
Ap�s um per�odo de calmaria relativamente longo, com flexibiliza��o das normas sanit�rias de enfrentamento � COVID-19, o Brasil – e em Belo Horizonte a situa��o n�o � diferente – viu oscasos de infec��o pelo coronav�rus aumentarem significativamente em curtos per�odos de tempo. Especialistas falam, inclusive, da possibilidade de uma nova onda, que pode ser potencializada pelas festas realizadas a cada jogo do Brasil na Copa do Mundo at� a derrota de sexta-feira e as celebra��es do fim de ano.
Em entrevista ao Estado de Minas, Tupinamb�s, afirma que a arma e escudo que temos hoje e que, infelizmente, n�o possu�amos em 2020 e 2021, pode garantir dias mais tranquilos quando o coronav�rus resolver dar as caras. Mas para a vacina fazer efeito, destaca ele, � preciso tom�-la. Al�m disso, ele faz progn�sticos para a pandemia no futuro e elenca erros cometidos na abordagem � doen�a e a necessidade de construir um sistema de sa�de cada vez mais forte.
Na virada de novembro para este m�s, em uma semana, Belo Horizonte teve aumento de 15% na positividade dos testes de COVID-19. Qual o risco de uma nova onda da doen�a? Ou j� estamos vivenciando uma?
Provavelmente, n�s estamos vendo uma outra onda. Muito por conta dessa subvariante da �micron, deve ser a BQ1, que tem uma capacidade de evadir a resposta imune. Mesmo em quem foi vacinado, ela pode causar infec��o. Lembrando que, em quem foi vacinado, a infec��o geralmente � mais branda.
Como podemos avaliar em que momento BH est� diante da pandemia?
Eu acho que a gente est� nessa nova onda, no crescente. Infelizmente, teremos muitos casos de COVID. O que chama a aten��o nesse cen�rio atual � a subnotifica��o. Muitas pessoas fazendo teste em casa, muitas pessoas n�o fazendo, desprezando a infec��o, �s vezes at� indo trabalhar com sintomas respirat�rios, o que n�o � adequado. Ent�o, est� aumentando o n�mero de casos e, infelizmente, as notifica��es n�o est�o acompanhando. Por isso a gente fala que � importante voltar a usar m�scara em locais fechados, no transporte p�blico, estabelecimentos comerciais e que a popula��o procure tomar a primeira e a segunda doses de refor�o.
Em 17 de novembro, a Prefeitura de Belo Horizonte determinou o uso obrigat�rio da m�scara em meios de transporte e hospitais. Na avalia��o do senhor, essa medida � suficiente para conter o avan�o dos casos?
Acho que foi muito adequada a postura da Secretaria Municipal de Sa�de em ter voltado com essa obrigatoriedade. Eu acho que n�s temos que, al�m dessa obrigatoriedade nesses locais citados, fazer uma campanha muito intensa para a popula��o, porque parece que as pessoas relaxaram a tal ponto que aqueles grupos eleg�veis para a primeira e segunda doses de refor�o n�o procuraram o sistema de sa�de.
Com os jogos da Copa do Mundo e festas de fim de ano, certamente continuaremos com as aglomera��es. Isso pode contribuir para uma nova explos�o de casos de COVID-19?
A expectativa, infelizmente, � que vai ter um aumento de casos no decorrer de dezembro, muito por conta disso, dessa variante que n�s falamos no in�cio. E tamb�m as pessoas est�o no fim do ano, tem festas de comemora��o, Copa do Mundo. Sabemos que as pessoas frequentam os botecos, os bares, pelos jogos, e nesse ambiente ningu�m usa m�scara, n�? Ent�o, infelizmente v�o aumentar os casos e tamb�m o n�mero de mortes, porque proporcionalmente vai aumentar tudo. � claro que n�o � aquele cen�rio que n�s vimos em janeiro deste ano e nem o de mar�o, abril e maio do ano passado. Mas algumas pessoas podem ter um quadro grave da COVID.
A PBH publicou decreto que imp�s limite de at� 250 pessoas em eventos durante a Copa. O senhor avalia que seria o momento de a prefeitura impor novamente restri��es a festas com grande n�mero de pessoas na cidade?
