Recome�ar a vida e amenizar as sequelas sofridas nos �ltimos 10 anos, que parecem ter sa�do de um roteiro de filme de terror. Georgina DeJesus, desaparecida aos 14 anos, em 2004; e Amanda Berry, capturada na v�spera de seu anivers�rio de 17 anos, em 21 de abril de 2003, deram um passo nessa dire��o, quando familiares prepararam uma recep��o emocionante para as jovens, em Cleveland (Ohio). Vestida com um casaco amarelo, Georgina sinalizou com o polegar direito, ao chegar � sua casa, da qual n�o mais se lembrava. "A �nica coisa que fiz foi agarr�-la e abra��-la", afirmou a m�e, Nancy Ruiz. "Eu tive cora��o e alma para lutar, a fim de presenciar esse dia", completou o pai, Felix DeJesus. Bal�es, flores e fotos enfeitavam a resid�ncia dos Berry. Horas antes, Amanda e a filha de 6 anos, Jocelyn, nascida no cativeiro, entraram pelos fundos. "Estamos t�o felizes por ter a Amanda em casa! Pedimos privacidade para nos recuperarmos", declarou a irm�, Beth Serrano. Michelle Knight, sumida aos 18 anos, em 2002, permanecia hospitalizada. Trancadas no por�o da casa de um porto-riquenho e obrigadas a se transformarem em escravas sexuais, as tr�s foram libertadas no fim da tarde de segunda-feira.
A promotoria de Cleveland denunciou Ariel Castro, de 52 anos, por quatro acusa��es de sequestro e tr�s de estupro. Seus irm�os, Pedro (de 54 anos) e Onil (de 50), tamb�m foram detidos, mas n�o responder�o por qualquer crime. "N�o h� nada que nos leve a crer que eles estivessem envolvidos ou tivessem conhecimento disso", disse o subchefe da pol�cia da cidade, Ed Tomba. "N�s n�o descobrimos fatos que os vinculem ao crime." Os investigadores confirmaram a apreens�o de cordas e de correntes encontradas dentro do im�vel. Um suposto bilhete de suic�dio, escrito anos atr�s por Ariel, chamou a aten��o das autoridades. Na mensagem, o porto-riquenho afirma ser viciado em sexo, fala dos problemas familiares e lembra a inf�ncia marcada pela pobreza. Tamb�m culpa as tr�s mulheres por terem entrado em seu carro nos dias dos sequestros. For�adas a usarem coleiras e submetidas a sess�es de espancamento, Amanda, Georgina e Michelle foram "treinadas" para n�o fugir. Por v�rias vezes, Ariel fingiu ter sa�do de casa para surpreender as mulheres e tortur�-las, em caso de fuga.
MANIPULA��O "Ariel Castro usou o medo e a intimida��o como as principais formas de controle das ref�ns. Ele amea�ava as mulheres para que n�o fugissem. E prometia recompens�-las, caso cooperassem. Era uma manipula��o f�sica e emocional bastante s�lida", explicou por telefone Timothy A. Dimoff, um renomado consultor de seguran�a em Ohio, ex-detetive e agente federal. De acordo com ele, o sequestro das tr�s mulheres tinha como motiva��es a submiss�o e o abuso sexual. "Depois de 10 anos de estupros, jamais se recuperar�o completamente do trauma. Precisar�o aprender a se reajustar ao mundo real. Mas algumas das cicatrizes jamais se fechar�o", comentou Dimoff. "Raptos com fins sexuais s�o muito mais comuns nos Estados Unidos do que se imagina."
Diretora da Alian�a de Ohio pelo Fim da Viol�ncia Sexual, Katie Hanna destaca a import�ncia de dar a Georgina, Amanda e Michelle um espa�o para come�arem o processo de cura. "Essa hist�ria pode ser um estopim e um lembrete para outras v�timas que sobreviveram a crimes similares. Para que a recupera��o ocorra, precisamos devolver a essas mulheres o poder para tomarem as pr�prias decis�es sobre quais experi�ncias desejam compartilhar, quando e com quem", afirmou por e-mail.