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Estado de Minas

O triunfo do reggaeton, da marginaliza��o ao 'Despacito'


postado em 12/06/2017 10:46

O reggaeton toca sem parar nas r�dios, embora seus int�rpretes raramente sejam convidados para pr�mios musicais. Mas o sucesso de "Despacito" marca o triunfo do g�nero depois de anos de censura e marginaliza��o por sua rela��o com os porto-riquenhos das classes mais baixas.

Pouco a pouco, com um ritmo suave, a can��o dos porto-riquenhos Luis Fonsi e Daddy Yankee se tornou no m�s passado a primeira m�sica em espanhol a dominar o mercado anglo-sax�o desde "Macarena", em 1996.

Mas o percurso foi longo. Como nasceu o reggaeton e como superou os estere�tipos que o marginalizaram desde o in�cio?

A isso responde Petra Rivera-Rideau, professora de Estudos Americanos na Universidade de Wellesley em Massachusetts e autora do livro "Remixing Reggaet�n: The Cultural Politics of Race in Puerto Rico".

- Como o reggaeton evoluiu?

O reggaeton tem uma hist�ria longa e complexa. Embora muitas vezes seja associado a Porto Rico, combina influ�ncias musicais de toda a bacia do Caribe. Duas de suas maiores influ�ncias s�o o hip hop e o dancehall (ritmo jamaicano), que chegou pelo Panam�.

Nos anos 1990, os DJs porto-riquenhos combinaram estes elementos com outras influ�ncias para criar uma m�sica "underground" que circulou informalmente.

O "underground" era m�sica de festa, mas tamb�m dava espa�o �s cr�ticas pol�ticas e temas como pobreza, racismo e brutalidade policial.

� medida que o "underground" se propagou, passou a ser alvo de campanhas de censura em meados dos anos 1990 que, ironicamente, ajudaram a mostrar o g�nero a novos p�blicos. Nesta �poca come�ou a ser conhecido como "reggaeton".

Em 2012, Tego Calder�n lan�ou "El Abayarde", o �lbum que levou o reggaeton ao "mainstream" de Porto Rico. Depois, em 2004, Daddy Yankee lan�ou "Gasolina", que colocou o reggaeton no mapa da m�sica latina.

- Por quais problemas o g�nero passou?

Desde o in�cio o reggaeton teve uma reputa��o de hipersexualizado, mis�gino e de estar relacionado �s drogas e ao crime.

No meu livro, repasso duas campanhas de censura [...]. Uma foi em 1995, quando a pol�cia confiscou grava��es por suas associa��es com o sexo e as drogas; a outra aconteceu em 2002, quando o Senado porto-riquenho realizou audi�ncias para analisar o que percebia como representa��es hipersexualizadas das mulheres nos clipes musicais.

Estas campanhas de censura foram motivadas por estas novas express�es sobre o que era ser negro e porto-riquenho. O reggaeton deu aos artistas uma oportunidade de articular suas conex�es com a di�spora africana, especialmente para a juventude negra, e isto amea�ava o dogma de que n�o existia racismo em Porto Rico, porque mostrou que isso era falso.

- As letras s�o muitas vezes acusadas de mis�ginas, como o reggaeton responde a isso?

Penso que temos que ser cr�ticos com as representa��es mis�ginas do reggaeton. N�o obstante, n�o acredito que devamos culp�-lo exclusivamente por isso.

O g�nero n�o opera no vazio: h� problemas maiores de misoginia que devem ser abordados pelas sociedades de Porto Rico, dos Estados Unidos e da Am�rica Latina. E tamb�m pelas elites, que muitas vezes s�o deixadas de lado neste tipo de discuss�o.

- Em geral, as elites s�o as que mais criticam o reggaeton como um g�nero "menor". Por que essa percep��o?

O reggaeton sempre esteve ligado a comunidades v�timas de estere�tipos problem�ticos associados a comunidades pobres e n�o brancas.

Isto � o prolongamento dos antigos estere�tipos e da discrimina��o institucionalizada que desde os tempos da escravid�o existiram sobre a ra�a e a classe em Porto Rico e nas Am�ricas.

- Neste contexto de marginaliza��o, como se interpreta o sucesso de "Despacito"?

"Despacito" � complicado. Por um lado, podem v�-lo como "sucesso", porque mostra que o reggaeton nunca desapareceu como seus cr�ticos asseguravam que aconteceria.

Por outro lado, Luis Fonsi n�o canta normalmente esse tipo de m�sica. Seu trabalho anterior � basicamente pop e balada, dois g�neros que n�o foram criticados e marginalizados como o reggaeton, nem sujeitos a associa��es estereotipadas com as drogas, o crime e a sexualidade.

Muita gente comentou que Justin Bieber se apropriou do reggaeton para o pr�prio proveito, mas se este � o caso, pode-se argumentar o mesmo sobre Luis Fonsi.


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