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Estado de Minas PATRIM�NIO

Curvas na paisagem urbana: conhe�a o legado de Niemeyer � capital mineira

Considerado pelo pr�prio Niemeyer como o in�cio de sua obra como arquiteto, o Conjunto Moderno da Pampulha segue encantando visitantes


05/12/2022 04:00 - atualizado 05/12/2022 07:41

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Vindos de S�o Paulo, Gumercindo Basso e Jos� Carlos observam o MAP, que est� fechado, frustrando turistas (foto: Fotos: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Admirador confesso do “g�nio modernista” e especialista em sua obra, o arquiteto e professor mineiro Fl�vio Carsalade explica que Oscar Niemeyer, juntamente com L�cio Costa (1902-1998), integrou a equipe que projetou o Edif�cio Gustavo Capanema (constru�do entre 1937-1945, no Centro do Rio de Janeiro), para ser sede do ent�o Minist�rio da Educa��o e Sa�de. “Trata-se de um marco na arquitetura brasileira, um trabalho coletivo hist�rico, mas foi na Pampulha que Niemeyer se destacou como arquiteto.”
 
Depois do Rio e Bras�lia, Belo Horizonte � a capital com maior n�mero de obras de Niemeyer. O arquiteto trabalhou aqui nos anos 1940, 1950 e 1960, a convite de Juscelino Kubitschek (1902-1976), quando esse era prefeito da capital (1940-1945) e governador de Minas (1951-1955), antes de se tornar presidente da Rep�blica (1956-1961). No s�culo 21, sa�ram da sua prancheta os projetos da Cidade Administrativa Presidente Tancredo Neves, sede do governo mineiro, no Bairro Serra Verde, na Regi�o de Venda Nova, e a Catedral Cristo Rei, em constru��o, na Regi�o Norte.
Para Carsalade, que coordenou o dossi� sobre a Pampulha, pe�a fundamental para o reconhecimento como Patrim�nio Mundial, em 2016, pela Organiza��o das Na��es Unidas para a Educa��o, a Ci�ncia e a Cultura (Unesco), Niemeyer � sempre atual, tendo seus trabalhos uma “jovialidade que se perpetua” e est� presente no Conjunto Moderno da Pampulha. �s margens da lagoa, est�o o Santu�rio Arquidiocesano S�o Francisco de Assis – a Igrejinha da Pampulha –, o Museu de Arte da Pampulha (MAP, antigo cassino), a Casa do Baile, atual Centro de Refer�ncia de Arquitetura, Urbanismo e Design, e o Iate T�nis Clube. “O conjunto apresenta – e representa – Belo Horizonte ao mundo”, resume.

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O arquiteto e professor Fl�vio Carsalade na antiga Casa do Baile fala da obra do mestre: "Apresenta Belo Horizonte ao mundo"

No livro “As curvas do tempo – Mem�rias” (1998), Niemeyer registrou: “Para mim, a Pampulha foi come�o da minha vida de arquiteto. E com que entusiasmo a come�ava. O in�cio dessa longas viagens de carro, a balan�ar pelas estradas de terra, �s vezes cobertas de lama, obrigando-nos a parar e procurar aux�lio. At� para junta de bois um dia apelamos!”

PELA ORLA

A intera��o de moradores e visitantes com a obra de Niemeyer � tecida em admira��o, encantamento e preocupa��o constante com a preserva��o, a come�ar pela Pampulha, onde ficam os primeiros trabalhos do arquiteto em BH – os bens s�o tombados pelo Munic�pio, Instituto Estadual do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico de Minas Gerais (Iepha-MG) e Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan).
 
� sombra das �rvores da Pra�a Dino Barbieri, o casal de noivos Victor de Lemos, militar, e D�bora Souza, t�cnica de enfermagem, residente em Cachoeiras de Macacu (RJ), contempla a Igrejinha da Pampulha, que completar� 80 anos no ano que vem. “J� estivemos no interior do templo, passeamos em volta. � um encantamento,traz uma leveza impressionante”, observa D�bora, na sua primeira visita � regi�o, enquanto Victor enaltece o trabalho de Niemeyer e fala da import�ncia da conserva��o.
 
Com projeto arquitet�nico do carioca falecido h� exatos 10 anos, a igrejinha, cart�o-postal da cidade, re�ne a arte de C�ndido Portinari (1903-1962), autor dos 14 quadros recriando as cenas da via-sacra, da pintura de S�o Francisco com um cachorro e do painel externo em azulejos, homenageando o padroeiro; do escultor Alfredo Ceschiatti (1918-1989), criador dos baixos-relevos em bronze do batist�rio; de Paulo Werneck (1903-1962), que, na parte externa, fez o revestimento em pastilha; e do paisagista Roberto Burle Marx (1909-1994), respons�vel pelos jardins.
 
Nesse primeiro passeio � Pampulha, Victor e D�bora ficaram um pouco desapontados, a exemplo de outros turistas: com seus belos jardins concebidos por Burle Marx, o Museu de Arte da Pampulha (1940) est� fechado. “Chegar aqui e n�o poder visit�-lo � frustrante”, lamentou o aposentado Gumercindo Basso J�nior, que veio de Sorocaba (SP) com a esposa e casal de amigos. Na segunda vez em BH, o engenheiro Jos� Carlos de Jesus aproveitou para apreciar os jardins e a extens�o da lagoa.
 
