
No in�cio da pandemia, em 2020, quando Jair Bolsonaro minimizou o impacto da Covid-19 e conclamou seus apoiadores a irem �s ruas contra o isolamento social, ele ganhou um apoio ruidoso. Foi do ex-ator Guilherme de P�dua, que morreu na noite deste domingo (6) ap�s um infarto. Depois de ser condenado pelo assassinato de Daniella Perez, De P�dua, que vivia em Belo Horizonte (BH), virou pastor batista.
"Esses pol�ticos corruptos, esses esquemas de tetas p�blicas que o pessoal fica s� explorando o povo brasileiro, e o dinheiro e as melhorias n�o chegam na m�o do povo, n�o chegam na vida do povo", disse De P�dua nas redes sociais em ato em Bras�lia. "Se Deus quiser, o Brasil vai mudar."
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Naquele mesmo ano, vale dizer, De P�dua voltaria a endossar o presidente quando das elei��es municipais. "Quem est� decidindo as elei��es n�o s�o os radicais, nem de direita nem de esquerda. S�o os moderados, aqueles que querem um Brasil melhor, que querem um Brasil pacificado. Ent�o, seja quem ganhar parece que a chance � maior do Bolsonaro."
Publica��es que viralizaram meses atr�s na internet diziam que De P�dua havia se encontrado com Bolsonaro em Belo Horizonte para um almo�o. O presidente negou o encontro em uma publica��o no Twitter. Ele e a primeira-dama visitaram a Igreja Batista da Lagoinha, onde De P�dua era pastor. Juliana Lacerda, vi�va de De P�dua, publicou uma foto com Michelle Bolsonaro, mas negou ter proximidade com ela.
QUEM � GUILHERME DE P�DUA?
O nome de Guilherme de P�dua voltou aos holofotes este ano com a estreia da miniss�rie documental "Pacto Brutal", obra em cinco epis�dios que joga luz sobre o assassinato da atriz Daniella Perez, morta aos 22 anos, em 28 de dezembro de 1992.
O corpo dela foi encontrado pela pol�cia, ao lado de seu carro, no matagal de uma at� ent�o pouco adensada Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio de Janeiro, com 18 perfura��es, a maioria concentrada na regi�o do cora��o. O relato de uma testemunha levou a pol�cia a De P�dua, que era colega de elenco da v�tima, e � ent�o mulher dele, Paula Thomaz.
Mineiro de Belo Horizonte, ele nasceu em 1969 e chegou ao Rio de Janeiro no final dos anos 1980, disposto a tentar uma carreira no meio art�stico. Quando do crime, Guilherme de P�dua estava no ar na novela "De Corpo e Alma", interpretando Bira, um motorista de �nibus que fazia par amoroso com Yasmin, que por sua vez era interpretada por Daniella Perez -que por sua vez era filha da autora do enredo, Gloria Perez.
Com a novela, que estreou em agosto de 1992, a roteirista assumia a sua primeira trama das oito em voo solo. O enredo principal girava em torno de Paloma, papel de Cristiana Oliveira, que recebia o cora��o transplantado de outra mulher, Betina, grande amor de Diogo, papel de Tarc�sio Meira. Yasmin, por sua vez, era irm� de Paloma, a protagonista da hist�ria.
COMO GUILHERME DE P�DUA CONHECEU DANIELLA PEREZ?
Em "Pacto Brutal", Gloria Perez conta que Guilherme de P�dua chegou ao elenco de "De Corpo e Alma" meio que por acaso, j� que Alexandre Frota, que estava designado para o papel, tinha outros compromissos.
Foi ent�o, diz ela, que Roberto Talma, diretor da trama, pin�ou a ficha do ator mineiro num banco de dados de int�rpretes iniciantes. Na TV ele s� havia feito uma participa��o em "Mico Preto", novela das sete que foi ao ar em 1990.
A CARREIRA DE GUILHERME DE P�DUA COMO STRIPPER
Se na televis�o ele dava os seus primeiros passos, no teatro j� tinha somado mais pap�is. Na pe�a "Pasolini", por exemplo, ele interpretou o garoto de programa respons�vel pela morte do c�lebre diretor italiano. Voltaria a interpretar um mich� no musical "Blue Jeans", que causou um estouro na virada dos anos 1980 para os 1990.