Eu acho esse cen�rio diferente do que n�s vivemos nos outros dois anos. Naquela �poca, a gente fazia parte do Comit� de Enfrentamento � Covid da Prefeitura de Belo Horizonte. N�o t�nhamos vacina, n�o t�nhamos muito conhecimento da transmiss�o, enfim, era um cen�rio incerto. Neste cen�rio atual, temos uma ferramenta muito potente: a vacina. Ent�o, n�s temos que fazer com que as pessoas que frequentam esses ambientes se vacinem, inclusive com as doses de refor�o, e mantenham esses ambientes arejados. E aquela pessoa que � mais vulner�vel diante da COVID, uma pessoa idosa, uma pessoa que tem comorbidades, que faz tratamento para c�ncer, transplantado, pessoas que vivem com HIV, essas pessoas t�m que redobrar o cuidado e usar uma m�scara de boa qualidade nesses ambientes.
Tamb�m temos acompanhado um aumento significativo de infec��es por influenza A e outras doen�as respirat�rias. Diante desse cen�rio, como deve ficar o sistema de sa�de nas pr�ximas semanas?
Essa � o que a gente chama de tripla epidemia, da influenza, de doen�as respirat�rias e do Sars-CoV-2. Em vista do impacto n�o s� no SUS, mas tamb�m na sa�de suplementar, achei importante a gente refor�ar as equipes de sa�de. Nesse cen�rio, as equipes de sa�de come�am a ficar desfalcadas, come�am a adoecer. Ent�o, � importante melhorar nosso patamar sanit�rio, voltar a usar a m�scara nesses ambientes fechados, ter o autocuidado.
Olhando para tr�s, fazendo um balan�o de como foi este ano de combate � pandemia, � poss�vel enxergar algum erro?
Sim. Acho que o erro principal, todo mundo j� viu. Foi do Minist�rio da Sa�de, n�s n�o t�nhamos ministro da Sa�de. O ministro da Sa�de incentivava terapias que n�o eram adequadas, muito por conta do pr�prio presidente da Rep�blica, que felizmente agora est� saindo. Ele insistia em terapias inadequadas, n�o incentivava a vacina��o, incentivava aglomera��es. Ele descartava o uso da m�scara, dizia que a m�scara n�o era necess�ria. Enfim, acho que o Brasil ser o segundo pa�s em n�mero absoluto de mortes, mais de 700 mil, � muito por conta do enfrentamento da pandemia no pa�s. E tem trabalhos que dizem que o Brasil foi o pior dos lugares enfrentando a pandemia. E, paradoxalmente, era um pa�s que, antes de a pandemia come�ar, estava “bem na fita”, muito por conta do nosso sistema de sa�de. N�s ficamos, durante a pandemia, v�rios meses sem ministro da Sa�de. Quando entrou um ministro, ele n�o fez a articula��o necess�ria, faltou oxig�nio em Manaus, por exemplo. Atrasou a compra da vacina, ele desprezou a vacina, fez campanha contra ela. Todo mundo vai se lembrar da fala do presidente da Rep�blica, que quem tomasse a vacina iria virar jacar�, colocando d�vidas na cabe�a da popula��o. Na Prefeitura de Belo Horizonte, por ter um SUS robusto que vem sendo constru�do desde a d�cada de 1990, o ex-prefeito Kalil enfrentou a pandemia de forma adequada. BH ganhou pr�mios, foi modelo de enfrentamento da pandemia nesses �ltimos anos, no Brasil e no mundo. Em Belo Horizonte, felizmente, a gente n�o tinha um governo negacionista. O Kalil mostrou isso. Ele enfrentou a pandemia de forma muito corajosa.
A chegada de novas subvariantes da �micron encontra o processo de vacina��o estagnado em Belo Horizonte, onde o p�blico abaixo dos 40 anos segue sem data para ser imunizado com a quarta dose contra a COVID-19. Como o senhor avalia o andamento da imuniza��o na cidade? Qual a justificativa para essa baixa ades�o � vacina��o?