A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) informa que a Superintend�ncia de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) coordena o processo de atualiza��o do projeto de restauro do MAP, “em um trabalho de revis�o e detalhamento rico e complexo, que contempla diversos tipos de verifica��es e ensaios sobre os elementos originais do pr�dio, incluindo cobertura, impermeabiliza��o, estrutura e acabamento, sistema de prote��o contra descargas atmosf�ricas, entre outros, que s�o fundamentais para a seguran�a e preserva��o da edifica��o”. O trabalho conta com a contribui��o de consultores especialistas contratados, e o acompanhamento das equipes dos �rg�os de prote��o ao patrim�nio cultural.
 
E mais: “A primeira vers�o do projeto b�sico para restauro foi apresentada aos �rg�os de prote��o do patrim�nio e, nos �ltimos meses, foram realizadas reuni�es t�cnicas para especifica��o de melhorias no MAP em conformidade com os requisitos de prote��o ao patrim�nio. A elabora��o do projeto avan�a a partir das concep��es das solu��es, que s�o detalhadas ap�s a anu�ncia do Patrim�nio Municipal, Iepha (estadual) e Iphan (federal), que s�o discutidas nas reuni�es t�cnicas. Atualmente, a Sudecap est� detalhando as solu��es que foram deliberadas nas reuni�es t�cnicas, e ir� protocolar nova proposta de projeto de restauro nos �rg�os citados para o parecer formal de aprova��o ou solicita��o de retifica��o.”
 
Tamb�m de 1940 e localizado na orla da Pampulha, o Iate T�nis Clube, particular, abre as portas aos visitantes, mas tem uma pendenga com a PBH e o Minist�rio P�blico que j� dura anos. O pomo da disc�rdia est� no anexo, popularmente chamado de “puxadinho”, constru�do na d�cada de 1970 sem autoriza��o dos �rg�os de defesa do patrim�nio cultural. A PBH quer demoli-lo. Sobre o impasse, a assessoria da prefeitura explica que aguarda decis�o da Justi�a.

PALAVRAS ECOAM

Ainda em “As curvas do tempo – Mem�rias” (1998), Niemeyer falou sobre o nascimento da Pampulha, e de um di�logo com o ent�o prefeito Juscelino Kubitschek. “Tornei a conversar com JK, que me explicou: ‘Quero criar um bairro de lazer na Pampulha, um bairro lindo como outro n�o existe no pa�s. Com cassino, clube, igreja e restaurante, e precisava do projeto do cassino para amanh�’. E o atendi, elaborando durante a noite no quarto do Hotel Central o que me pedira”.
 
E mais escreveu o arquiteto: “Nunca tinha visto tanto entusiasmo, tanta vontade de realizar, tanta confian�a num empreendimento que, no momento, muitas dificuldades teria pela frente. E a obra come�ou. JK a segui-la diariamente (...). Quantas vezes visitamos a obra da Pampulha! E JK n�o se continha: ‘Que beleza! Vai ser o bairro mais bonito do mundo!’”
 
Parece que as palavras ecoam nos ares da Pampulha tantas d�cadas depois, embora a paisagem tenha mudado tanto, com o crescimento da regi�o, e a polui��o crescente da lagoa. No mirante diante do Museu Casa Kubitschek (im�vel, de 1941, projetado por Niemeyer para ser resid�ncia de veraneio da fam�lia do ent�o prefeito), encontram-se as esculturas em bronze de JK entre o arquiteto e Burle Marx, olhando a planta do bairro, e Portinari (sentado). Descansando de caminhada, a engenheira qu�mica que atua na �rea ambiental, Rosane Borges, ga�cha residente h� 10 anos em BH, elogia a integra��o de arquitetura e natureza. “Niemeyer foi um grande brasileiro. � o nosso Gaud�”, disse em refer�ncia ao espanhol Antoni Gaud� (1852-1926), expoente do modernismo catal�o.
Na Pampulha s�o tamb�m obras de Niemeyer o Pampulha Iate Clube e a Resid�ncia Alberto Dalva Sim�o. N�o sa�ram do papel o hotel e o Golf Clube, na �rea pertencente � Funda��o Zoobot�nica. 

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Manu e Domitila relaxam perto do Edif�cio Niemeyer, na Pra�a da Liberdade: "Este tipo de arquitetura me conforta", diz a primeira

Rumo ao Centro da capital

Depois da Pampulha, � hora de conhecer outros �cones de BH com a assinatura de Oscar Niemeyer. A primeira parada � no Edif�cio ou Conjunto JK, no Bairro S�o Agostinho, na Regi�o Centro-Sul. Em 27 de abril deste ano, o Conselho Deliberativo do Patrim�nio Cultural do Munic�pio de Belo Horizonte (CDPCM-BH) aprovou o tombamento definitivo do Conjunto Habitacional Governador Juscelino Kubitschek.
 
