"Ruim com elas, pior sem elas": o secret�rio de Seguran�a P�blica do Estado do Rio que pediu para deixar o cargo, Jos� Mariano Beltrame, diz que a viol�ncia n�o tem solu��o sem a pacifica��o das favelas cariocas.
Em entrevista � AFP na favela Dona Marta, zona sul do Rio, Beltrame declara que o projeto das Unidades de Pol�cia Pacificadora (UPP) que ele criou h� dez anos significou "um extraordin�rio benef�cio para a cidade".
"As UPPs salvaram mais de 21.000 vidas", assegura, referindo-se � queda do n�mero de homic�dio no per�odo em que comandou as opera��es policiais.
Beltrame concedeu esta entrevista em seu �ltimo dia no posto antes de ser substitu�do por seu secret�rio adjunto, Roberto S�.
Do alto do Dona Marta, o policial de 59 anos mostra � AFP um muro grafitado que mal escondem os incont�veis impactos de de bala de grosso calibre. "� aqui que os traficantes fuzilavam seus inimigos. A situa��o � ruim, mas era muito pior sem as UPP", garante.
Com 6,5 milh�es de habitantes e uma enorme desigualdade social, o Rio enfrenta altos n�veis de criminalidade alimentados por grupos de traficantes altamente armados.
"Eu cmparo a UPP � anestesia antes de uma grande cirurgia. � a entrada da pol�cia para permitir depois a entrada da cidadania. Mas os poderes p�blicos n�o d�o continuidade a isso", explica mais uma vez Beltrame, como o fez ao longo da semana.
Dona Marta foi a primeira favela "pacificada" em 2008, com o objetivo de restabelecer a seguran�a na cidade antes do Mundial de 2014 e dos Jogos Ol�mpicos de agosto passado. Outras 39 se seguiram a ela.
Atualmente, a comandante da UPP do Dona Marta, uma favela pequena, � a tenente Tatiana Lima, que tranquiliza aos moradores porque muitos deles temem a viol�ncia policial.
Beltrame, membro da pol�cia federal e cat�lico praticante, pediu para deixar o cargo um dia depois de confrontos entre policiais e traficantes nas favelas Pav�o-Pav�ozinho e Cantagalo, que ficam entre Copacabana e Ipanema. O tiroteio semeou p�nico nesses dois bairros residenciais e tur�sticos por natureza. Tr�s suspeitos morrer e cinco pessoas ficaram feridas, sendo tr�s policiais.
"O que se passou no Pav�o-Pav�ozinho n�o � culpa da pol�cia", enfatiza Beltrame, que critica o poder judicial que muitas vezes relaxa a pris�o de delinquentes perigosos.
Ele explica que o traficante Samuca foi autorizado pela justi�a a sair da pris�o por causa do Dia das M�es e n�o voltou. Segundo os servi�os de intelig�ncia, ele queria "tomar todas as UPP da zona sul", o que resultou no tiroteio no Pav�o-Pav�ozinho, onde Samuca foi preso.
- UPP alcan�aram seu objetivo -
Beltrame explica � AFP que sua sa�da do cargo estava prevista para depois dos Jogos e nega ter jogado a toalha diante da intensifica��o da viol�ncia ou a grave crise financeira atravessada pelo Estado de Rio, o que amea�a a manuten��o das UPPs.
Cerca de 10.000 policiais foram mobilizados nessas comunidades, mas os traficantes buscam retomar o controle h� tr�s anos, quando as UPPs passaram por situa��es inc�modas.
Um dos casos mais not�rios foi o desaparecimento do pedreiro Amarildo Dias de Souza na favela da Rocinha, em julho de 2013, depois de uma opera��o policial, em uma ocorr�ncia que se transformou em s�mbolo da viol�ncia policial.
Beltrame responde �s cr�ticas afirmando que as UPPs alcan�aram seu objetivo: mostrar os bairros que estavam dominados pelo crime organizado e "unir o poder p�blico � sociedade para selar a paz".
"A paz n�o pode se reduzir �s a��es policiais", insiste Beltrame, que critica que a segunda etapa do programa das UPPs, que visava a entrada de servi�os sociais como creches, escolas e centros de sa�de, nunca aconteceu.
Ele afirma que seu sucessor seguir� com o programa das UPPs, admitindo, no entanto, estar "preocupado por causa da situa��o econ�mica e pol�tica do pa�s e financeira do Rio".
