
A folia do carnaval de Belo Horizonte entra na sua semana mais intensa. Com o per�odo oficial da festa tendo in�cio a partir desta sexta-feira e se estendendo at� o dia 22, o n�mero de foli�es nas ruas e o n�mero de blocos desfilando vai aumentar consideravelmente, fazendo crescer, por consequ�ncia, os ambulantes nas ruas. Este ano as informa��es da Empresa Municipal de Turismo de BH (Belotur) d�o conta de que 16.117 pessoas se cadastraram para trabalhar no per�odo, que come�ou no dia 4. A expectativa de ganhos dessa categoria chega � casa dos 150% a mais do que o investido.

Uma pesquisa do Observat�rio do Turismo, ligado � Belotur, estima que o investimento m�dio dos trabalhadores credenciados na compra de mercadorias � de R$ 1,8 mil, com a expectativa de ganhos com as vendas chegando a R$ 4,5 mil. “Esperamos que este seja o maior carnaval que BH j� organizou, j� que estamos vindo de dois anos de pandemia. S�o trabalhadores que esperam o ano inteiro para ter sua venda no evento”, disse Adjailson Severo, presidente da Associa��o dos Trabalhadores Ambulantes de BH, que comparou o carnaval como um “d�cimo terceiro” da categoria.
O n�mero de trabalhadores vendendo desde �gua at� destilados mais fortes e outros produtos cresceu 10% em rela��o � �ltima edi��o da festa de Momo, em 2020, quando foram credenciadas 14.694 pessoas. Neste ano, 27% das pessoas aptas v�o atuar no evento pela primeira vez. Esse � o caso da Gl�nya Fonseca Costa, de 26 anos, que trabalhou no �ltimo s�bado no bloco Uai C� Samba, na Avenida Fleming, no bairro Ouro Preto, regi�o da Pampulha. A trabalhadora aut�noma esteve acompanhada do amigo Carlos Magno Damaceno, de 61, e juntos v�o acompanhando os blocos atr�s dos consumidores.
Com um investimento em torno de R$ 4 mil, distribu�dos em produtos e equipamentos – carrinho, caixa de isopor e copos descart�veis –, a dupla est� esperan�osa para ter um retorno de R$ 8 mil diante da anunciada “invas�o de turistas”, principalmente porque durante a pandemia Carlos fez o investimento em um bar, mas acabou perdendo o recurso e agora espera recuperar. "Estamos apostando alto, pois, com a pandemia, a folia ficou represada", disse Carlos.
Ainda no Uai C� Samba, En�as Vieira J�nior, de 47, conta ter investido R$ 7 mil em mercadorias variadas, mais uma certa quantia na compra de um carrinho novo para trabalhar na folia. O ambulante espera ter um lucro na faixa dos R$ 10 mil, “mas isso Deus � quem sabe”, contou. Animado com o “carnaval atrasado”, conforme define a edi��o de 2023, ap�s a interrup��o de dois anos devido � pandemia, En�as esteve na Fleming junto com a esposa, D�bora de F�tima Ribeiro, e acredita em boas vendas de bebidas alco�licas, refrigerantes, sucos, �gua mineral e outras novidades.
“Temos duas bebidas que prometem fazer o maior sucesso: o Xeque Mate e o Gingibre”, contou. En�as ainda explica que Xeque Mate � uma mistura refrescante de mate, rum, guaran� e lim�o. J� o Gingibre, como o pr�prio nome diz, tem gengibre, lim�o e gin na composi��o. “Vamos acabar de matar esse 'corona'”, afirmou sobre o coronav�rus, que prendeu as pessoas em casa em 2021 e 2022.
Pesquisa
Uma pesquisa de inten��o de consumo com 921 foli�es, feita pela �rea de Estudos Econ�micos e o setor de Neg�cios Tur�sticos do Sistema Fecom�rcio MG, Sesc e Senac e apoiada pela Belotur, revelou que 67,31% dos entrevistados pretendem comprar bebidas com frequ�ncia na m�o de ambulantes. Em compara��o, bares e restaurantes s� ser�o procurados para esse consumo 14% das vezes.O carnaval se consolidou nos �ltimos anos e tem atra�do cada vez mais ambulantes para a festa, principalmente pessoas que pretendem, de alguma maneira, completar a renda e esperam bons lucros.
“O lucro varia. Muitos ambulantes est�o come�ando agora e n�o t�m aquela experi�ncia que alguns j� t�m, mas conversando durante esses eventos (pr�-carnaval) eles esperam tirar entre R$ 5 mil e R$ 10 mil de lucro”, retorna Adjailson Severo.