As duas edifica��es, que comp�em o conjunto, ficam nas ruas dos Timbiras, 2.500, e dos Guajajaras, 1.268, tendo 1.149 unidades habitacionais de 13 modelos diferentes, de quitinetes a apartamentos. “Ele merece destaque pela pluralidade de seus moradores e pela socializa��o que o projeto permite”, comemorou, na �poca, o morador do local h� 40 anos, S�rgio Hirle, formado em administra��o. Ele contou que o pr�dio horizontal, chamado de Bloco A, tem 23 andares e entrada pela Timbiras, enquanto o B, com 36 andares, tem acesso pela Guajajaras e Pra�a Raul Soares.
 
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Em frente ao Condom�nio JK, o jovem Guilherme Cardoso mostra que conhece a import�ncia da obra: "� patrim�nio nosso e do mundo"

Diante dos pr�dios, o estudante Guilherme Cardoso Oliveira Costa, de 18 anos, mostra que conhece bem a import�ncia do arquiteto Oscar Niemeyer para BH, cita trabalhos de destaque em Minas e considera fundamental que sejam bem preservadas. “A obra dele � patrim�nio nosso e do mundo! Marca nossa capital com suas famosas curvas de concreto. Devemos valorizar sempre, embora nem tudo esteja bem conservado”, proclama o aluno do 3º ano do ensino m�dio, que, diariamente, passa, rumo � escola, pelo local.
 
Subindo a Avenida Bias Fortes, a equipe do Estado de Minas visita o Edif�cio Niemeyer, de 1954, na Pra�a da Liberdade, onde encontra, em momento de puro relax e conversas sobre a vida, confortavelmente sentadas num banco, a artista pl�stica e dan�arina de flamenco Manu Cordeiro e a aluna Domitila Clemente, artista e produtora. Olhando para o pr�dio residencial, Manu gosta do que v� “Esse tipo de arquitetura me conforta, promove um di�logo, tem comunica��o”. Domitila, por sua vez, admira com ressalvas. Gosta das curvas, por�m se sente um pouco incomodada, preferindo as quinas, “que t�m princ�pio e fim”.
 
J� no fervilhante Centro de BH, v�-se o antigo pr�dio do Bemge, de 1953, constru�do para ser a sede do Banco Mineiro da Produ��o. Com a bem-cuidada obra de restaura��o, a edifica��o de 25 andares na Pra�a Sete se tornou o P7 Criativo – Ag�ncia de Desenvolvimento da Ind�stria Criativa de Minas Gerais, misturando charme dos anos 1950 com tecnologia do s�culo 21. O edif�cio � tombado pelo Iepha-MG.
 
Na Regi�o Centro-Sul, a �ltima parada � na Escola Estadual Governador Milton Campos (Estadual Central, de 1954), no Bairro Lourdes, cujos tra�os remetem ao ambiente escolar: o pr�dio das salas de aula � uma r�gua, o giz virou caixa-d’�gua, a cantina tem forma de borracha e o audit�rio, de um mata-borr�o (instrumento que servia para secar o excesso de tinta no papel). O col�gio tamb�m mereceu coment�rio no livro de mem�rias. “Para tudo JK me convocava, j� era seu arquiteto preferido. E outras obras por ele programadas come�aram a surgir pelo estado. Em Belo Horizonte, projetei a reforma da Casa das Mangabeiras, onde ele morou; a biblioteca; o Col�gio Estadual; o teatro – depois completamente desfigurado; o Banco da Produ��o, em Juiz de Fora; o Banco do Brasil, em Diamantina, sua cidade natal, e, tamb�m l�, o clube, a escola e o hotel”.

S�CULO 21

Todas as gera��es t�m a oportunidade, agora, de conhecer uma “obra em progresso” a partir de um projeto de Niemeyer. H� nove anos, est� em andamento, no Bairro Juliana, a constru��o da Catedral Cristo Rei, da Arquidiocese de BH. A convite do arcebispo metropolitano de BH, dom Walmor Oliveira de Azevedo, Niemeyer apresentou, em 2010, uma concep��o arquitet�nica para, tr�s anos depois, a “igreja-m�e” come�ar a ser constru�da no epicentro geogr�fico da Arquidiocese de BH, que contempla a capital mineira e outros 27 munic�pios.
 
Conforme a Arquidiocese de BH, a expectativa � de que em fevereiro, quando se celebram 102 anos de sua  cria��o, esteja liberada para comemora��es a Tenda da Paz,  que receber� os peregrinos.
Do alto do Bairro S�o Cosme, no munic�pio vizinho de Santa Luzia, moradores podem ver, em sua plenitude, a Cidade Administrativa Presidente Tancredo Neves, inaugurada em 4 de mar�o de 2010. O complexo arquitet�nico � formado pelo Pal�cio Tiradentes (o maior pr�dio suspenso do mundo, com um v�o livre de 147 metros de comprimento e 26 metros de largura), os pr�dios Minas e Gerais, que abrigam as secretarias e �rg�os do estado em duas torres com 15 andares cada uma e 240 metros de extens�o em curva, o pr�dio de servi�os, centro de conviv�ncia e o Audit�rio JK.


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