Pra�a do Peixe � um dos espa�os de entretenimento que est�o na lista da prefeitura de belo horizonte para serem repaginados (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press. 13/07/2022)
O projeto para a constru��o do Parque de Integra��o na Lagoinha, no bairro hom�nimo na Regi�o Nordeste de Belo Horizonte, tem causado controv�rsias por parte dos moradores do local. Ainda sem previs�o de in�cio das obras de interven��o espacial, especialistas t�m vis�es distintas com rela��o ao que est� sendo proposto pelo Executivo municipal.
Lan�ado em julho de 2022, o edital publicado pela Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura previa a elabora��o de estudos e a confec��o de projeto que contemplava, al�m do parque, a constru��o de uma pista de skate e tamb�m uma passarela e uma passagem subterr�nea para pedestres, com a inten��o de integrar as regi�es do entorno.
De acordo com o Plano de Qualifica��o Urban�stica Centro-Lagoinha, “o projeto busca melhorar as condi��es de circula��o de pedestres; implantar equipamentos relacionados � pr�tica de esportes, lazer e contempla��o; melhorar a ilumina��o, arboriza��o, ajardinamento e o paisagismo”.
Mais de um ano depois, os projetos ainda n�o est�o conclu�dos. A previs�o divulgada pela PBH � para que as licita��es das obras tenham in�cio no primeiro semestre de 2024.
A administra��o municipal ainda ressaltou que est�o em fase de elabora��o os projetos executivos para a requalifica��o das pra�as do Peixe, Vaz de Melo e parte da Pra�a Leste, bem como a elabora��o de anteprojeto da passarela.
Projeto para o bairro contempla constru��o de pista de skate e passagem subterr�nea (foto: Tulio Santos/EM/D.A.Press)
PEDIDO POR INCLUS�O
J� a passagem subterr�nea para pedestres, a requalifica��o das pra�as Central e da Arte e altera��es vi�rias do entorno ainda precisam ter seus projetos executivos licitados.
Contudo, na vis�o de Teresa Vergueiro, presidente do Movimento Lagoinha Viva, o projeto proposto pela prefeitura se mostra insuficiente para a quantidade de demandas que o bairro possui.
“Bom, quando a Prefeitura de Belo Horizonte veio com a ideia do Parque da Lagoinha n�o foi bem recebido pelos moradores. Porque a Lagoinha tem in�meras necessidades que s�o extremamente antigas e tamb�m s�o muito mais necess�rias do que o parque”, disse.
(foto: Reprodu��o/Redes sociais)
"A gente vem para fortalecer esse movimento, evidenciar a cultura, fortalecer essa narrativa de revitaliza��o. E tamb�m por que a gente acredita que o Lagoinha � o melhor bairro de Belo Horizonte. As mazelas est�o a�, mas a Lagoinha n�o � s� isso, muito pelo contr�rio, a Lagoinha � samba, alegria, tradi��o e hist�ria"
Fantini Forbeck, PROPRIET�RIA DO AQUILOMBAR
Teresa ainda argumentou que, ap�s a constru��o do parque, os moradores de rua far�o uso do espa�o para moradia e ir�o inviabilizar o uso do local por parte dos habitantes do bairro.
“Ent�o, o Parque da Lagoinha vem criar uma situa��o que pode at� ser um pouco interessante para os moradores em situa��o de rua. Porque a prefeitura n�o tem hoje um projeto para tirar as pessoas da rua. Ent�o, eles v�o ter um parque para morar. E n�s, moradores, n�o vamos poder usufruir”, acrescentou.
Luciana Bragan�a, professora da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), analisou o problema e evidenciou discuss�es um pouco mais complexas. Conforme dados apresentados no �ltimo Censo, im�veis vazios equivalem a 20 vezes mais a popula��o de rua em BH.
Nesse sentido, a especialista explicou que as din�micas de ocupa��o de um local n�o habitado tendem a ser um pouco diferentes do que se pode imaginar � primeira vista.
“Os lugares que t�m uso s�o menos prop�cios para que as pessoas morem. Se voc� tem uso, uma ocupa��o que � constante, as pessoas podem at� morar ali, mas elas v�o ficar um pouco incomodadas”, afirmou.
Diante desse cen�rio, no entendimento de Luciana, a constru��o de um parque pode ser interpretada como um espa�o de media��o entre problemas complexos e pessoas em situa��o diversas e desiguais.
“Acho que a ideia de um parque traz para o espa�o um uso que vai fazer com que convivam melhor as pessoas em situa��o de rua com a popula��o em geral. Acho que a ideia de um parque p�blico, de um jardim, ele media algumas situa��es”, completou.
A professora ainda trouxe o exemplo da iniciativa denominada “Hortel�es da Lagoinha”, que inclui pessoas da regi�o, inclusive aquelas em situa��o de rua, na manuten��o e constru��o de jardins, recuperando espa�os urbanos e transformando em locais produtivos.
