Movimento no Centro de Sa�de Oswaldo Cruz: at� o momento, somente 34,33% das crian�as esperadas foram vacinadas (foto: Fotos: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press)
Menos de 30% do total de 1 milh�o de crian�as aguardadas para se vacinarem contra a poliomielite em Minas Gerais recebeu o imunizante. Quase um m�s ap�s o in�cio da campanha de vacina��o contra a doen�a, pouco mais de 350 mil crian�as foram imunizadas, o que representa 34,33% do p�blico-alvo, conforme dados da Secretaria de Estado de Sa�de de Minas Gerais (SES-MG). Sem a ades�o m�nima, esperada em 95%, o estado entra em uma posi��o vulner�vel. Apesar de a iniciativa seguir at� 9 de setembro, uma das grandes preocupa��es de especialistas � o retorno da do- en�a, erradicada h� quase 30 anos no Brasil, especialmente porque no in�cio do ano a cobertura vacinal n�o atingiu nem 80%. A p�lio � uma doen�a grave, que pode levar � paralisia de membros e � morte.
Em Belo Horizonte, esse percentual � ainda menor. At� o momento, a cobertura vacinal est� em 20,67% do p�blico-alvo, estimado em 104 mil crian�as. Segundo a Secretaria Municipal de Sa�de (SMS), j� foram vacinadas mais de 21 mil crian�as, com idades entre 1 a 4 anos. No fim de fevereiro deste ano, o Estado de Minas mostrou que no per�odo de pandemia da COVID-19 a cobertura vacinal contra outras doen�as caiu. At� ent�o, Minas Gerais havia registrado cobertura vacinal contra a poliomielite de 73,7% para menores de um ano, de 66,38% para crian�as de 15 meses, e de 59,67% para crian�as com 4 anos.
A rotina nos postos de sa�de escancara a baixa ades�o � vacina. Na manh� de ontem (29/8), a reportagem do Estado de Minas percorreu centros de sa�de da capital e constatou o movimento fraco. A enfermeira Renata Ant�nia Silva Carvalho, de 35 anos, que levou a filha Maria Manuela para vacinar no Centro de Sa�de Oswaldo Cruz, no Barro Preto, Regi�o Centro-Sul de BH, diz que at� estranhou ao ver o unidade praticamente vazia. “Esperava ver outros pais, mas, pelo menos no hor�rio em que vim, n�o vi outras pessoas procurando pela vacina. � o �nico meio que a gente tem de preven��o. Como m�e e profissional da sa�de, vejo uma grande import�ncia na vacina��o, principalmente pelo risco de voltar uma doen�a que j� foi erradicada e oferece grande risco para a vida das nossas crian�as”, relata.
Maria Manuela completou 7 meses e j� estava na hora de tomar mais uma dose da vacina. “Ela s� n�o tomou antes porque pegou uma gripe e o m�dico recomendou esperar. Assim que ele a liberou, j� a trouxemos para vacinar.” O esquema vacinal contra a poliomielite inclui as tr�s primeiras doses aos 2, 4 e 6 meses de idade, por inje��o. As famosas gotinhas (vacina oral bivalente) fazem parte da caderneta de refor�o da prote��o, administrada quando a crian�a completa 1 ano e 3 meses (15 meses) e, depois, aos 4 anos. Tranquila, a pequena Maria Manuela n�o demonstrou medo em tomar a vacina. “Tentamos levar a vacina��o com mais tranquilidade e n�o refor�ar associa��es negativas como ‘se n�o tomar banho, vai tomar inje��o’, como era muito comum na nossa inf�ncia”, diz.
Renata levou a filha Maria Manuela para tomar o imunizante e frisou: %u201CA p�lio oferece grande risco para a vida das nossas crian�as%u201D
ALERTA
A doen�a, que afeta especialmente crian�as de at� 5 anos, est� erradicada h� quase tr�s d�cadas no Brasil. Hoje, as imagens de crian�as em cadeiras de rodas ou com deformidades no corpo, uma das consequ�ncias da poliomielite, parecem apenas um fantasma do passado, mas, segundo especialistas, a baixa cobertura vacinal reacende o sinal de alerta. “A doen�a existe, s� n�o est� pr�xima de n�s agora. J� foi registrado um caso nos Estados Unidos. Ela vai voltar a aparecer aqui tamb�m se a gente n�o vacinar. � uma doen�a realmente muito grave, que continua nos assombrando”, afirma o infectologista Alexandre Sampaio, professor da Faculdade Santa Casa BH.
