
“Curva da morte” � como ciclistas, moradores e comerciantes do Bairro Santa In�s, na Regi�o Leste de Belo Horizonte, t�m chamado um trecho da Via 710 que passa pelo local. Desde a finaliza��o das obras da via na regi�o, em fevereiro, quem frequenta ou vive no bairro convive com o medo e inseguran�a devido ao alto n�mero de acidentes que ocorrem na altura do n�mero 940, pr�ximo da Esta��o Jos� C�ndido da Silveira. Segundo a prefeitura da capital, sem�foros ser�o implantados no local at� o fim do ano.
A constru��o da Via 710, que atravessa oito bairros das regi�es Leste e Nordeste, foi iniciada em 2014, ainda na administra��o do ex-prefeito Marcio Lacerda (PSB), com a promessa de facilitar o acesso �s regi�es, reduzindo custo e tempo de deslocamento e sem impactar a �rea central da cidade. A previs�o inicial era de t�rmino das obras antes da Copa do Mundo, no mesmo ano, mas o prazo n�o foi cumprido.
Em um v�deo gravado em setembro, � poss�vel ver a cabine de um caminh�o destru�da ap�s invadir a cal�ada e derrubar um poste. “Ao chegar ao servi�o tivemos uma pequena surpresa, olha o que virou esse caminh�o aqui na porta”, diz o homem respons�vel pela grava��o. A naturalidade na fala de quem est� acostumado com o cen�rio de batidas � traduzida tamb�m na cal�ada e no port�o de uma casa na regi�o, que apresentam diversas marcas de pneu e frenagens de quem n�o conseguiu fazer a curva. “J� presenciei diversos acidentes aqui, capotamento, carro subindo ali no canteiro, outro dia carro e moto trombaram. Antes disso, no m�s passado um motoqueiro bateu aqui de madrugada e morreu”, enumera C�ssio.
Com esse cen�rio em mente, o ciclista e funcion�rio p�blico Cristiano Scarpelli se uniu a outros ciclistas e moradores da regi�o para reivindicar mais seguran�a para o local. “Eu tinha que fazer esse trajeto todo dia quando trabalhava na Cidade Administrativa. Atualmente, n�o passo tanto mais no dia a dia, mas vou para acompanhar esse problema da curva que eu vi de perto”, afirma Cristiano.
Foi ele, inclusive, quem teve a ideia de colocar uma c�mera voltada para a regi�o que, em 10 dias, registrou quatro acidentes. A ideia inicial era contar a quantidade de ciclistas que passam pelo local para um projeto pessoal de Cristiano, mas, ap�s contato com a popula��o, o funcion�rio p�blico acabou percebendo que a filmagem poderia ser �til para o registro de acidentes tamb�m. “A gente instalou de maneira muito prec�ria, na janela de um morador. Mas o pessoal est� avaliando colocar permanente, j� que registrou acidentes, inclusive a primeira morte”, conta.
De acordo com Scarpelli, al�m dos problemas relativos � falta de sinaliza��o, redutores de velocidade e a localiza��o da faixa de pedestres, quem pedala sofre com o tra�ado da ciclovia que, em cima da curva, muda do lado esquerdo para o direito da via. “O motorista em alta velocidade n�o v� quem atravessa e o pedestre e ciclista n�o veem o carro”, afirma. Cristiano ainda acrescenta: “� um inferno para quem mora aqui. Voc� pode acordar a qualquer hora com barulhos muito violentos, gente pedindo socorro. Pode ser a qualquer hora do dia, mas acontece principalmente � noite”.
POSS�VEIS SA�DAS
“Uma via deve ser segura para os carros mas, principalmente para os pedestres”, afirma o mestre em Engenharia de Transportes e pesquisador da Funda��o Get�lio Vargas (FGV) Paulo Rog�rio Monteiro. De acordo com ele, para estabelecer o limite de velocidade de uma passagem, � necess�rio entender como se classifica a via, ou seja, se � arterial, coletora ou local, e se a geometria do local possibilita que o carro trafegue com seguran�a em determinada velocidade.
“A Via 710 � arterial, ent�o, � necess�rio que ela tenha uma velocidade mais alta, gra�as ao maior fluxo de carros e por, normalmente, ter menos pedestres em torno”, explica. Ainda sim, afirma, se em um local o carro perde o ponto de tang�ncia e sai pela curva, � sinal de que ou a geometria da via n�o condiz com sua classifica��o ou o limite de velocidade praticado � maior do que o permitido pela geometria.
Segundo Paulo, a instala��o de um ponto de redu��o de velocidade antes da curva, como quebra-molas ou radar, contribuiria para que os carros entrassem na curva com uma velocidade mais compat�vel, aumentando a seguran�a do local.
Sobre a faixa de pedestres, o pesquisador explica que o dispositivo deve respeitar o fluxo de quem caminha pelo local e que a instala��o � feita onde � percebido um maior n�mero de pessoas atravessando. “Colocar uma faixa em uma curva com ve�culos em alta velocidade n�o � a coisa mais sensata a se fazer, mas se esse � o melhor ou o �nico lugar, � necess�rio reduzir a velocidade”, diz.
Paulo considera ainda que a instala��o de um sem�foro com botoeira, que permite que o pedestre aperte o bot�o para fechar o sinal, tamb�m seria uma poss�vel solu��o. “� claro que � necess�rio levar em considera��o os estudos do local e tratar a resolu��o de problemas de maneira equilibrada, j� que uma baixa velocidade tamb�m pode causar problemas”, finaliza.
Reivindica��o da popula��o
Com a frase “A vida pede passagem na Via 170”, a popula��o que reside e frequenta o trecho pr�ximo � curva se reuniu no dia 19 de outubro com o secret�rio de Governo, Castellar Neto, para apresentar as reivindica��es de aumento da seguran�a no local. O encontro contou tamb�m com a presen�a do vereador Wagner Ferreira (PDT) e da BHTrans. De acordo com Cristiano, um dos respons�veis pela mobiliza��o, o resultado da conversa foi a promessa de controle semaf�rico e estudo para instala��o de redutores de velocidade. “Agora � esperar para ver mas, enquanto isso, vamos continuar alertando e acompanhando a situa��o at� ter melhora efetiva”, conta. Por meio de nota, a Prefeitura de Belo Horizonte confirmou que est� prevista a implanta��o de sinaliza��o semaf�rica no local at� o fim do ano. n
* Estagi�ria sob supervis�o da subeditora Rachel Botelho