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Estado de Minas Viol�ncia

Cidade de MG tem taxa de homic�dios maior que regi�es mais violentas de BH

Monitoramento da PM mostra que Esmeraldas, na Grande BH, � o munic�pio mineiro com maior �ndice de assassinatos em rela��o � popula��o. Veja ranking


16/10/2022 04:00 - atualizado 16/10/2022 15:23

Mateus Parreiras
Enviado especial

Espantalho instalado por morador de Esmeraldas para tentar inibir criminosos em Esmeraldas, cidade que tem maior taxa de homicídios em Minas
(foto: fotos: Ed�sio Ferreira/em/d.a Press)
Comerciante olha por fresta no muro em Esmeraldas, cidade que tem maior taxa de homicídios em Minas
Imóvel abandonado e trancado em Esmeraldas, cidade que tem maior taxa de homicídios em Minas
O "espantalho" contra criminosos, correntes e cadeados em im�veis abandonados e a apreens�o por tr�s dos muros: escalada da viol�ncia e pedido de mais policiamento


Esmeraldas – O som sertanejo que domina o ambiente n�o disfa�a o olhar assustado que recebe quem entra pelo bar humilde do Bairro Jardim Coqueirais, em Esmeraldas, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte. A express�o apreensiva vem de uma mulher de meia-idade detr�s do balc�o nos fundos da constru��o de tijolos e grades localizada na cidade de pouco mais de 70 mil habitantes, que proporcionalmente tem a maior taxa de assassinatos em Minas Gerais. O temor dela n�o vem apenas das estat�sticas. Tem raz�o concreta, e muito pr�xima. “Meu marido trabalha em Belo Horizonte e eu conto o tempo para ele chegar e eu poder fechar, porque o medo est� comigo o dia todo. � muita droga. Muita gente que n�o presta vindo de BH, de Ribeir�o das Neves para traficar aqui. Estamos morrendo de medo”, disse ela. “Meu enteado de 35 anos foi assassinado a tiros; o enterramos h� alguns dias. Igual a ele, j� morreu muito pai de fam�lia. Quem ser� a pr�xima v�tima?”, indaga a comerciante que pede para n�o se identificar por medo de ser a resposta � pergunta que ela mesma formula.

Como ela, � raro quem se atreva a quebrar a lei do sil�ncio imposta pelo tr�fico de drogas que domina as vielas de terra batida e cascalho entre casas sem reboco ou tinta, em um dos bairros onde se sente a viol�ncia que assola a cidade. Para que se tenha ideia do motivo de tanta apreens�o, basta considerar que a morte por homic�dio est� duas vezes mais perto da popula��o de Esmeraldas do que na �rea mais cr�tica de Belo Horizonte – sob responsabilidade do 1º Batalh�o da PMMG, no interior da Avenida do Contorno.

Com 72.512 moradores, Esmeraldas se destacou negativamente em 2021 como a cidade com mais pessoas assassinadas em rela��o proporcional com sua popula��o, de acordo com informa��es do Armaz�m de Dados do Sistema Integrado de Defesa Social, �s quais a reportagem do Estado de Minas teve acesso, com base nas ocorr�ncias da Pol�cia Militar de Minas Gerais.

Basta circular pelas ruas de bairros �s margens da BR-040, como o Jardim Coqueirais, Melo Viana e Mangas, para ver reflexos aparentes dessa realidade: casas e lojas com placas de aluga-se ou vende-se, muitas cercadas por grades, lacradas com cadeados e vigiadas por c�es deixados com tigelas de �gua e ra��o com a tarefa de guardar im�veis vazios. Retrato do medo, chegou-se ao ponto de um dos moradores instalar uma esp�cie de espantalho, de bon�, �culos, jaqueta e cal�a jeans, aparentando vig�lia na esquina de casa, para dar impress�o aos criminosos de que h� algu�m de guarda, segundo os vizinhos.

Escalada 

O clima de viol�ncia e medo em Esmeraldas n�o come�ou da noite para o dia. J� em 2015, o Plano Diretor Estrat�gico Participativo da Prefeitura alertava para o aumento da criminalidade, com 31 bairros reclamando da necessidade de postos policiais e policiamento ostensivo. “Foi constatado grande aumento da viol�ncia e de ocorr�ncias policiais. Identificada a invas�o de periferias dos munic�pios de Ribeir�o das Neves, Contagem e Betim para dentro de Esmeraldas como poss�vel causa do aumento da criminalidade”, indicou estudo municipal.