O �ltimo ano em que a cobertura no pa�s atingiu a meta indicada para o controle da doen�a (95%) foi em 2015. De l� pra c�, a porcentagem de crian�as vacinadas no Brasil caiu consideravelmente. No ano passado, por exemplo, a imuniza��o contra a doen�a foi de apenas 67,1%. Para manter as crian�as livres da doen�a � preciso atingir a meta de vacina��o, que � de 95%, e isso n�o vem acontecendo j� tem alguns anos. Se n�o tivermos uma boa cobertura, n�o d� para evitar a circula��o”, aponta o infectologista. Em Minas Gerais, o �ltimo registro de poliomielite � de 1985. Desde aquele ano, a vacina contra a paralisia infantil tem sido a �nica forma de preven��o. Justamente para manter a cobertura vacinal, a imuniza��o contra p�lio faz parte do calend�rio de rotina do Programa Nacional de Imuniza��es (PNI), de forma gratuita e de ampla disponibilidade nas unidades b�sicas de sa�de (UBS) em qualquer �poca do ano.
Na avalia��o de Sampaio, as campanhas antivacinas, movimento que ganhou ainda mais for�a durante a pandemia de COVID-19, podem ter ajudado a diminuir a ades�o das pessoas, por�m essa n�o � a principal explica��o para o quadro atual. Segundo ele, a falta divulga��o � o que mais tem afastado as pessoas dos postos de sa�de. “Vivenciamos um aumento desse movimento, mas n�o acho que s� o sentimento antivacina justifique esse cen�rio. Os brasileiros sempre foram muito receptivos � vacina��o e isso se deve �s campanhas. A divulga��o est� aqu�m do que foi em anos anteriores. Falta engajamento comunit�rio e isso se consegue pela comunica��o”, analisa. O infectologista avalia que � necess�rio intensificar a campanha e tentar ampliar mais ainda o acesso. “Levar a vacina��o para as escolas, shoppings”, disse.
GRAVIDADE
A baixa cobertura vacinal aumenta o risco de reintrodu��o de doen�as que j� haviam sido consideradas erradicadas, como foi o caso do sarampo, que n�o registrava casos no Brasil desde 2016. "� decepcionante termos avan�ado no controle dessas doen�as imunopreven�veis, que s�o muitas, e perceber retrocesso nos �ltimos anos. S�o vacinas muito seguras. A vacina��o deve ser um compromisso de todos, dos pais, dos profissionais de sa�de, dos gestores p�blicos, de toda a sociedade”, ressalta. A poliomielite � uma doen�a contagiosa que, por meio do contato direto com fezes ou com secre��es eliminadas pela boca de pessoas infectadas, pode contaminar crian�as e adultos. Nos casos mais graves, acontecem as paralisias musculares, e os membros inferiores s�o os mais atingidos. “As sequelas da poliomielite normalmente s�o motoras e n�o t�m cura”, explica.
Paralelamente � vacina��o contra a poliomielite, est� sendo realizada a campanha de multivacina��o. O foco dessa campanha � recuperar a cobertura vacinal de crian�as e adolescentes que ainda n�o receberam os imunizantes previstos no calend�rio nacional. N�o h� meta definida pelo governo federal para a Campanha Nacional de Multivacina��o. At� agora, j� foram aplicadas mais de 91 mil doses em todo estado, conforme dados preliminares da SES-MG. Entre as vacinas disponibilizadas na campanha est�o hepatites A e B, tr�plice viral e tetraviral, febre amarela e pneumonia, meningite e otite.
A campanha vai at� 9 de setembro. Segundo a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), as vacinas est�o dispon�veis em todos os 152 centros de sa�de do munic�pio. O endere�o das unidades e os hor�rios de funcionamento devem ser verificados no portal da prefeitura. As crian�as devem comparecer aos pontos de vacina��o acompanhadas dos pais ou respons�veis legais e apresentar, preferencialmente, o documento de identifica��o com foto ou certid�o de nascimento, CPF, comprovante de endere�o e o cart�o de vacina.