A pesquisa ainda observa que �gua e cerveja dominam a prefer�ncia dos foli�es, que v�o consumir as bebidas com recorr�ncia. J� falando em pre�os m�dios, a Prefeitura de Belo Horizonte informa que interfere ou sugere valores para as mercadorias comercializadas no carnaval, mas o consumidor pode encontrar com os ambulantes pre�os que variam entre R$ 3, em um simples pacote de bala, e R$ 25, alguma bebida mais cara.
A queridinha cerveja pode ser encontrada em um custo que varia de R$ 7 a R$ 10. A �nica regra imposta para os trabalhadores ambulantes impede a venda de alimentos, bebidas fracionadas e em recipientes de vidro.
* Estagi�rio sob supervis�o do subeditor Marc�lio de Moraes
Competi��o maior gera apreens�o
Pessoas que atuam atr�s do carrinho e da caixa h� muitos anos relatam que a previs�o de faturamento nesta edi��o do carnaval � ainda mais dif�cil de ser feita, devido � imprevisibilidade da festa, mas contam que em outros anos o faturamento chegou a R$ 25 mil no final do m�s de fevereiro. Jaqueline Cardoso, por exemplo, atua como ambulante desde os 10 anos. Hoje com 43, ela conta que n�o tem muita expectativa de lucro com a festa devido � alta competi��o entre os “caixeiros”.
Investindo em m�dia R$ 3 mil, a trabalhadora afirma que o n�mero grande de ambulantes credenciados pode complicar a vida de muitos. “N�o fa�o ideia de quanto vou tirar, � muito ambulante junto. Em um lugar s� voc� v� cerca de 200 a 300 caixas juntas. Atrapalha muito”, disse Jaqueline, lembrando que em outros carnavais o n�mero de ambulantes chegava a 5 mil pessoas e agora j� passa de 16 mil.
No �ltimo fim de semana de pr�-carnaval, a ambulante atuou em blocos como o Asa de Banana, na Avenida Get�lio Vargas, e o ClandesTinas, na Rua da Bahia. Mesmo com o intenso movimento, ela relata vendas ruins e prefere nem comentar em termos de lucro no dia. Ela ainda finaliza dizendo que � preciso ter uma estrat�gia de venda e pensar em alguma promo��o para n�o ter preju�zos.
Genis Alves compartilha do mesmo pensamento que a companheira ambulante. Coordenador da Central de Apoio ao Trabalhador Ambulante (Cata) – uma organiza��o que tem tentado mobilizar a categoria –, o ambulante atua na �rea desde 2014, nunca perdeu um carnaval e tamb�m espera uma dificuldade em lucrar. “�s vezes voc� chega em um bloquinho e tem mais ambulantes do que foli�o”, observou Genis.
Com experi�ncia na �rea, ele ainda detalha que o investimento do ambulante roda em torno de R$ 3 mil, por�m � algo dif�cil de ser previsto, pois pode existir a necessidade de reposi��o de mercadoria. “O ambulante, � medida que vai vendendo ele gira. Por exemplo, esvaziou a caixa e tem alguma distribuidora perto ou algum ponto de apoio da Ambev, ele precisa repor a mercadoria. N�o tem como dar um valor espec�fico porque isso na pr�tica n�o acontece”, contou Genis.
No �ltimo carnaval, em 2020, ele chegou a tirar R$ 12 mil no fim da festa, representando seu maior lucro no ano. O representante do Cata ainda afirma que � necess�ria uma pol�tica p�blica melhor para o carnaval e o n�mero de ambulantes credenciados precisa ser discutido com a prefeitura. “Essa cr�tica precisa ser debatida com o poder p�blico no decorrer do ano, at� para n�o dar preju�zo para o iniciante. Lembro-me de que em outras edi��es a gente chegava nos blocos e com duas horas esvaziava as caixas. Hoje voc� tem que ir em dois ou tr�s lugares”, completa Genis. (BN, GW e LP)
Projeto de lei regulamenta atividade
O Plen�rio da C�mara Municipal de Belo Horizonte (CMBH) aprovou por unanimidade (36 votos a favor e nenhum contra), na sexta-feira, o PL 783/2019. De autoria da vereadora Cida Falabela (Psol) e da ex-vereadora, e agora deputada estadual, Bella Gon�alves (Psol). O texto altera trechos do C�digo de Posturas de Belo Horizonte que comprometiam a atividade ambulante em manifesta��es espont�neas e abria brechas para o recolhimento do material dos trabalhadores.
