
Lagoa Santa – Atitude comum a uma popula��o amedrontada e em busca de seguran�a, a instala��o de c�meras voltadas para as ruas est� proibida por criminosos envolvidos em homic�dios, roubos e tr�fico de drogas no Bairro Vila Maria, em Lagoa Santa, na Grande BH. Sobretudo na Avenida Jos� Bispo Lisboa, v�rios desses aparelhos foram retirados, deixando como testemunhas hastes vazias e os conectores pendentes nos fios entre as espirais de l�minas das concertinas dos muros.
Inseguran�a e sil�ncio imperam neste que � um dos bairros mais oprimidos, do segundo munic�pio-sede mais cr�tico em termos de cumprimento de metas fixadas para conten��o de crimes violentos por unidades da Pol�cia Militar de Minas Gerais em 2022 (veja quadro). Das 89 unidades militares mineiras, 29, o equivalente a um ter�o, n�o conseguiram atingir as metas que a corpora��o fixou para conter essa modalidade de crimes, segundo dados exclusivos obtidos pela reportagem do Estado de Minas.
O levantamento usa dados do relat�rio de 2022 da Gest�o de Desempenho Operacional (GDO) da PMMG. Essa metodologia de acompanhamento de resultados estabelece que, com ocorr�ncias at� 10% acima da meta de conten��o de criminalidade, o n�vel de a��o da unidade “requer aten��o”, o que correspondeu a 16 batalh�es e companhias independentes. N�veis que ultrapassam 10% al�m da meta est�o na classifica��o “insatisfat�rio”, que somou 13 unidades.
Os crimes classificados como violentos, segundo a Secretaria de Estado de Justi�a e Seguran�a P�blica (Sejusp), s�o estupro, extors�o, extors�o mediante sequestro (incluindo sequestro-rel�mpago), homic�dio e tentativas, roubos e tentativas, sequestro e c�rcere privado e tentativas.
Alerta
Pelos crit�rios da PM, a unidade de desempenho mais cr�tico em 2022 foi o 17º Batalh�o de Uberl�ndia (Leste municipal e Centro da cidade), onde o somat�rio desses crimes aumentou 31,08% de 2021 para 2022, segundo o relat�rio. A meta de conten��o, que era de 207,2 crimes por grupo de 100 mil habitantes, bateu em 268,43 (29,55% acima do limite fixado).
Essa unidade � um orgulho para a cidade e para os mineiros, pois sua hist�ria remonta ao 17º Batalh�o de Volunt�rios da P�tria que lutou na Guerra do Paraguai (1864-1870). Hoje, seu desempenho � desafiado por zonas de adensamento populacional e condi��es sociais prec�rias.
A outra unidade do munic�pio � o 32º Batalh�o, que conseguiu atingir a meta e fechou 2022 com o 41º melhor desempenho em rela��o ao objetivo fixado em Minas, com 6,24% menos ocorr�ncias por 100 mil habitantes do que o limite estabelecido pelo comando.
TR�FICO No caso de Lagoa Santa, a unidade que est� sediada na cidade e que apresentou o segundo desempenho mais cr�tico no estado � a 8ª Companhia Independente (Lagoa Santa, Confins, Jaboticatubas e Santana do Riacho), com 28,95% mais crimes violentos em 2022 que em 2021, tendo um limite fixado em meta de 154,11 crimes por 100 mil habitantes, mas que chegou a 198,73 (+28,95%).
Os bairros de Lagoa Santa onde h� incid�ncia mais preocupante de crimes s�o o Vila Maria (e conjuntos habitacionais), Santos Dumont, Vila Jos� Fagundes, Aeronautas, Vis�o e Francisco Pereira. No Bairro Vila Maria, onde c�meras est�o sendo banidas por criminosos, h� um sentimento entre comerciantes e moradores de que a situa��o piorou quando uma jovem de 19 anos com a filha de 1 ano no colo foi morta e a crian�a ferida ap�s o disparo de 14 tiros de duas pessoas em uma moto, em 27 de mar�o.
