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Estado de Minas AMOR A DEUS

Jovens brasileiros e africanos convivem em semin�rio centen�rio em BH

No Semin�rio Arquidiocesano Cora��o Eucar�stico de Jesus, a f� e o sonho de se tornarem padres unem os estudantes


08/04/2023 07:46 - atualizado 08/04/2023 07:50

Ivan Cândido da Silva, de Pernambuco
(foto: Leandro Couri/EM/D.A. Press)

"H� uma grande car�ncia de padres na minha regi�o, onde h� locais de dif�cil acesso"

Ivan C�ndido da Silva, de Pernambuco


S�o 11h30 de uma ter�a-feira ensolarada, e a luminosidade torna mais verde o gramado no interior do Convivium Ema�s, no Bairro Dom Cabral, na Regi�o Noroeste de Belo Horizonte. O local inaugurado h� cinco anos abriga o centen�rio Semin�rio Arquidiocesano Cora��o Eucar�stico de Jesus (Sacej), que re�ne 60 jovens com um objetivo: estudar oito anos para ser padre.

Com o t�rmino das aulas da manh�, os jovens, despertos desde as 5h30, dirigem-se ao refeit�rio, mas, antes do in�cio do almo�o, aproveitam alguns minutos no espa�o aberto. Ao jeito mineiro, juntam-se sotaques nordestinos e o portugu�s falado em Mo�ambique, pa�s africano banhado pelo Oceano �ndico, e em S�o Tom� e Pr�ncipe, no Atl�ntico. A presen�a de seminaristas de outros estados brasileiros e do exterior se deve a uma parceria, para interc�mbio, firmada entre a Arquidiocese de Belo Horizonte, � qual o Sacej est� vinculado, e dioceses dos locais de origem dos jovens. � o que mostra essa segunda reportagem da s�rie sobre a forma��o de padre no Sacej, semin�rio que completa 100 anos.

Nascido em S�o Paulo (SP) e criado em Araripina, no sert�o de Pernambuco, a 690 quil�metros da capital, Recife, Ivan C�ndido da Silva, de 40 anos, retrata um brasileiro que une o pa�s – a m�e, F�tima Silva, � nordestina, e o pai, Ari C�ndido, paranaense – e tem o desejo, t�o logo termine os estudos, de retornar � terra natal, p�r em pr�tica os ensinamentos e fazer o trabalho de evangeliza��o. A ordena��o sacerdotal, ainda sem data, ocorrer� na diocese de Salgueiro (PE). Em julho, estar� de partida, com a sensa��o do dever cumprido e saudade dos amigos que fez em BH.

De fam�lia simples, pobre e muito cat�lica, conforme declara, Ivan foi coroinha, quando crian�a, espelhou-se em tios religiosos, incluindo uma tia, freira salesiana, e fez uma experi�ncia, aos 18 anos, ingressando no semin�rio de Petrolina (PE). Ali, viu que n�o se sentia vocacionado – e o novo caminho foi o curso de pedagogia, com posterior trabalho em escola. A cada dia, no entanto, o chamado da f� ficava mais forte. “O cora��o bateu no compasso certo diante da vontade de Deus.”

Aos 33 anos, Ivan fez um reencontro com a voca��o e entrou no semin�rio em Caruaru, no sert�o pernambucano. “Voltei � sala de aula, voltei a ser estudante, e agora concluo o curso de teologia na PUC Minas”, afirma, motivado a servir � comunidade com as a��es mission�rias e comunit�rias. “H� uma grande car�ncia de padres na minha regi�o, onde h� locais de dif�cil acesso. Assim, fica mais dif�cil ainda atender, �s vezes, at� 65 comunidades de f�, o que significa um sacerdote para cada grupo de 60 mil pessoas.”

Com voz de tenor e integrante do coral Core, do Sacej, o devoto de S�o Jos� quer usar a arte para chegar ao maior n�mero de fi�is. “Precisamos atender �s car�ncias da popula��o. E levar a Palavra de Deus se torna fundamental, pois as necessidades s�o grandes e permanentes, no Brasil inteiro”, afirma Ivan.

Faizal Jamal, de Moçambique, na África
(foto: Leandro Couri/EM/D.A. Press)

"Penso que a m�sica � uma trilha certeira para chegar ao cora��o dos jovens"

Faizal Jamal, de Mo�ambique, na �frica


Libras 

O seminarista maranhense Rayson Chagas, de 30, quer usar, al�m de toda a forma��o filos�fica e teol�gica, o conhecimento da L�ngua Brasileira de Sinais (Libras), pr�pria dos surdos. Com o movimento das m�os, ele comunica o “amor por Deus”, e espera conquistar, assim, um maior n�mero de fi�is para a Igreja.

Natural de S�o Domingos do Maranh�o, a 380 quil�metros da capital do estado, S�o Lu�s, Rayson formou-se em biomedicina antes de entrar para o semin�rio, na diocese de Caxias (MA). “Sabe aquela hist�ria de ter um universit�rio na fam�lia? Pois foi assim. Sou de uma fam�lia pobre, e esse era o desejo da minha m�e, Suely Ferreira. Depois de concluir o curso, voltei para minha voca��o. Deus � t�o perfeito, que tudo entrou nos eixos.”

O despertar para a vida religiosa ocorreu na inf�ncia: Rayson foi coroinha, conheceu a din�mica das celebra��es na par�quia onde morava, viu como trabalhavam os padres. A for�a da f� o ajudou muito quando a av� Maria Andrelina, conhecida como Maria Batata, hoje com 83 anos, adoeceu gravemente. Muitas rezas depois, a alegria voltou a iluminar o rosto do maranhense, quando Maria Batalha come�ou a andar. “Ela est� muito bem”, orgulha-se.

