Gigantes com uma apar�ncia inquietante aparecem de um dia para outro nos muros de Lisboa: pintados em cartazes e colados, parecem anunciar dias dif�ceis para Portugal, um dos pa�ses da Europa mais atingidos pela crise.
Um deles tapa as orelhas para n�o ouvir, outro estende os bra�os, como se pedisse ajuda. Um outro, com a valise aos p�s, e os cal�ados amarrados ao pesco�o, parece pronto para partir. O seguinte amea�a os transeuntes com um velho sapato furado, um gesto que lembra o ato c�lebre contra o ex-presidente George W. Bush.
"Meus personagens s�o sombras, gente pobre. Alguns deixam o pa�s por causa da crise. N�o resta a eles nada al�m de seus sapatos que, �s vezes, amea�am servir de arma. S�o um pouco assustadores pela sua forma, mas nunca s�o malvados", explica o artista franc�s Paul Bloas, que criou esses estranhos cartazes.
Para este pintor, nascido em Brest h� 50 anos, os s�mbolos s�o importantes. Em Lisboa, seus gigantes s�o envoltos em manchas que "representam, talvez, a destrui��o do tempo. Pode-se ver, tamb�m, cravos que fenecem: os da revolu��o de 1974 agora esquecida", comenta.
Cabe�a raspada, olhos azuis, barba bem cortada, ao lado de seus personagens de mais de 3 m de altura, Paul Bloas parece um duende brincalh�o. Ele pega sua vassoura especial e cola seus cartazes num tempo m�nimo, com muita habilidade.
Mas n�o cola jamais em qualquer lugar. Isso � primordial. Ele percorre a cidade, geralmente a p�, � procura do melhor local que estuda longamente com os dedos, dipostos em forma de visor de c�mera.
"Minha vis�o � cinematogr�fica e �, talvez para mim, uma forma de fazer cinema", comenta ele.
Para fazer seu cinema, Paul Bloas n�o pede autoriza��o. Chega com seus cartazes, sua vassoura e a cola e disp�e seus personagens onde lhe parece melhor. "Em Bilbao, eu colei um gigante na parede do comissariado central", lembra-se ele.
"Este homem precisa de ajuda", comenta Jos� Roque, um lisboeta de 50 anos diante de um gigante, com as m�os estendidas, ainda com a cola pingando. "Ao contr�rio, ele nos protege", declara um passante.
"As pessoas interpretam as imagens a seu gosto. Veem detalhes que n�o observei", afirma o pintor.
Em Lisboa, nos deparamos com os gigantes de Paul Bloas no centro da cidade, em volta de uma ruela estreita inclinada, que termina numa escadaria escarpada. N�s os encontramos, tamb�m, �s margens do Tejo, perto de f�bricas ou hangares abandonados. "As zonas industriais, atingidas pela crise, � um meio que mais conv�m aos meus personagens", explica o artista.
Segue para o Porto, a segunda cidade de Portugal, onde colar� 20 cartazes. Depois, viajar� para a It�lia, talvez para a Gr�cia. "Meu itiner�rio cruza aquele da crise", comenta.
Mas a vida desses gigantes � curta. Queimados pelo sol, rasgados pelo vento, lavados pela chuva, eles desaparecem, em m�dia, ao final de tr�s meses. "� esse lado ef�mero que me estimula. � o que me faz continuar a criar", conclui o pintor.