O crime ocorreu na beira da Avenida Jos� Bispo Lisboa, perto da coluna de um telefone p�blico. “Todo mundo que tinha c�meras de seguran�a apontadas para as ruas foi intimado a virar ou a tirar, para n�o mostrar a a��o do pessoal do tr�fico e da bandidagem. Aqui, ningu�m fala sobre isso. Ningu�m quer morrer”, disse um trabalhador da regi�o, sob condi��o de anonimato.
No alto do bairro, o Cemit�rio Campo da Saudade tem ainda covas recentes e coroas de flores rec�m-depositadas nas sepulturas p�blicas de seis v�timas de crimes mortas neste ano. “Aqui temos amigos e vizinhos, mas n�o queremos nos juntar a eles. Nosso grito de socorro � um pedido de ajuda em sil�ncio”, disse outro morador, perto das sepulturas de onde se avista de um lado a comunidade fragilizada e de outro os condom�nios de luxo.
Integra��o
Para o presidente do Conselho de Seguran�a P�blica de Lagoa Santa, Xisto Moreira, al�m da explos�o demogr�fica, a popula��o flutuante na cidade ou a caminho de destinos como a Serra do Cip� demanda mais investimentos em seguran�a. “Estamos em negocia��o com a prefeitura e o Poder Judici�rio para a forma��o da Integra��o e Gest�o de Seguran�a P�blica, para reunir todos os atores de defesa social e tra�ar solu��es.”
Crimes monitorados pela pm
» Homic�dio e tentativas
» Estupro
» Sequestro e c�rcere privado e tentativas
» Roubos e tentativas
» Extors�o
» Extors�o mediante sequestro (inclui sequestro-rel�mpago)
Zonas cr�ticas dentro de BH
Em Belo Horizonte, apenas dois batalh�es n�o cumpriram os limites fixados para conter crimes violentos. Um deles foi o 34º (65 bairros da Pampulha � Regi�o Noroeste), que abrange a maior �rea do munic�pio e teve acumulado de ocorr�ncias violentas 2,32% acima do esperado.
Mas o desempenho mais cr�tico na capital foi o do 49º Batalh�o (Venda Nova), onde o limite fixado era 373,19 ocorr�ncias violentas por 100 mil habitantes, mas o resultado foi de 406,39 ( 8,9%). Em v�rios bairros da regi�o, moradores e comerciantes transformaram resid�ncias e lojas em fortalezas, com grades, c�meras, muros altos, cercas el�tricas, arames farpados e concertinas.
“O que a gente sente � que as pessoas est�o com medo. Todos os dias temos arrombamentos, roubos e por isso o servi�o de instala��o de grades nas portas e janelas � di�rio. Inibe o crime, faz tentar outro lugar. Aqui em Venda Nova, quem trabalha � noite � que vai para tr�s das grades”, admite El�i Santos, propriet�rio de uma serralheria muito acionada com prop�sitos de seguran�a no Bairro C�u Azul.
Investimentos
A presidente do Conselho de Seguran�a P�blica em Venda Nova, Cl�udia Mara, acredita que seja necess�rio ampliar os efetivos e as condi��es de policiamento na regi�o, bem como cuidar da popula��o usu�ria de drogas. “A instala��o nova do 49º Batalh�o vai trazer melhorias. � preciso valorizar os policiais que est�o dando as suas vidas, oferecendo a eles condi��es, viaturas, material e ganhos. Paralelo a isso, � preciso emprego e combate �s drogas”, afirma.
Monitoramento para melhorar desempenho
Entre as 60 unidades que melhor se sa�ram, com desempenho superior aos limites fixados para conten��o de crimes violentos, o destaque foi a 18ª Companhia Independente, sediada em Mantena, que reduziu em 43,33% os �ndices fixados. Em seguida, o 29º Batalh�o, de Po�os de Caldas, com desempenho 29,39% melhor e a 17ª Companhia Independente, de Igarap� (-25,45%).
