"Belo Horizonte, bom mesmo � estar aqui". � o que diz a letra da m�sica do sambista carioca Noel Rosa, dedicada � capital mineira, onde morou por uma temporada antes de morrer por complica��es da tuberculose. Entre o fim do s�culo 19 at� os anos 1950, BH era conhecida por ter um clima supostamente adequado para tratar a doen�a.
T�o jovem quanto a nova capital, Noel, nascido em 1910, no Rio de Janeiro, foi diagnosticado com tuberculose em meados da d�cada de 1930. Edgar Mello, m�dico, amigo e respons�vel pela an�lise do sambista, sugeriu ent�o que o carioca passasse um tempo em Belo Horizonte, inaugurada oficialmente em 1897, como alternativa de tratamento. Assim, o compositor saiu de Vila Isabel para desembarcar em Minas em 1935.
Muito arborizada e com clima de montanha, Belo Horizonte tinha o apelido de Cidade Jardim. Caracter�sticas que a medicina do come�o do s�culo passado acreditava serem ideais para tratar pacientes com doen�a respirat�ria. Isso fez com que a capital mineira ganhasse fama de cidade-sanat�rio. Artistas, pol�ticos e empres�rios de v�rios cantos do Brasil, como os escritores Asc�nio Lopes e Achilles Vivacqua, que fizeram caminho semelhante ao de Noel Rosa em busca de uma suposta cura.

Irresist�vel vida bo�mia
Em BH, Noel Rosa recusou-se a ficar internado em um sanat�rio especializado no atendimento de pessoas com tuberculose e foi morar na casa dos tios, no Bairro Floresta, Regi�o Leste da capital. Depois, considerou internar-se em uma unidade m�dica especializada. Por�m, mesmo doente, a vida bo�mia atraia o cantor, que sempre dava umas fugidinhas na noitada mineira.
O compositor frequentava os bares e restaurantes do Centro de BH, o luxuoso Grande Hotel, que ficava localizado onde hoje � o Edif�cio Maletta, e at� fez apresenta��es na R�dio Mineira, que encerrou suas atividades em 1997. Em uma de suas idas � r�dio, foi abordado por um jornalista que solicitou a Noel uma marcha para o carnaval.
Segundo relatos dos amigos que fez pela capital, o talentoso compositor prontamente fez uma letra. O relato foi narrado por Roberto Negreiros para edi��o de 13 de maio de 1937 do Di�rio da Tarde, dos Di�rios Associados.
Segundo relatos dos amigos que fez pela capital, o talentoso compositor prontamente fez uma letra. O relato foi narrado por Roberto Negreiros para edi��o de 13 de maio de 1937 do Di�rio da Tarde, dos Di�rios Associados.

Trotes em nome do embaixador
Entre as atividades recreativas que Noel praticava por BH, estava o que hoje seria considerado trollagem. Com o personagem "Embaixador Bill", criado pelo sambista, ele promovia trotes telef�nicos di�rios para pessoas aleat�rias da capital. Na liga��o, se apresentava com o codinome e, com um tom misterioso, se despedia.
O per�odo na cidade foi curto, mas ele teve tempo at� para disputar torneios de futebol de bot�o com moradores do Bairro Floresta, onde vivia com seus parentes. De acordo com relatos, o sambista se dizia integrante de uma liga do Rio, onde praticava o esporte. As mesmas declara��es afirmam que Noel sempre ganhava.

