Acidentes no Anel Rodovi�rio: �rea de escape � aposta para reduzir riscos

O motorista que costuma passar diariamente pelo Anel Rodovi�rio, em Belo Horizonte, j� se acostumou a presenciar acidentes quase di�rios na via. O mais recente foi registrado ontem, em pleno hor�rio de pico, por volta das 17h30, quando o motorista de um caminh�o perdeu o freio do ve�culo ao passar pela temida descida do Bairro Bet�nia. Em seguida, o caminh�o atingiu um micro-�nibus no sentido Vit�ria. Com o impacto, o �nibus foi arremessado para a pista do lado contr�rio.

Dessa vez, n�o houve v�timas graves, mas o trecho, que ficou interditado no sentido Esp�rito Santo, acostumou-se a ser palco de trag�dias com mortes, como a ocorrida dia 10 �ltimo, quando duas pessoas perderam a vida ap�s uma batida envolvendo quatro caminh�es e cinco carros.

Levantamento do Comando de Policiamento Rodovi�rio feito a pedido do Estado de Minas mostra que foram registrados 290 acidentes no local entre 1º de janeiro e 21 de junho deste ano. O dado aponta para m�dia di�ria de quase dois registros, praticamente 12 desastres a cada semana. O total � at� ligeiramente menor do que o registrado no mesmo per�odo de 2021, quando ocorreram 295, mas a quantidade de mortes subiu 30%, passando de 10 para 13.

 

Isso significa tamb�m que cresceu a propor��o de �bitos em rela��o ao total de ocorr�ncias, como um indicativo de aumento na viol�ncia das colis�es. Se, em 2021, a cada 29,5 acidentes ocorreu uma morte, em m�dia, neste ano, uma pessoa perdeu a vida a cada 22,3 desastres. A tend�ncia de alta se mant�m no comparativo com 2020, quando a taxa foi de 23,9 acidentes para cada caso fatal.

 

Para tentar diminuir essa realidade, a Prefeitura de Belo Horizonte assumiu uma interven��o naquele que � considerado o trecho mais perigoso da rodovia que corta a capital: a chamada descida do Bairro Bet�nia, na Regi�o Oeste, onde s�o frequentes os engavetamentos envolvendo caminh�es sem controle e as mortes causadas por eles.

Nesse percurso est� sendo constru�da uma �rea de escape no Km 541, sentido Vit�ria, que funcionar� como um dispositivo de seguran�a adotado em descidas longas, com o objetivo de proporcionar uma pista lateral onde ve�culos sem freio ou descontrolados podem desacelerar, evitando desastres. A estrutura em concreto � semelhante a uma piscina, com cerca de 100 metros de comprimento e v�rias camadas de brita e esperas de cer�mica. (Veja arte.)

 

 

O professor Jos� Elievam Bessa J�nior, do Departamento de Engenharia de Transportes e Geotecnia da UFMG, explica que, em caso de perda da capacidade de frenagem, o ve�culo pode tombar, principalmente em curvas. “Se os freios esquentam muito, o metal presente pode at� mudar de estado (passando de s�lido a amolecido) e a efici�ncia do sistema fica comprometida. Assim, se o motorista vem descendo um trecho longo e �ngreme, com velocidade alta e apertando os freios o tempo todo, pode acontecer de perder o controle do ve�culo.”

 

Nessas condi��es, segundo o professor, j� n�o h� como o motorista reduzir a velocidade. “O pr�prio peso do caminh�o na descida vai empurrar o ve�culo pra frente, a menos que alguma coisa o fa�a desacelerar.” A situa��o exige per�cia e prud�ncia do condutor, al�m de certo conhecimento das caracter�sticas do local. “� recomend�vel que, na descida de um trecho longo e �ngreme, sobretudo se o caminh�o estiver pesado, o ve�culo esteja engrenado com uma marcha mais baixa, fazendo com que o pr�prio motor tire um pouco da sobrecarga dos freios”, explica o especialista.

 

A �rea de escape ajuda quando a situa��o sai do controle. “Ela, geralmente, � uma rampa subida, porque tem uma componente do peso veicular jogando o ve�culo para tr�s, o que ajuda a desaceler�-lo. Mas, o que reduz de fato a velocidade � a caixa com material granular montada para que, quando o caminh�o entre nessa �rea, haja um atrito muito grande. Assim, o ve�culo para muito rapidamente.”

 

Segundo ele, o local da �rea de escape � calculado, geralmente, antes de uma curva. “Ocorre em um ponto cr�tico em que o motorista atinge uma velocidade tal que pode haver um tombamento ou escorregamento.” O professor explica que h� locais em que o sistema j� opera com �xito h� mais de 10 anos, como na BR-376, na Serra do Mar, no Paran�.

 

Jos� Elievam explica ainda o motivo de tantos acidentes acontecerem no trecho do Anel Rodovi�rio no Bairro Bet�nia, em que a �rea de escape est� sendo constru�da. De acordo com ele, a press�o de tr�fego no local � grande, tanto por parte de ve�culos leves quanto dos pesados.

 

“O Anel Rodovi�rio, hoje, deveria ser tratado como a via urbanizada que �, e n�o como uma via expressa (que indica altas velocidades). Mesmo assim, se as velocidades m�ximas regulamentadas nas pistas fossem obedecidas, poderia haver redu��o do n�mero de acidentes”, avalia.

Ele ressalta que os radares eletr�nicos na via s�o um paliativo, porque medem a velocidade de forma pontual, o que n�o � freio para a imprud�ncia e o desrespeito � sinaliza��o.