Entre os 10 melhores, na Grande BH, al�m de Igarap�, figurou Sabar�, em 10º, com o 61º Batalh�o (-16,85%). O melhor batalh�o de Belo Horizonte foi o 41º, do Barreiro, tanb�m o 12º de Minas Gerais (-16,35%).
O uso da Gest�o de Desempenho Operacional tem ajudado a Pol�cia Militar a ter uma vis�o mais eficaz do trabalho, por gerar metas particularizadas para suas unidades, afirma o coronel Carlos J�nior, especialista em intelig�ncia de Estado e seguran�a p�blica. “Foi uma evolu��o da gest�o por estat�stica para uma orientada pelos resultados”, avalia.
“Por essa ferramenta, as unidades insatisfat�rias poder�o verificar quais os elementos que levaram a isso. Quando a luz vermelha acende no desempenho, a unidade tem de fazer relat�rio com diagn�stico e proposta para neutralizar os problemas, seja lan�ando efetivos especializados ou por intelig�ncia”, afirma o especialista.
Mas, ele pondera que h� um limite em que n�o � apenas a a��o da pol�cia que resulta em redu��o dos crimes. “Temos experimentado uma redu��o ano a ano da criminalidade. Por isso, � preciso avaliar se as metas tamb�m n�o est�o se tornando muito apertadas”, afirma.
TRI�NGULO No caso de Uberl�ndia, o coronel Carlos J�nior identifica como problemas reca�rem sobre o 17º Batalh�o a �rea Central e a sa�da para Uberaba, que tem se adensando como ponto de extrema vulnerabilidade social na regi�o, sendo o boom imobili�rio e o adensamento de �reas vulner�veis tamb�m os problemas de Lagoa Santa.
“O roubo (subtrair bens por meio de viol�ncia f�sica ou amea�a) � um dos principais componentes dos crimes violentos nesses dois locais, sendo 69% das ocorr�ncias de Uberl�ndia e 33% das de Lagoa Santa; est� muito ligado ao tr�fico. J� em Venda Nova, temos uma regi�o muito isolada e ainda nos limites com �reas dormit�rios, como os munic�pios de Ribeir�o das Neves e Vespasiano”, considera.
Prefeitura
Ainda que n�o seja respons�vel diretamente pela �rea, a Prefeitura de Uberl�ndia afirma que tem auxiliado por meio de parcerias que j� permitiram programas para melhorar a seguran�a p�blica e nos ambientes escolar, dom�stico e rural. “Em 2022, cerca de R$ 7 milh�es foram investidos na seguran�a p�blica por meio de conv�nios que autorizaram repasses �s institui��es e ajudaram a otimizar os trabalhos em Uberl�ndia”, informou a administra��o municipal.
Consultada pelo EM, a Pol�cia Militar de Minas informou que a Gest�o de Desempenho Operacional � uma ferramenta interna, que opera a partir de metas estipuladas ano a ano, conforme a din�mica criminal. “Por meio desta gest�o de desempenho cir�rgica, a PMMG tem contribu�do para a redu��o cont�nua da criminalidade violenta, em especial os �ndices de homic�dios em todo o estado, fazendo de Minas Gerais o estado mais seguro do pa�s”, afirma a corpora��o.
A PM acrescenta que promove em todas as regi�es a��es preventivas para coibir a criminalidade violenta, al�m de opera��es repressivas qualificadas. “A institui��o ressalta a import�ncia de medidas de autoprote��o, para que o cidad�o n�o se torne v�tima em potencial dos infratores, que se aproveitam da distra��o para praticar delitos. Em caso de emerg�ncia, acione a Pol�cia Militar, via 190, imediatamente”, aconselha a corpora��o.