Acho que � isso que eu acabei de falar sobre como o governo enfrentou. N�s n�o temos campanha para vacina��o da primeira dose de refor�o da popula��o abaixo de 40 anos. E na popula��o acima de 40, que pode receber a primeira e segunda doses de refor�o, est� muito aqu�m. Ent�o, falta a campanha. O nosso Programa Nacional de Imuniza��o (PNI) ficou meio sumido nesse tempo todo, um programa mundialmente reconhecido. E essa crise na vacina��o n�o � s� de COVID. Vamos lembrar, � de sarampo, de poliomielite. Temos que imputar um culpado, que � o governo federal, � o Minist�rio da Sa�de, que n�o fez a campanha devida. N�s nem sequer temos vacina suficiente para poder vacinar, com a quarta dose, a popula��o de 18 a 40 anos.
Como o senhor vislumbra que v�o funcionar os ciclos de vacina��o contra a COVID-19 nos pr�ximos anos?
A vacina da COVID, como a vacina da H1N1, provavelmente ser� anual. A nossa d�vida � qual vai ser a sazonalidade da COVID. A gente sabe que a sazonalidade do H1N1 � o outono, l� em maio come�a a aumentar o n�mero de casos e no fim de agosto cai. Pesquisadores apontam risco de ter dois picos, no fim e meio do ano. Eu acredito que essa vacina, a vacina bivalente — vou lembrar que n�s vamos ter uma vacina nova, de segunda gera��o — vai ter que ser tomada anualmente pela maioria da popula��o.
J� � poss�vel desenhar um cen�rio para o carnaval em 2023? O que a popula��o pode esperar? Quais as perspectivas para o pr�ximo ano?
No carnaval, essa onda que n�s estamos come�ando agora muito provavelmente j� deve ter passado. E espera-se que quem vai frequentar esse carnaval esteja vacinado. Se a pessoa vai para o carnaval com as doses de refor�o, e n�s teremos acabado de sair dessa onda, que deve come�ar a cair j� no in�cio de janeiro, ela estar� fora daquela onda.
Por quanto tempo ainda viveremos nessa esp�cie de montanha-russa de picos e quedas da pandemia? Vamos sempre viver esse “tira e volta da m�scara”?
Essa � a pergunta de milh�es de d�lares. Ningu�m sabe como vai ser daqui pra frente. Nossa expectativa � que vai ter essa sazonalidade e n�s vamos estar noutro patamar sanit�rio, o que eu acho um ganho. No passado, a gente n�o usava m�scara, a gente ia trabalhar doente, v�rios trabalhadores da sa�de iam trabalhar gripados, era normal naquela �poca. N�s n�o podemos ter esse desprezo pela infec��o gripal. Quando a pandemia acabar, n�s vamos ter um per�odo end�mico, como � o da H1N1. Se v�o ser um ou dois picos anuais, a gente n�o sabe ainda. Mas uma coisa � certa: vamos manter o uso da m�scara num per�odo de outono/inverno. Como a gente via na �sia. Era muito comum ver os asi�ticos usando m�scara e a gente achava estranho aquilo, ent�o vai ser um padr�o que n�s vamos ter que assumir. E, claro, sempre ter cuidados de higieniza��o de m�os, ficar em locais abertos e sempre refor�ando a atualiza��o do nosso calend�rio vacinal.
Tem mais algo a acrescentar, doutor?
Cada pessoa tem que ter autocuidado, buscar informa��es corretas. A gente faz um apelo, que �: atualize o calend�rio vacinal. N�o s� da COVID, mas que os pais levem as crian�as para vacinar contra a poliomielite, contra o sarampo, contra a meningite C. A gente est� com v�rias amea�as agora. As doen�as n�o existem mais – poliomielite, sarampo – por conta da vacina. Isso � bem paradoxal. ‘Ah, n�o tem mais sarampo, n�o tem mais poliomielite, n�o precisa de vacina’. Mentira, � diferente. N�o tem mais porque todo mundo vacinou. Se a gente parar de vacinar, as quest�es v�o voltar, como j� est�o voltando em alguns pa�ses.