O plano diretor levantou algumas propostas para tentar conter a escalada de inseguran�a. “Sugeriu-se a constru��o de marcos de entrada no munic�pio, com a coloca��o de guaritas policiais. Outra proposta seria a amplia��o de efetivo da pol�cia, atendimento a todas regi�es do munic�pio e ainda a patrulha rural, onde os problemas de seguran�a tamb�m t�m sido altos”, diz outro trecho do documento.

Na lista dos 10 munic�pios com mais altas taxas de homic�dios compreendidos em sedes de unidades da PM com mais altas taxas de homic�dios (veja quadro), metade est� na Grande BH, assim como Esmeraldas, sendo que em seis deles o policiamento preventivo e ostensivo (patrulhamento e presen�a) � comandado por companhias independentes, e n�o batalh�es. A diferen�a estrutural dessas unidades � grande e pode ter rela��o com os n�meros da criminalidade. As companhias independentes precisam ter, segundo a corpora��o, no m�nimo, dois pelot�es, com 35 a 50 militares cada, enquanto os batalh�es s�o formados a partir de duas companhias com seus respectivos pelot�es.

�ndice � quase o dobro da pior �rea da capital

Em rela��o � taxa de homic�dios, o pior resultado em Belo Horizonte se d� na �rea de abrang�ncia do 1º Batalh�o da Pol�cia Militar (Regi�o Centro-Sul, no interior da Avenida do Contorno), onde 17 homic�dios representaram taxa de 16,85 mortes por grupo de 100 mil habitantes em 2021. O �ndice significou uma piora de 27,36% no desempenho-limite estabelecido como aceit�vel pela corpora��o, que seria de 13,23 por 100 mil.

Esmeraldas praticamente dobra esse patamar na �rea da 6ª Companhia Independente da PM, com 33,1 mortos projetados para uma popula��o de 100 mil habitantes. Apesar da taxa alt�ssima, os 24 assassinatos de 2021 representaram at� uma redu��o, de 11,11%, frente aos 27 do ano anterior, e uma melhora em rela��o � meta estipulada como toler�vel da corpora��o, que era de 35,47 mortes por 100 mil.

O segundo munic�pio onde proporcionalmente se mata mais � Nanuque, �rea da 10ª Companhia Independente da PM, no Vale do Rio Mucuri. Os 38 homic�dios registrados em 2021 representaram taxa de 31,89 mortes projetadas para um grupo de 100 mil habitantes, pouco acima da meta de toler�ncia, de 31,51/100 mil.

Vi�osa, na Zona da Mata, se destaca na terceira posi��o em rela��o aos homic�dios por n�mero de habitantes, mas foi o munic�pio que apresentou maior alta entre os cinco com �ndices mais altos. As 42 mortes computadas pelos policiais militares superaram em 10,53% a quantidade registrada no ano anterior, de 38. A cidade ficou tamb�m mais longe da meta, com taxa de 27,15 mortes por 100 mil habitantes, sendo que o toler�vel pelos crit�rios da PM seria n�o passar de 23,42/100 mil (+15,9%).

Na sequ�ncia dos cinco mais violentos, v�m Governador Valadares, na �rea da 5ª Companhia Independente, no Vale do Rio Doce, com taxa de homic�dios de 26,24/100 mil, superando em 9,02% a meta da PMMG. Segue Igarap�, na circunscri��o da 7ª Companhia Independente, na Grande BH, onde a taxa de assassinatos foi a 24,9/100 mil, com a meta de 25,81 sendo reduzida em 3,5%.

Quando se observam os munic�pios da Grande BH, ap�s Esmeraldas e Igarap�, os que t�m as mais altas taxas de assassinatos entre os 10 primeiros s�o Betim, na �rea do 33º Batalh�o, em 6º lugar geral, com taxa de homic�dios de 23,09/100 mil; Ribeir�o das Neves (40º Batalh�o), figurando em 9º, com 21,09/100 mil; Vespasiano (36º Batalh�o), que segue em 10º, atingindo taxa de 20,47/100 mil.