“H� tamb�m uma grande quantidade de gargalos no trecho, que causam diminui��o de capacidade e, consequentemente, pontos cr�ticos com uma grande quantidade de troca de faixas. Associado a isso, h� um relevo com rampas longas e �ngremes em alguns pontos, o que pode propiciar a perda de freios por parte dos caminh�es (o que n�o quer dizer que os ve�culos leves tamb�m n�o possam provocar acidentes, mas por outras raz�es).” A regi�o da rodovia no Bairro Bet�nia, onde o acidente de ontem foi registrado, une todos esses fatores de risco.

 

Para o professor, as a��es para reduzir a gravidade dos acidentes devem continuar, “como o aumento e a tecnologia da fiscaliza��o, a redu��o da velocidade regulamentar e a implementa��o de dispositivos como a �rea de escape, passarelas etc.”.

A Prefeitura de BH sustenta, em nota, que a �rea de escape no Anel Rodovi�rio deve ficar pronta no fim do m�s, embora destaque que a rodovia � �rea de atua��o do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).

“A prefeitura tentou nos �ltimos anos trazer para o munic�pio a gest�o da �rea, mas n�o obteve �xito. Em um esfor�o de gest�o, atualmente a PBH est� investindo na constru��o da �rea de escape. O projeto contempla a constru��o de uma travessia subterr�nea sob o Anel Rodovi�rio (drenagem profunda) e tamb�m a execu��o de descida d'�gua em degraus (drenagem superficial), para direcionamento adequado das �guas pluviais, al�m da estrutura de concreto (com argila expandida), dispositivo de seguran�a que efetivamente reduz a velocidade dos ve�culos.”

 

As obras come�aram em outubro de 2021 e, ap�s interrup��o por causa do per�odo chuvoso, cerca de 65% dos servi�os est�o prontos, de acordo com a prefeitura. Faltam a pavimenta��o, acabamento em parte das estruturas de concreto, servi�os de pintura, ilumina��o e sinaliza��o, bem como a drenagem. Segundo o munic�pio, essa etapa est� sendo executada dentro do or�amento inicial previsto, de aproximadamente R$ 3,5 milh�es. 

» 1°/1 – Um motorista de �nibus de 58 anos morreu ap�s ser atropelado por um carro, �s 7h15h. O acidente aconteceu no Km 463. O �nibus fretado havia sa�do de Bras�lia com destino a Guarapari, no Esp�rito Santo, e parou em Belo Horizonte para a troca de condutor. O motorista aguardava a chegada de um carro de aplicativo, quando um ve�culo desgovernado, que estava na pista principal do Anel no sentido Vit�ria, atravessou o canteiro, passou para a marginal e o atropelou.

» 5/1 – A v�tima foi o motorista de um micro-�nibus suplementar que morreu ap�s o ve�culo capotar no Km 464, pr�ximo ao Viaduto S�o Francisco, na Regi�o Noroeste de Belo Horizonte. O acidente aconteceu por volta das 20h30. Segundo o Corpo de Bombeiros, o ve�culo trafegava no sentido Vit�ria quando colidiu com a mureta central e tombou. O motorista foi arremessado para fora do micro-�nibus.

» 23/1 – Era madrugada quando um jovem de 19 anos morreu ap�s capotar o carro que conduzia, na altura do Km 534, sentido Vit�ria, no Bairro Santa Maria. A suspeita � de que ele estivesse em alta velocidade.

» 25/2 – Um motociclista de 31 anos perdeu o controle do ve�culo na altura do Km 458. O condutor caiu e foi atingido por uma carreta. Morreu em seguida.

» 9/3 – Uma adolescente que estava na garupa de uma motocicleta morreu em acidente no Km 533, �s 6h. O condutor, de 21 anos, foi socorrido pelo Servi�o de Atendimento M�vel de Urg�ncia (Samu).

» 26/3 – Uma mulher de 40 anos foi v�tima de atropelamento, �s 4h40, no Km 464, na altura do Bairro S�o Francisco, na regi�o da Pampulha. Segundo a Pol�cia Militar Rodovi�ria, ap�s o acidente, o motorista do ve�culo fugiu do local.

» 1°/4 – Uma morte registrada ap�s acidente ocorrido �s 21h45 no Km 472.

» 11/4 – Uma morte registrada ap�s acidente ocorrido �s 18h20 no Km 459.

» 7/5 – Uma morte registrada ap�s acidente ocorrido �s 13h30 no Km 469. A v�tima tinha menos de 24 anos.

» 8/6 – Um carro e uma motocicleta bateram no sentido Rio de Janeiro, no Km 537, na altura do Bairro Bet�nia, na Regi�o Oeste de Belo Horizonte. Em seguida, o piloto e o garupa da moto foram arrastados por um caminh�o, que n�o conseguiu desviar. Segundo a Pol�cia Militar Rodovi�ria (PMRv), o motorista do caminh�o contou que n�o viu o acidente, somente ouviu um barulho estranho e parou, quando viu que tinha atingido as v�timas.

» 10/6 – Dois homens morreram em um acidente envolvendo uma carreta, um caminh�o, um reboque e cinco carros, na altura do Km 538, tamb�m pr�ximo ao Bairro Bet�nia. Douglas Ferreira de Castilho, de 52 anos, conhecido como “Tuca”, era presidente da quadrilha de festa junina P� Rachado. Ele estava indo montar a estrutura para um evento quando se envolveu no acidente. A segunda v�tima era o publicit�rio Paulo Silva, de 61, propriet�rio da Dom�nio P�blico Comunica��o. Um caminh�o de cerveja perdeu o freio ao avistar um acidente e atingiu outros ve�culos.