Em Qunu, o povoado sul-africano onde Mandela passou sua inf�ncia, os habitantes se preparam solenemente para o retorno de seu filho mais ilustre, que ser� sepultado no dia 15 de dezembro na terra de seus antepassados.
Os idosos desta aldeia caminham cabisbaixos e baixam a voz para falar do her�i da luta contra o apartheid, falecido na quinta-feira aos 95 anos.
"Estamos de luto, merece todo o nosso respeito", declarou o chefe Mfundo Mtirara, sobrinho de Nelson Mandela.
Na regi�o, nestas aldeias escondidas entre as colinas da prov�ncia Oriental do Cabo, longe de Johannesburgo, o pudor pro�be uma express�o ruidosa das emo��es. Nada de c�nticos, portanto, para lembrar Madiba - o nome do cl� de Mandela, utilizado de forma afetuosa para se referir a ele - nem de vig�lias � luz de velas. Tampouco ser�o realizadas dan�as.
A casa de Mandela, que domina esta paisagem descrita com ternura em suas mem�rias, � s�bria e n�o se v� nenhuma agita��o ao seu redor. Nada que lembre a efervesc�ncia que reina nos arredores de sua casa de Johannesburgo, onde pessoas an�nimas deixam flores e mensagens de p�sames desde quinta-feira. Alguns soldados e policiais montam guarda em suas imedia��es. Como sempre.
A estrada asfaltada que passa em frente � casa foi fechada ao p�blico, j� prevendo a grande aflu�ncia de visitantes.
O chefe Mtirara foi o encarregado de anunciar a not�cia do falecimento a alguns dos parentes de Mandela: "Um grande homem se foi, estamos profundamente tristes, embora soub�ssemos que esse dia iria chegar", declarou � AFP.
"Merecia nosso respeito enquanto estava vivo, vamos seguir respeitando-o em sua morte", afirma o chefe tradicional, que vive muito perto da casa de Madiba.
Qunu ser� o centro do mundo no dia 15 de dezembro, quando os l�deres mundiais assistirem ao enterro do Pr�mio Nobel da Paz 1993.
A aldeia n�o imagina o "furac�o" que se aproxima.
Neste s�bado, uma delega��o do povoado viajar� a Johannesburgo para se reunir com familiares de Mandela e se informar sobre a organiza��o do funeral.
Na aldeia, homens velhos fumam cachimbos e andam devagar, parando para falar entre eles sobre a morte de Madiba: "Nossos antepassados nos entregaram ele, agora volta com eles", comentou Albert Njokweni, um pastor de ovelhas.
Mandela "teve uma vida longa e dif�cil, mas foi esta dificuldade que nos trouxe a liberdade. J� � hora de descansar entre seu povo", declarou. "N�o acredito que este povoado volte a ver um homem como ele. Estamos agradecidos de poder dizer que era um dos nossos", acrescentou.
A cidade mais pr�xima de Qunu � Mthatha, que se encontra a 30 quil�metros de dist�ncia. Tem um museu dedicado a Mandela. As suas bandeiras est�o a meio mastro e os retratos de Madiba est�o pendurados nos postos de ilumina��o.
Um supermercado pendurou um imenso retrato com a mensagem: "Descanse em paz, Nelson Mandela. Voc� � uma lenda, um pai e, acima de tudo, nosso l�der".
Mandela, apesar de seus 27 anos na pris�o e de sua trajet�ria como l�der internacional, nunca perdeu o contato com suas ra�zes ou com a cultura de seu povo Xhosa, com o qual afirma ter adquirido seus valores essenciais.
Descendente colateral de uma linhagem real, Mandela retornar� no domingo ao seu povoado para descansar no t�mulo familiar, junto aos seus pais e a tr�s de seus filhos falecidos.
Na ter�a-feira ser� organizada uma cerim�nia no est�dio Soccer City de Soweto (perto de Johannesburgo) para homenage�-lo. E na quarta, quinta e sexta-feira seus restos mortais cruzar�o as ruas de Pret�ria todas as manh� at� a sede do governo para que o povo sul-africano possa se despedir de seu l�der.
No domingo Mandela ser� finalmente enterrado em Qunu.