
Apesar da tristeza estampada nos olhos marejados das cerca de 20 pessoas no apartamento, � com carinho que se fala de Pedro Henrique Dias Soares, de 28 anos, morto na noite desse domingo (30/10), enquanto comemorava a vit�ria de Lula nas elei��es presidenciais na garagem da casa de amigos, no bairro Nova Cintra, Regi�o Oeste de Belo Horizonte. Ele ser� velado e enterrado no Cemit�rio Renascer, �s 10h30 e 13h, respectivamente.
Quando falam de Pedro, seus familiares e amigos descrevem um jovem carinhoso, trabalhador, que tinha muito jeito com as crian�as, muito apegado � sua afilhada, de 7 anos, e, principalmente, um atleticano apaixonado, que fazia do Mineir�o quase que um quintal de casa. “Apesar dele ter o time dele, a prefer�ncia pol�tica dele, n�o brigava com ningu�m, n�o discutia com ningu�m.”
Formado em direito, Pedro Henrique vinha trabalhando com entregas de produtos aliment�cios e como motorista de aplicativo, quando teve seus sonhos de passar em um concurso e casar com a namorada serem interrompidos. Ruan Nilton da Luz, de 36 anos, invadiu a garagem em que ele estava com familiares e amigos e abriu fogo, matando Pedro e ferindo mais tr�s pessoas, entre elas a m�e do jovem.
A m�e de Pedro Henrique, Alexsandra de Paula Dias, de 47 anos, afirmou que o filho era muito querido. “Maravilhoso. Um filho muito bom, muito amado, todo mundo o achava uma pessoa maravilhosa. Trabalhador, um menino bom.”
Alexandra disse esperar que a justi�a seja feita. “O ser humano n�o pode ser assim. N�o pode ficar impune.”

Apesar de o jovem estar num momento de euforia pela vit�ria de Lula, havia diversos bolsonaristas no ambiente, inclusive seus pr�prios pais. Segundo Fabiane, o grupo, que se reuniu por causa das elei��es, decidiu ir para a garagem de amigos pois n�o queriam ir para bares ou para a rua, temendo atos de viol�ncia pol�tica.
Crime por motiva��o pol�tica
De acordo com Fabiane, o crime foi por motiva��o pol�tica. No momento do assassinato, o jovem dan�ava e comemorava, gritando o nome do presidente eleito Lula, com outros amigos, quando Ruan abriu fogo pela porta da garagem, que estava aberta. “Saiu simplesmente do nada atirando, ningu�m conhece ele, ningu�m nunca viu”.
Apesar de Pedro ser eleitor de Lula, Fabiane afirmou que o jovem procurava evitar brigas relacionadas a pol�tica e convivia pacificamente e com bom humor junto a amigos e parentes eleitores de Jair Bolsonaro. “Na sexta-feira ele estava num barzinho com a amiga dele que votava no Bolsonaro e eles postaram uma foto, ela fazendo o ‘22’, ele o ‘L’, com a legenda ‘inimigos jamais’”, disse Ana Luiza Dias Soares. irm� do jovem.

Fabiane disse tamb�m que pessoas chegaram a falar que Ruan estava gritando “Bolsonaro” pela rua momentos antes do crime. Apesar disso, familiares disseram que o homem n�o disse nada ao invadir a comemora��o. “Ele chegou atirando”.
Familiares de Pedro acreditam que outro fator que refor�a a tese de motiva��o por quest�es pol�ticas � uma publica��o que o atirador teria feito dias antes do crime. “Tudo, com certeza, foi por quest�es pol�ticas sim. O homem falou na sua rede social, que j� foi exclu�da, que se o Bolsonaro perdesse ele ia sair fazendo ‘uma desgra�a’, e fez”, disse Fabiane.
Apesar da den�ncia, Fabiane afirmou que os familiares n�o possuem prints da publica��o, que teria sido feita no Instagram pessoal do homem, pois todas as suas redes sociais foram desativadas.
Luta contra o preconceito
Cindy Quintiliano, de 32 anos, � uma mulher trans e amiga de Pedro Henrique. Ela afirmou que o jovem escolheu votar em Lula pois acreditava que com ele haveria redu��o do preconceito. “Essa prefer�ncia pelo Lula era a quebra de preconceitos. Nessa gest�o passada estava tendo muito essa quest�o de preconceito, as pessoas estavam com medo, principalmente n�s LGBTs. O Pedro mostrou o n�o ao preconceito. Eu, como uma trans, ele n�o tinha preconceito comigo. Ent�o, assim, era um jovem maravilhoso, uma pessoa boa”
Ruan atirou em duas pessoas antes de matar Pedro
Antes de chegar at� a casa onde Pedro Henrique estava com familiares e amigos, Ruan Luz atirou em duas mulheres, m�e e filha, tendo a mais nova apenas 12 anos. Amigos das v�timas afirmaram que a m�e foi liberada, enquanto a filha segue internada. Ainda n�o se sabe o estado de sa�de da adolescente.
Atirador tinha posse de arma e mais de 500 muni��es
Segundo a Pol�cia Militar (PM), a defesa de Ruan Luz, preso em flagrante ainda no domingo, afirmou que o homem possui diagn�stico m�dico de ansiedade e outros problemas psiqui�tricos, tendo recomenda��o m�dica para tratar desses problemas e utilizar medica��o controlada, mas que h� um m�s n�o toma os rem�dios, mas familiares da v�tima contestam a vers�o.
O questionamento se d� pelo fato de Ruan ter licen�a de Colecionador, Atirador Desportivo e Ca�ador (CAC) e ter posse de arma de fogo. “N�o sei se uma pessoa que tem posse de armas, tem problemas psicol�gicos, porque tem que fazer um psicot�cnico. Ele foi para a rua para matar mesmo”, afirmou Fabiane.
De acordo com a Pol�cia Militar, Ruan utilizou duas pistolas calibre 380 no crime e possu�a um rifle calibre 22 em casa. Al�m disso, tamb�m em sua resid�ncia, o atirador tinha 500 muni��es calibre 22 e 20 muni��es calibre 380.
Persegui��o e pris�o
O pai de Pedro Henrique e um tio do jovem tinham acabado de deixar a comemora��o, quando o atentado aconteceu. Os homens tinham acabado de entrar no carro quando ouviram os disparos, gravados quando um deles enviava um �udio pelo Whatsapp.
Ouvindo os disparos seguidos dos gritos, os homens sa�ram do carro e viram o atirador fugindo, iniciando assim uma persegui��o a p�. Ruan ainda tentou acert�-los sem sucesso, antes de entrar numa mata. O tio de Pedro ent�o avisou a uma guarni��o da Pol�cia Militar que passava pelo local sobre o acontecido e os policiais foram atr�s do suspeito, preso em flagrante logo em seguida.