Vilmar Sousa, que representa o Movimento Viva Lagoinha, sinalizou que o contexto dessas pessoas que vivem em situa��o de vulnerabilidade social, por exemplo, debaixo dos viadutos, n�o est� sendo considerado pelo projeto proposto pela prefeitura.
“A proposta que eles [prefeitura] est�o pleiteando � uma proposta de interven��o espacial sem nenhum cuidado com mais de 200 pessoas que moram debaixo do viaduto. O desenho proposto, no nosso entendimento, vai favorecer a fixa��o das pessoas na rua, quando essas pessoas precisam ter casa, abrigo e outras formas de morar”, ressaltou.
A PBH argumenta que tem promovido a��es e instalado locais para o atendimento e acolhimento dessa popula��o. Segundo o Executivo municipal, uma unidade do Centro Integrado de Atendimento � Mulher est� instalada na Lagoinha. O local objetiva atender mulheres em situa��o de vulnerabilidade social.
BAIRRO DA LAGOINHA � CONHECIDo POR SER UMA DAS ESTA��ES DE METR� MAIS AGITADAS (foto: Fotos: Tulio Santos/EM/D.A.Press)
O bairro abriga tamb�m uma unidade do Centro de Refer�ncia da Popula��o de Rua (Centro Pop), que oferece orienta��es, encaminhamentos para outros servi�os p�blicos e oferece banheiros (banho e sanit�rio) e lavagem de roupas para as pessoas em situa��o de rua.
Na vis�o do coordenador do Movimento Nacional da Popula��o, Samuel Rodrigues, em geral, as grandes interven��es em espa�os p�blicos da cidade n�o incluem todas as pessoas afetadas, como as que vivem em situa��o de vulnerabilidade. Para ele, a inser��o dessas pessoas � fundamental para a constru��o de alternativas para essa popula��o.
“Se a gente n�o inserir essa popula��o de rua e suas representa��es nos f�runs, os movimentos e a pr�pria popula��o nesse debate, a gente fica muito temeroso com esses processos ditos revitalizadores”, completou.
PROJETO PRETENDE PROMOVER MAIOR QUALIDADE DE VIDA A TODOS OS MORADORES E MELHORAR A MOBILIDADE URBANA NAQUELA REGI�O
Agito cultural para revitalizar
Um outro aspecto que pode favorecer a��es de revitaliza��o na regi�o da Lagoinha s�o as novas possibilidades e o surgimento de uma cena cultural no local. A apari��o de bares e restaurantes instalados no bairro tem fortalecido esse agito cultural.
Rafael Quick, um dos s�cios da Cervejaria Viela, ressaltou a import�ncia hist�rica e cultural do bairro na hist�ria de Belo Horizonte e contou � reportagem que � um dos poss�veis lugares que podem ser contemplados com uma expans�o do empreendimento que ele administra.
“A Lagoinha � um lugar inclusivo, com uma riqueza muito grande, que conta a hist�ria da cidade, do samba, da boemia. � um lugar que a gente v� com bons olhos”, comentou.
Nessa linha de novos espa�os culturais na Lagoinha, a regi�o ter� uma estreia no in�cio do pr�ximo m�s, com a casa de shows e espa�o cultural Aquilombar. De acordo com a s�cia desse empreendimento, Fatini Forbeck, a casa de shows chega para agregar a esse movimento de revitaliza��o e tamb�m de valoriza��o dos aspectos culturais produzidos na Lagoinha.
“A gente vem para fortalecer esse movimento, evidenciar a cultura, fortalecer essa narrativa de revitaliza��o. E tamb�m por que a gente acredita que o Lagoinha � o melhor bairro de Belo Horizonte. As mazelas est�o a�, mas a Lagoinha n�o � s� isso, muito pelo contr�rio, a Lagoinha � samba, alegria, tradi��o e hist�ria [da cidade], tamb�m”, destacou.
Fatine tamb�m falou sobre um fato significativo e especial a respeito da estreia do Aquilombar, localizado na Rua Itapecerica, 865, Lagoinha. A s�cia ainda faz um convite a toda a popula��o de Belo Horizonte para estar presente na abertura do espa�o, no dia 2 de novembro.
“A gente vai abrir a casa no dia 2 [de novembro] e estava at� comentando aqui que vamos abrir a casa no dia dos mortos para celebrar a vida. Celebrar a vida da diversidade, a vida da Lagoinha, mesmo. E a nossa proposta � ter Belo Horizonte como protagonista, especialmente, nesse campo cultural. E a gente est� fazendo um convite para a cidade conhecer o nosso espa�o”, finalizou.
*Estagi�rio sob supervis�o do subeditor Gabriel Felice
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