
Raimundo Coelho da Silva, de 65 anos, trabalha como gari h� 44 anos na capital mineira e conta que iniciou na profiss�o ao deixar o antigo emprego porque a proposta de trabalho como gari era muito mais vantajosa. Seu irm�o j� atuava na �rea da limpeza urbana na cidade.
"Eu trabalhava em uma multinacional, em 1977, 78, e tinha um irm�o que trabalhava na limpeza urbana. E ele falou comigo que aqui [na limpeza urbana] pagava melhor. Ent�o, vim para a limpeza urbana. Por exemplo, se eu ganhasse tr�s sal�rios l� [antigo emprego], na limpeza urbana, eu ganhava seis", explicou.
Seu Raimundo justifica que � �poca em que come�ou a trabalhar como gari, poucas pessoas queriam ingressar nesse emprego. "A profiss�o era o �ltimo emprego do mundo."
Quando come�ou na limpeza urbana, seu Raimundo atuava na coleta de lixo nas ruas, correndo atr�s do caminh�o. Ele relatou � reportagem que atuou na fun��o durante cerca de 20 anos e enfatizou o peso dessa rotina di�ria.
"Quando voc� est� na coleta de lixo, ela � um trabalho mais corrido, um trabalho que tem que ter for�a para correr atr�s do caminh�o. Muita disposi��o, porque o servi�o � penoso. Na �poca, quando trabalhava na Floresta, Santa Tereza, Sagrada Fam�lia, [...], creio que n�s faz�amos o Bairro Santa Tereza todinho, com uns 20, 25km", ressaltou.
No entanto, seu Raimundo destacou que, com o decorrer do tempo, ele foi se acostumando com a rotina e levando o dia de trabalho com leveza.
"Todo trabalho, voc� tem que fazer com muito amor e carinho. Voc� vai se acostumando com as coisas. No decorrer do tempo, voc� leva aquilo como uma brincadeira. Porque voc� sai brincando com todo mundo, voc� sai sorrindo com as pessoas, as pessoas te cumprimentando", completou.
De l� pra c�, seu Raimundo descreve que a rotina permanece a mesma, mas com outras �reas de atua��o. Atualmente, ele trabalha na coleta de lixo nos becos de vilas, locais em que os caminh�es n�o conseguem acessar, colocando nas ruas onde esses ve�culos passam recolhendo os res�duos.
"A rotina n�o muda muito, n�o. A gente continua sendo o mesmo gari, fazendo o mesmo trabalho, mas em locais diferentes. Para essa coleta de vilas, n�s sa�mos aqui do setor [no bairro Pompeia] e daqui, n�s vamos l� para o Alto Vera Cruz, onde temos um local onde ficam os carrinhos [de coleta] guardados. A gente faz a coleta e coloca na rua principal, onde o caminh�o passa", explicou.
Do preconceito ao respeito pela profiss�o
Quando perguntado sobre quais s�o as lembran�as que ele tem dos anos na profiss�o, seu Raimundo deixa evidente o preconceito com o of�cio de gari.
"Antigamente, o gari era considerado igual a um pacote de lixo. Ningu�m, naquela �poca, queria trabalhar de gari. Voc� pedia �gua nas casas, a pessoa tirava �gua da torneira e dava no copo de vidro para voc� e ela mandava jogar o copo de vidro fora. A gente passava nos col�gios, e falavam 'Cheiroso, cheiroso'. Ent�o, era assim naquela �poca", lembrou.
No entanto, seu Raimundo salienta a mudan�a de postura das pessoas para com os profissionais que trabalham com a limpeza urbana e coleta de lixo. Em sua vis�o, atualmente, h� mais respeito com os garis.
"Hoje, as pessoas respeitam os profissionais, porque vejo hoje um gari como um profissional de sa�de, um agente de sa�de. 'Voc� j� imaginou se n�o existisse um gari e essas ruas ficassem 15, 20 dias sem limpar? O quanto teria de doen�a?'", destacou.
Por fim, seu Raimundo deixou uma mensagem em homenagem a essa data especial, salientando a import�ncia da categoria, fa�a chuva, sol, frio ou calor.
"N�s somos guerreiros e guerreiras do dia a dia com sol ou com chuva, n�s estamos presentes. A gente agradece � popula��o por esse carinho que tem com a gente. Que Deus aben�oe nossos familiares, os familiares deles e que a sociedade tenha mais consci�ncia, porque lixo n�o se joga na rua e precisa de uma consci�ncia melhor para que a gente viva melhor, que a gente cuide da nossa cidade melhor", finalizou.

*Estagi�rio sob supervis�o