Taxa reflete migra��o do crime, diz especialista

Os altos �ndices de homic�dios em Esmeraldas refletem mais a repress�o ao crime em cidades vizinhas como Ribeir�o das Neves, Contagem e Betim do que propriamente a��es de bandidos instalados nas periferias do munic�pio, que faz limite com essas cidades. A avalia��o � do coronel Carlos J�nior, especialista em intelig�ncia de Estado e seguran�a p�blica. “O crime tende a procurar espa�os onde h� menor repress�o e maior impunidade. H� uma soma de fatores que tornaram Esmeraldas mais atrativa para os acertos de conta e desovas de homic�dios dos criminosos, que t�m mais dificuldade em Betim, por exemplo”, afirma.

Aspectos que formam esse cen�rio prop�cio ao crime em Esmeraldas estariam ligados a caracter�sticas f�sicas que dificultam um cerco policial mais efetivo. “� um munic�pio de grandes dimens�es, um dos maiores da Grande BH, com pequena popula��o – o que inclusive afeta a taxa de homic�dios por 100 mil habitantes. � cortado por uma via de grande fluxo, a BR-040, que tem sido palco de grandes apreens�es de drogas e de armas de fogo. H� tamb�m importantes rodovias regionais e uma intrincada rede de vias vicinais, que s�o muitas vezes usadas pelos criminosos”, observa o coronel.

“Sabemos que h� planos de implanta��o de tecnologia, c�meras para identifica��o de placas de ve�culos e outros instrumentos de vigil�ncia. Mas n�o bastam s� projetos. � preciso prioridade e investimento do poder p�blico”, salienta o especialista. Ele atribui boa parte da criminalidade que migra para Esmeraldas ao combate em Betim, que considera muito efetivo. “Antes, Betim era o terceiro pior em homic�dios do Brasil, atr�s de Olinda (PE) e Serra (ES). Hoje, o 33º BPM daquela �rea est� em 6º lugar estadual e nem aparece nacionalmente”, afirma.

Para o coronel, as principais armas foram integra��o e intelig�ncia. “Destaco um excelente trabalho de integra��o policial, melhoria da tecnologia, aprimoramento da gest�o da PM, amplia��o dos conselhos de seguran�a p�blica. O cercamento eletr�nico por imagem e por comunica��o tamb�m faz a diferen�a, com uma viatura sabendo onde est� a outra da PM, da Guarda Municipal, e assim fechando o cerco com as c�meras”, afirma.

Em termos gerais, o coronel avalia que o Brasil todo tem experimentado quedas dos �ndices de homic�dios e crimes violentos, mas diz que � preciso avan�ar nesse combate. “O crime de homic�dios � o que traz mais inseguran�a para a sociedade, a fam�lia e atinge sobretudo os jovens em plena idade produtiva. S� a estat�stica � pouco para esse enfrentamento. � preciso fazer um estudo matricial dos casos e um trabalho de intelig�ncia em correla��o com a an�lise criminal. Descobrir que cada caso n�o come�ou e nem terminou na morte, mas que � parte de tend�ncias e fen�menos mais complexos ajuda a evit�-los ou a dar uma resposta que inibe a criminalidade", analisa Carlos J�nior.

Intelig�ncia

A Secretaria de Seguran�a P�blica e Justi�a  de Minas Gerais considera que a��es integradas e que mesclam trabalhos operacionais, preventivos e de intelig�ncia t�m reduzido os �ndices de homic�dios em Minas. “Frequentemente, s�o realizadas opera��es de seguran�a em todo o estado, atu- ando na repress�o qualificada, com o objetivo de impactar a redu��o da criminalidade, em um trabalho integrado de gest�o coletiva da seguran�a p�blica e da Justi�a criminal”, diz nota da pasta.

“As quedas acumuladas de v�timas de assassinatos dos �ltimos anos somam 5,47%, entre 2019 e 2020, e 8,05% entre 2020 e 2021. No per�odo acumulado de 2018 a 2021, a queda � ainda maior, de 23,1%. Ressalta-se ainda que o homic�dio � uma das naturezas criminais que comp�em a an�lise do Minist�rio da Justi�a, que indica Minas Gerais como o estado mais seguro do Brasil”, destaca o texto, sem se ater a situa��es espec�ficas, como a de Esmeraldas.

Os dados avaliados pela reportagem, apesar de preocupantes, n�o foram alvo de an�lise, sob justificativa de n�o terem sido divulgados oficialmente. “Em virtude de preservar as estrat�gias para a redu��o da criminalidade em todo o estado, o governo de Minas n�o comenta informa��es restritas de relat�rios e de an�lises de intelig�ncia das for�as de seguran�a”, afirma a Sejusp.






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