Donald Trump tentava nesta quinta-feira (1�) consolidar sua estatura como homem de Estado, no dia seguinte de seu encontro com o presidente mexicano, mas a virul�ncia de seu discurso contra os imigrantes em situa��o clandestina contrasta com sua vontade de ampliar sua base eleitoral.
Ainda n�o est� claro se o candidato republicano tenta ganhar ares de diplomata, assegurando sua fidelidade aos conservadores tradicionais do partido, ou se teria cedido � press�o da extrema-direita, desistindo de moderar sua posi��o nesse tema.
O fato � que seu discurso de quarta-feira (31) no Phoenix, Arizona, ficar� como o da den�ncia dos cerca de 11 milh�es de imigrantes em situa��o ilegal nos Estados Unidos, acusados de roubar o emprego dos americanos e de ser, em alguns casos, criminosos perigosos.
O magnata nova-iorquino n�o se comprometeu com expulsar, pela for�a armada, todos os imigrantes em situa��o clandestina, reconhecendo o desafio log�stico que uma opera��o dessas representaria. Garantiu, por�m, que "qualquer um que tenha entrado nos Estados Unidos ilegalmente � alvo de deporta��o".
A prioridade ser�, ent�o, expulsar imigrantes com antecedentes criminais, assim como aqueles que estejam com o visto vencido e os que abusam do sistema de benef�cios sociais do pa�s, declarou, prometendo recursos extras � pol�cia e �s unidades de fronteira.
Ele excluiu qualquer possibilidade de regulariza o que � ilegal, embora tenha evocado essa op��o, ligeiramente, na semana passada.
Concretamente, isso pode significar a prolonga��o do quadro prec�rio em que vivem essas pessoas, mexicanos em sua maioria, e que esperam h� anos - at� mesmo d�cadas - para sair das sombras.
A maioria dos americanos �, contudo, favor�vel a uma reforma migrat�ria. Depois da derrota na disputa pela Casa Branca em 2012, a c�pula republicana tentou conduzir o partido para uma posi��o mais conciliadora, de modo a ganhar a confian�a do eleitorado hisp�nico. Essa abertura fracassou, por�m, diante da oposi��o dos ultraconservadores do Tea Party.
Hoje, pelo menos 77% dos eleitores s�o favor�veis a algum tipo de regulariza��o dos "clandestinos", de acordo com uma pesquisa da rede conservadora Fox News divulgada nesta quinta. Em julho de 2015, eram 64% e, em 2010, apenas 49% eram a favor.
Quem pagar� o muro?
"Tem realmente um pouco de suaviza��o", admitiu Donald Trump, nesta quinta-feira, no programa de r�dio Laura Ingraham Show.
"Fazemos isso de uma maneira muito humana", completou, garantindo que a decis�o sobre os "clandestinos" n�o considerados "uma prioridade" ser� tomada bem mais tarde, "depois que tudo estiver estabilizado".
Os partid�rios de uma reforma migrat�ria n�o interpretaram seu discurso do mesmo modo.
"Esperamos que Trump apresente um plano concreto para parar a imigra��o clandestina futura, oferecendo uma solu��o realista para aqueles que vivem aqui sem status", reagiu o presidente da FWD.us, Todd Schulte.
A organiza��o foi criada pelo fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, e por outros executivos do Vale do Sil�cio.
"Infelizmente, Trump fracassou nos dois n�veis", completou.
O discurso lhe custou uma primeira baixa: Jacob Monty, membro de um comit� hisp�nico pr�-Trump, informa o site Politico. Um outro conservador latino pr�-Trump, Alfonso Aguilar, disse no Twitter se sentir "decepcionado e enganado".
J� os democratas aproveitam para mostrar aos comentaristas e analistas pol�ticos que Donald Trump n�o � capaz de mudar.
"Ele faz um discurso que parece com os discursos feitos ao longo da nossa Hist�ria contra os irlandeses, contra os imigrantes de origem italiana. contra os judeus do Leste europeu. Seriam todos criminosos que fazem coisas horr�veis e dev�amos expuls�-los", disse � emissora MSNBC o vice de Hillary Clinton, Tim Kaine.
Nesta quinta, em discurso diante da Legi�o americana, uma grande organiza��o de veteranos de guerra, Donald Trump adotou o tom de um futuro comandante-em-chefe.
Ele agradeceu ao presidente mexicano, Enrique Pe�a Nieto, por t�-lo recebido ontem.
"Podemos trabalhar juntos para conquistar grandes coisas, para nossos dois pa�ses", afirmou, repetindo o objetivo de conservar "empregos e riqueza em nosso hemisf�rio".
O �nico problema dessa viagem surpresa diz respeito � fatura do muro na fronteira entre os dois pa�ses, o qual Trump garante que ser� constru�do com recursos do M�xico.
Em entrevista coletiva ontem, no pa�s vizinho, ao lado de Pe�a Nieto, o tema n�o foi abordado diretamente. O presidente mexicano garantiu, depois do encontro, que advertiu Trump, em privado, que o pa�s n�o financiar� esse projeto.