Wolf Maya, diretor do espet�culo, fala em "Pacto Brutal" de como conheceu o jovem vindo de Belo Horizonte numa moto. F�bio Assun��o, que estava no elenco, assim como Alexandre Frota e Maur�cio Mattar, se recorda de um soco c�nico que Guilherme de P�dua acabou desferindo de verdade.
Por fim, o ator tamb�m voltou a interpretar um garoto de programa em "Via Appia", filme er�tico alem�o rodado no universo das saunas de prostitui��o masculina de Copacabana.
Na �poca ele tamb�m participou do show de strip-tease que a travesti Elo�na dos
Leopardos mantinha na Galeria Alaska, conhecido point gay no bairro da zona sul carioca, e que terminava com todos os rapazes ficando completamente nus.
Leopardos mantinha na Galeria Alaska, conhecido point gay no bairro da zona sul carioca, e que terminava com todos os rapazes ficando completamente nus.
Foi por volta dessa �poca que come�ou o envolvimento dele com Paula Thomaz, que na s�rie � pintada como uma encrenqueira que j� havia brigado por ci�mes do marido e que idolatrava entidades m�sticas que estariam por tr�s de um suposto sacrif�cio ritual do qual Daniella Perez foi v�tima. N�o � toa, diz a produ��o, amparada por uma ocultista, ela morreu em noite de lua nova.
� fato que Guilherme de P�dua havia declarado ter um guia espiritual e que um exame constatou que as perfura��es no corpo da atriz indicavam o uso de um punhal, nunca encontrado, e n�o de tesoura, como argumentado pelos r�us
Bernardo Braga Pasqualette, o autor do livro-reportagem "Daniella Perez: Biografia, Crime e Justi�a", lan�amento da editora Record, diz que "� injusto fazer associa��es entre a vida dos acusados e o assassinato".
"As pessoas t�m de responder pelo que fizeram e n�o por outras coisas", diz, acrescentando que homofobia, dirigida a P�dua, sexismo, a Thomaz, e preconceito contra religi�es de matriz africana, dirigido a ambos, sempre pairaram em torno do caso. "Houve uma espetaculariza��o do passado deles."
O CRIME DE GUILHERME DE P�DUA
Na noite de 28 de dezembro de 1992, o corpo de Daniella foi encontrado num matagal na Barra da Tijuca, perfurado por cerca de 18 punhaladas realizadas com uma tesoura que feriram seus pulm�es e o cora��o.
Cada um dos dois foi condenado por homic�dio qualificado a uma pena de quase 20 anos de pris�o, ap�s o j�ri popular acatar a tese da acusa��o de que o casal premeditou o crime -Paula Thomaz, por ci�mes do marido; Guilherme de P�dua, por vingan�a contra a autora da novela, j� que seu papel na trama vinha sendo reduzido. O ator n�o queria deixar o romance da trama acabar, � o que defende a tese do seriado.
Os dois t�m vers�es diferentes. Paula Thomaz nega que tenha participado. Guilherme de P�dua, que, em depoimentos � pol�cia, assumira a culpa, depois passou a sustentar a tese de que a sua ent�o mulher, tomada de ci�mes pela rela��o dos dois parceiros de cena, � quem teria se atracado com Daniella Perez no matagal.
H� cinco anos, o ex-ator havia se tornado pastor da Igreja Batista da Lagoinha, em sua cidade natal, Belo Horizonte. Guilherme de P�dua concedeu poucas entrevistas sobre o caso, mas seu nome sempre reaparece por a�, como quando criou um canal no YouTube para falar de sua convers�o religiosa. Numa de suas �ltimas apari��es p�blicas, em 2020, foi �s ruas num protesto pr�-Bolsonaro.
Guilherme de P�dua e Paula Thomaz se separaram logo depois do crime. Ele se casou com a maquiadora Juliana Lacerda em 2017.
"Casei com o Guilherme porque o amo de verdade e ele � a realiza��o de um sonho em minha vida", disse Lacerda ao jornal Extra na �poca da cerim�nia. "Ele � um homem maravilhoso, s� quem o conhece sabe o quanto. Ele n�o � rico, tem um passado triste, mas, mesmo assim, costumo dizer que ele � o meu marido cem vezes mais."
"Procurem saber do caso a� direitinho que voc�s v�o saber o que aconteceu", disse ela depois, nas redes sociais, emendando que "coisas absurdas aconteceram" ap�s o crime. "Se eu for falar aqui, vai ser muito pol�mico, muito chocante para voc�s", disse. "O Guilherme n�o � assassino de ningu�m."