teve o prazer de gastar o dinheiro acumulado com as drogas por ter vivido a maior parte de sua atividade preso e negou ter sequer conhecido Fernandinho Beira-Mar. Na ocasi�o ele falou sobre poss�veis repres�lias por seu envolvimento com o tr�fico no passado.
“Eu n�o temo pela minha vida porque hoje eu sirvo a um Deus vivo e quem tem inimigo � Satan�s, Deus n�o tem inimigo. Eu n�o tenho medo. Eu posso andar na favela? Posso sim, mas n�o conv�m, n�o tem necessidade”, disse Peixoto durante a entrevista.
O caso da morte de Roni ser� investigado pela Pol�cia Civil, que, at� a �ltima atualiza��o desta mat�ria, n�o revelou detalhes sobre o inqu�rito nem se trabalha com algum suspeito. Ele foi morto a tiros dentro de um carro quando sa�a de casa. A PM trabalha com a hip�tese de que Peixoto trabalhava como motorista de aplicativo e estava saindo para uma corrida quando foi abordado pelos assassinos.
“Tudo leva a crer que ele realmente abandonou o crime depois de sair da pris�o, os ind�cios s�o nesse sentido. Mas ele era o patr�o do neg�cio, o grande investidor do produto. Como patr�o ele acumulou muitas m�goas, rancores, �dio, inimigos. Muitas dessas inimizades persistem no tempo. A vida no tr�fico � assim”, avalia Luis Fl�vio Sapori ao considerar que a morte de Roni possa estar ligada � sua atividade pregressa.
*Estagi�rio sob supervis�o da subeditora Jociane Morais
