O acordo de cessar-fogo entre Israel e os palestinos era respeitado nesta quarta-feira, ap�s 50 dias do conflito sangrento na Faixa de Gaza que os dois lados afirmam ter vencido. Milh�es de palestinos e israelenses passaram uma noite tranquila ap�s a entrada em vigor da tr�gua na ter�a-feira �s 19h local (13h de Bras�lia), depois de uma guerra que deixou 2.143 palestinos mortos, 70 do lado israelense, e que devastou o territ�rio palestino sob bloqueio israelense desde 2006.
O Ex�rcito israelense indicou que nenhum foguete foi disparado a partir de Gaza e que suas for�as n�o realizaram nenhum ataque. "Dormimos toda a noite sem ouvir um �nico ca�a", declarou entusiasmado Moataz Chalah, um morador de Gaza, que disse � AFP ter retornado ao trabalho nesta quarta-feira de manh�. Um comerciante, Attia al-Najrar, reabriu sua loja "para ver o que vai acontecer", dizendo que a situa��o econ�mica estava em seu n�vel mais baixo no territ�rio palestino, devastado e superlotado.
"Esta guerra foi um desastre, casas foram destru�das, campos agr�colas devastados, ficamos sem nada", resumiu, em tom amargo, Nida Chabaane.
Mas o acordo conclu�do na ter�a-feira sob os ausp�cios dos eg�pcios cria muitas esperan�as. Ele prev� a abertura das passagens entre Israel e a Faixa de Gaza e uma flexibiliza��o do bloqueio que sufoca h� anos seus 1,8 milh�o de habitantes.
No entanto, as quest�es mais sens�veis, como a liberta��o de prisioneiros palestinos, a abertura de um aeroporto em Gaza e a desmilitariza��o do enclave palestino, devem ser discutidas durante conversa��es agendadas no Cairo dentro de um m�s.
Os l�deres do Hamas, invis�veis durante a guerra, apareceram ter�a � noite para comemorar junto com a popula��o a suposta vit�ria e garantindo aos habitantes de Gaza que em breve teriam um porto e aeroporto.
Mas nesta quarta-feira, um aliado pr�ximo do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, apagou tais esperan�as. "N�o haver� nenhum porto, nenhum aeroporto e nada que possa servir � produ��o de foguetes ou escava��o de t�neis, esta ser� a posi��o que vamos apresentar na retomada das negocia��es" no Cairo, declarou o vice-ministro das Rela��es Exteriores, Tzahi Hanegbi, � r�dio p�blica.
Empate
O Hamas, que infligiu as maiores perdas ao Ex�rcito israelense desde 2006, com 64 soldados mortos, est� se gabando de ter derrotado "o lend�rio Ex�rcito israelense que se diz invenc�vel" e obteve a flexibiliza��o do bloqueio, uma das principais reivindica��es palestinas.
Em contrapartida, do lado israelense, Liran Dan, um porta-voz de Netanyahu, proclamou � R�dio do militar que o Hamas "recebeu os golpes mais duros desde a sua cria��o" e "sofreu uma derrota militar e pol�tica", j� que tr�s de seus principais comandantes militares foram mortos em ataques israelenses. "O Hamas n�o obteve nada do que exigia", garantiu. Por sua vez, a imprensa israelense expressava d�vidas nesta quarta-feira.
"Empate", esta foi a manchete do jornal Maariv (centro-direita). "Muito pouco, muito tarde", considerou por sua vez o Yediot Aharonot sobre os resultados da opera��o "Barreira de Prote��o", lan�ada no dia 8 de julho, enquanto o jornal Israel Hayom, pr�-Netanyahu, afirmou que "o Hamas se rendeu, mas sobreviveu".
De acordo com relatos da imprensa, Netanyahu se recusou a conduzir uma vota��o do gabinete de seguran�a antes de aprovar o cessar-fogo, ao qual pelo menos quatro dos seus oito membros contestavam.
Esta discord�ncia foi expressa no governo pela voz de Uzi Landau, ministro do Turismo e membro do partido nacionalista Israel Beiteinu. "O sentimento geral � de que se pagou ao terrorismo", disse � r�dio p�blica. "Israel deu a impress�o de que queria a paz a qualquer pre�o o que reduziu o nosso poder de dissuas�o".
Esperan�as de uma tr�gua s�lida
Internacionalmente, o secret�rio de Estado americano, John Kerry, saudou o acordo, esperando que esta nova tr�gua seja mantida, assim como o secret�rio-geral da ONU, Ban Ki-moon, que disse esperar que o cessar-fogo seja um "prel�dio de um processo pol�tico".
O chanceler franc�s, Laurent Fabius, tamb�m desejou um cessar-fogo "dur�vel", enquanto o Ir� saudou a "vit�ria" dos palestinos, e o Catar, um dos principais aliados do Hamas, afirmou que o acordo vai ajudar a "acabar com o sofrimento do povo palestino e alcan�ar suas reivindica��es leg�timas."
De acordo com o chefe da delega��o palestina, Azzam al-Ahmed, deve entrar imediatamente em vigor "o processo de abertura das passagens para as necessidades humanit�rias e de alimentos, de equipamentos m�dicos e de tudo o que ir� ajudar a reparar os sistemas de fornecimento de �gua, energia el�trica e telefonia m�vel".
A restri��o � zona de pesca de tr�s milhas n�uticas deve passar para seis milhas (11 km) e depois para 12, de acordo com Ahmed.
Ainda n�o h� detalhes sobre a poss�vel retomada das exporta��es a partir do territ�rio palestino ou da importa��o de materiais de constru��o para Gaza, cuja reconstru��o vai demorar meses ou anos depois que pelo menos 55 mil casas foram atingidas pelos ataques israelenses, segundo a ONU.