Em conversa com o Estado de Minas, a deputada Bella conta que o projeto n�o vale para o carnaval. “� entendido que � importante ter uma regulamenta��o pr�via do carnaval que estabele�a suas diferentes quest�es. Mas ele (PL 783/2019) abre espa�o para que atividades de bebidas em caixas, em manifesta��es culturais, art�sticas, pol�ticas e em jogos de futebol – que hoje acontecem de forma informal – possam ser credenciadas pelo Poder Executivo. A ideia � que para al�m do carnaval o trabalhador tenha oportunidades na cidade e isso deve ser regulamentado pela prefeitura”, disse Bella Gon�alves.
O projeto de lei foi uma demanda dos pr�prios trabalhadores, que, em um grupo de quase 50 ambulantes, levaram a quest�o, em 2019, para as vereadoras, sendo considerado uma importante conquista da classe, que cada vez mais tem se mobilizado politicamente. “Desde 2016, quando a prefeitura tentou impor a venda de uma marca espec�fica de bebida, a gente tem se mobilizado. Aqui em Belo Horizonte, a gente se credencia na �poca do carnaval, mas no decorrer do ano era criminalizado e o projeto de lei vai ajudar nisso”, disse Genis Alves, que al�m de ambulante e coordenador do Cata, atua como coordenador estadual Movimento dos Trabalhadores Sem Direitos (MTSD).
A vereadora Iza Louren�a (Psol), que tem forte interlocu��o com a categoria, conta que o PL foi dif�cil de ser aprovado, pois exigiu uma forte articula��o das parlamentares. “N�o � o que a gente queria, mas os trabalhadores ambulantes j� consideram um avan�o e abre caminhos para que a gente possa acabar com a persegui��o a essa categoria”, afirmou Iza. A vereadora tamb�m explica que hoje com 10 mil ambulantes credenciados no carnaval, o processo � algo plaus�vel. “� claro que a gente queria que tivesse a libera��o dos ambulantes tamb�m no carnaval, sem precisar do cadastramento, mas uma vez que � um processo acess�vel, achamos que n�o vamos ter problemas no carnaval nesse sentido”, disse.
Iza Louren�a e Bella Gon�alves tamb�m contaram que existe uma expectativa para que o PL seja sancionado pelo prefeito Fuad Noman (PSD) sem maiores problemas devido ao amplo debate que existiu com a prefeitura. “A prefeitura hoje � mais aberta para conversar sobre a quest�o dos ambulantes. A postura vem mudando muito e os trabalhadores j� conseguem se reunir com o Poder Executivo”, ressaltou Bella. (BN, GW e LP)

Enquanto isso...Ambulantes s�o Barrados em desfile da Banda Mole
No �ltimo s�bado, a tradicional Banda Mole, com 48 anos de carnaval, fez o 46º desfile da sua hist�ria, na Avenida Afonso Pena. O evento, no entanto, foi patrocinado pela Cervejaria Backer e n�o fez parte da programa��o oficial do carnaval de Belo Horizonte, o que pegou alguns trabalhadores ambulantes de surpresa. Durante as 10 horas de festa, os trabalhadores precisaram ficar do lado de fora do isolamento da regi�o ocupada pela Banda. Mesmo impedidos de entrar, os caixeiros esperavam lucrar do lado de fora do evento, que tinha uma espera de p�blico de mais de 50 mil foli�es. Por�m, a realidade n�o foi o que muitos trabalhadores queriam. “A expectativa era de vender R$ 8 mil, zerar o estoque, mas n�o chegou nem a R$ 200”, disse Devanildo Teixeira (foto), auxiliar de servi�os gerais que esperava tirar um extra como ambulante. Patrick Carlos, de 24 anos, trabalha com Uber no dia a dia, mas para conseguir um extra tamb�m foi atuar como ambulante no carnaval. Barrado no evento da Banda Mole, ele relata que a situa��o foi muito complicada, conseguindo vender um valor de R$ 50 at� meados do evento. Com a caixa cheia, ele argumenta que a situa��o foi complicada pela maneira como foi conduzida. “Colocaram todo mundo junto do lado de fora, os ambulantes um do lado do outro e com certeza isso fica mais dif�cil da gente vender na frente de um supermercado ainda, fica dif�cil”. Patrick, que fez um investimento de R$ 2 mil para estar no bloco, queria vender no m�nimo mil para minimizar o preju�zo. “Foi decepcionante”, disse o jovem.