E como ficou sua m�e ao ver voc� trocar a biomedicina pelo semin�rio?, pergunta o rep�rter. “N�o foi f�cil, mas ela aceitou a voca��o dos dois filhos. Curiosamente, meu irm�o se tornou frei franciscano (frei Raylan Chagas). Estou muito feliz com minha decis�o, e, ao terminar a forma��o no semin�rio, quero voltar para a terra natal.”

Rayson Chagas, do Maranhão
(foto: Leandro Couri/EM/D.A. Press)

"Depois de concluir o curso de biomedicina, voltei para minha voca��o"

Rayson Chagas, do Maranh�o



Forma��o 

At� chegar a presb�tero (padre), o seminarista passa por longo per�odo de estudos – de sete a oito anos com mais um ano de trabalho pastoral. Seis meses antes da ordena��o sacerdotal, condi��o que permite celebrar missas, atender confiss�es e consagrar a h�stia, ele se torna presb�tero.

Desde o primeiro ano no semin�rio, na fase proped�utica, quando h� prepara��o para a vida comunit�ria, o jovem pode ajudar nas missas, mas tudo depende do p�roco. Depois da proped�utica, o seminarista tem tr�s anos de estudos filos�ficos, para a forma��o humana, intelectual e espiritual, na etapa Discipular; e mais quatro anos, na fase Configurativa, de teologia, de estudos da Palavra de Deus. Essa etapa ocorre na PUC Minas.

Tamb�m como parte do interc�mbio, h� jovens de pa�ses africanos no Sacej. E o interc�mbio s� tem a contribuir na forma��o, acreditam o mo�ambicano Faizal Jamal, de 26, e �ngelo Bandeira, de 25, nascido em S�o Tom� e Pr�ncipe. Conversar com os dois � abrir portas para novas culturas, conhecer universos diferentes e ouvir hist�rias que chegam do outro lado do Atl�ntico.

“Se voc� notar bem no mapa, Madagascar (pa�s vizinho tamb�m banhado pelo Oceano �ndico) se encaixa perfeitamente no contorno de Mo�ambique”, diz Faizal Jamal, nascido em Pemba, no litoral mo�ambicano, “filho de um mu�ulmano e de uma crist� cat�lica”. Ao ouvir o coment�rio, o rep�rter acrescenta: “� mais ou menos como a �frica e o Brasil!”. A conversa inicial faz Faizal voltar no tempo, falar sobre outro idioma oficial do seu pa�s, Makua, contar o significado de Pemba (“boiar sobre as �guas”) e dizer que sua cidade tem “a terceira ba�a mais bela do mundo”. Numa consulta ao Google, v�-se que ele tem raz�o.

A trajet�ria de Faizal inclui a escolha inicial, engenharia mec�nica, curso para o qual ganhou bolsa de estudos e deixou de lado, uma experi�ncia na Sociedade Mission�ria da Boa Nova (de vida apost�lica de cl�rigos e leigos), o namoro com duas meninas ao mesmo tempo e “uma inquieta��o” que o levava a “v�rios questionamentos”. O tempo passou e o adolescente foi tirando do caminho o que n�o se enquadrava no seu jeito de ver o mundo. E transformou as inquieta��es em rumo certo.

Disposto a viver uma “nova realidade”, ingressou no semin�rio de Montepuez, onde cumpriu o ano inicial, e depois seguiu para outro semin�rio, desta vez na prov�ncia de Nampula, no Norte de Mo�ambique, para tr�s anos de filosofia. A BH, chegou em 2021, e espera a ordena��o sacerdotal para 2025 ou 2026. Entre os planos, na volta a Mo�ambique, est� o de trabalhar com comunidades mais carentes e a juventude – e para isso tem um grande aliado: o viol�o. “Penso que a m�sica � uma trilha certeira para chegar ao cora��o dos jovens.”

Voz do cora��o 

De uma fam�lia cat�lica de 13 irm�os, de S�o Tom� e Pr�ncipe, no Oeste da �frica, o seminarista �ngelo Bandeira gosta de cantar. E soltar a voz e o cora��o est� em seus projetos como presb�tero, o que dever� ocorrer daqui a quatro anos. “A vida vocacional � um processo no qual vamos discernir todos os dias. Muitos sonham em ser padre, mas � preciso sentir um ‘chamado’, e confesso que desde crian�a eu o escutei”, define o estudante do primeiro ano de teologia, na PUC Minas.

A jornada passa, necessariamente, pela experi�ncia, e �ngelo conta que foi para o semin�rio dos mission�rios claretianos, aos 17 anos, ap�s a conclus�o do ensino m�dio. Estudou durante quatro anos em Angola at� vir para BH, que considera, neste m�s de mar�o de altas temperaturas, “mais quente do que em S�o Tom� e Pr�ncipe”. Em Minas, a exemplo do colega Faizal, fez muitos amigos, embora sentindo diferen�a nas refei��es, especialmente quanto aos temperos. “� bem diferente”, sorri.

Confiante no futuro, �ngelo v� um padre como guia espiritual, e, nos momentos de aconselhamento, tamb�m um “irm�o mais velho”: algu�m com quem se pode conversar em seguran�a e acolhida. “Cada um tem sua personalidade, jeito de viver, e espero que o melhor mesmo seja confiar em Deus e abrir o cora��o de crist�o cat�lico”.

Ao retornar � �frica, �ngelo quer levar a Palavra de Deus onde for poss�vel. E, como gosta de cantar, soltando a voz para se fazer ouvir, j� que a arte derruba fronteiras e une as na��es


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