Apesar de tentar convencer seu amigo Edgar, por meio das correspond�ncias que mantinham, de que estava melhor de sa�de, menos de seis meses depois de chegar em Belo Horizonte, Noel Rosa n�o teve melhora significativa. Cansado da interven��o, decidiu voltar para o Rio de Janeiro. Pouco tempo depois, em 1937, o compositor morreu precocemente aos 26 anos.
"(...)Creio que fiz muito mal
Em desprezar o cigarro:
Pois n�o h� material
Pro meu exame de escarro!
At� agora, s� isto.
Para o bem dos meus pulm�es,
Eu nem brincando desisto
De seguir as instru��es."
Noel deixou um legado de quase 250 composi��es. Entre elas, uma homenagem � capital mineira. Na letra ele declara que entre cacha�a, cigarro e outras pontua��es, Belo Horizonte � o que "h� de melhor" para ele.
“Belo Horizonte
Deixa que eu conte
O que h� de melhor pra mim
N�o � o bord�o deste meu viol�o
Nem � a prima que eu firo assim
N�o � a cacha�a
Nem a fuma�a
Que no meu cigarro vi
Belo Horizonte
Deixa que eu conte
Bem mesmo � estar aqui(…)”
O ar puro da nova capital
A climatoterapia, um processo de cura com media��o das condi��es clim�ticas de um determinado local, era considerada pela medicina da �poca um dos melhores m�todos para tratar a tuberculose. As orienta��es m�dicas sugeriam que, al�m do ar puro, os pacientes deveriam manter repouso e uma boa alimenta��o.
Como cumpria todos os requisitos da �poca, Belo Horizonte tornou-se um dos principais abrigos para pessoas diagnosticadas com a doen�a, assim como Arax�, no Alto Parana�ba, e Po�os de Caldas, no Sul de Minas. Fora das terras mineiras, outras cidades tamb�m eram refer�ncia no atendimento a pacientes com doen�as infecciosas no come�o do s�culo 19, como Campos do Jord�o (SP) e S�o Jos� dos Campos (SP).
Em 1928, BH inaugurou o primeiro sanat�rio, idealizado pelo m�dico carioca Hugo Werneck. A unidade tinha capacidade para 180 leitos, no entanto, durante a epidemia que marcou o pa�s no in�cio do s�culo 20, chegou a acolher mais de 250 pacientes.
No mesmo ano, a primeira institui��o p�blica da cidade destinada ao tratamento de tuberculosos foi lan�ada, a Vila dos Trabalhadores Convalescentes, que dois anos depois da inaugura��o passou a chamar-se Sanat�rio Morro das Pedras. O objetivo dos mentores, o m�dico Henrique Marques Lisboa e o barbeiro Jos� Cesar dos Santos, era tratar pessoas com baixa condi��es financeiras, j� que o tratamento na maioria das vezes era privado.
No mesmo ano, a primeira institui��o p�blica da cidade destinada ao tratamento de tuberculosos foi lan�ada, a Vila dos Trabalhadores Convalescentes, que dois anos depois da inaugura��o passou a chamar-se Sanat�rio Morro das Pedras. O objetivo dos mentores, o m�dico Henrique Marques Lisboa e o barbeiro Jos� Cesar dos Santos, era tratar pessoas com baixa condi��es financeiras, j� que o tratamento na maioria das vezes era privado.
Logo, a capital mineira ganhou outros sanat�rios, que deram origem a hospitais de atendimento geral que atualmente s�o refer�ncias em BH e em Minas, como o Alberto Cavalcanti, o Madre Teresa, o J�lia Kubitschek, o Hospital da Baleia e o Eduardo de Menezes.
Sabia N�o, Uai!
O Sabia N�o, Uai! mostra de um jeito descontra�do hist�rias e curiosidades relacionadas � cultura mineira. A produ��o conta com o apoio do vasto material dispon�vel no arquivo de imagens do Estado de Minas, formado tamb�m por edi��es antigas do Di�rio da Tarde e da revista O Cruzeiro.O Sabia N�o, Uai! foi um dos projetos brasileiros selecionados para a segunda fase do programa Acelerando Neg�cios Digitais, do Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ), programa apoiado pela Meta e desenvolvido em parceria com diversas associa��es de m�dia (Abert, Aner, ANJ, Ajor, Abraji e ABMD) com o objetivo de atender �s necessidades e desafios espec�ficos de seus diferentes modelos de neg�cios.