H� anos afastado da pol�tica ativa, Alberto Fern�ndez, 60, foi a surpresa da campanha eleitoral argentina. Peronista moderado e pragm�tico, ele conquistou neste domingo a presid�ncia do pa�s, alavancado pela ex-presidente de centro-esquerda e companheira de chapa, Cristina Kirchner.
Advogado, Fern�ndez obteve 47,8% dos votos com quase 80% das mesas apuradas, contra o presidente liberal Mauricio Macri, que conseguiu 41,08% dos votos.
O resultado � surpreendente para algu�m que disputou uma elei��o popular apenas uma vez, em 2000, nas legislativas da cidade de Buenos Aires.
Seu desempenho de mais destaque foi como chefe de gabinete do falecido presidente N�stor Kirchner (2003-2007), assim como de Cristina, em 2008. Rompeu com sua agora vice ao fim do primeiro ano de mandato dela, com declara��es duras, em meio ao embate da ent�o presidente com os propriet�rios rurais e com os grandes meios de comunica��o.
Hoje, esse epis�dio surge como um argumento de demonstra��o da independ�ncia de Fern�ndez, contra aqueles que o acusam de ser uma mera marionete de Cristina.
"Fern�ndez se afastou de Cristina Kirchner em 2008 e renunciou. Ela n�o conseguiu control�-lo � �poca, e muito menos agora", estando na vice-presid�ncia, em caso de vit�ria, afirmou o analista Ra�l Arag�n.
- "Liberal, progressista, peronista" -
O deputado Daniel Filmus, que foi ministro da Educa��o com N�stor Kirchner, destaca o candidato como uma pessoa com a qual se pode "bater papo, relaxar, conversar sobre muitos assuntos".
"� um homem que, em diversas circunst�ncias, mostrou a capacidade de articular atores muito diversos e de muitas ideias diferentes para estabelecer pol�ticas de m�dio e longo prazo", afirmou Filmus.
Seus cr�ticos o consideram camale�nico por ter acompanhado setores ultraliberais, como o de Domingo Cavallo, e populistas de esquerda, como o casal Kirchner.
Em sua defesa, Fern�ndez ha dicho que se siente "un liberal de esquerda, um liberal progressista".
"Acredito nas liberdades individuais e acho que o Estado tem que estar presente para o que o mercado precisar. E sou um peronista. Estou inaugurando o bra�o do liberalismo progressista peronista", declarou.
Nas �ltimas semanas, visitou os l�deres da esquerda latino-americana - Luiz In�cio Lula da Silva, o uruguaio Jos� "Pepe" Mujica e o boliviano Evo Morales.
- Acalmando os mercados -
Na reta final da campanha, Fern�ndez se esfor�ou para tranquilizar os mercados, temerosos diante da aguda crise econ�mica que o pa�s atravessa.
Embora seja cr�tico do Fundo Monet�rio Internacional, que em 2018 concedeu um aux�lio por US$ 57 bilh�es � Argentina, descartou um default como o de 2001.
Tamb�m buscou tranquilizar os argentinos. "Vamos cuidar das suas economias, vamos respeitar seus dep�sitos em d�lares. N�o t�m por que ficarem nervosos", prometeu.
- Justi�a e Venezuela -
Entre suas declara��es mais pol�micas, est� o questionamento dos processos judiciais contra Cristina Kirchner. "A Justi�a n�o est� funcionando bem. Por isso, temos que buscar uma alternativa entre todos", afirmou.
"Isso n�o quer dizer passar por cima de sua independ�ncia, mas vou exigir dos ju�zes que ajam dignamente", completou.
Senadora desde 2017 e, por isso, com imunidade parlamentar, Cristina Kirchner est� sendo processada em v�rios casos por suspeita de corrup��o. Est� em curso um julgamento oral contra ela.
Tamb�m causou pol�mica sua posi��o sobre a Venezuela, depois de ter dito que n�o h� ditadura no pa�s vizinho, mas um "governo autorit�rio". Segundo ele, em caso de vit�ria, a Argentina adotar� uma postura mais parecida com as de M�xico e Uruguai, que reconhecem Nicol�s Maduro como presidente e favorecem um di�logo interno.
Com a Presid�ncia de Macri, a Argentina reconheceu o chefe parlamentar Juan Guaid� como governante interino e tem sido um dos pa�ses mais cr�ticos a Maduro.
- Privacidade e discri��o -
Fern�ndez �, h� 30 anos, professor de Direito na Universidade de Buenos Aires, onde se formou.
Sua vida privada � pouco conhecida, mas seu c�o, o collie Dylan, tem contas no Twitter (@dylanferdez) e no Instagram (@dylanferdezok).
Tem apenas um filho, Estanislao, de 24 anos, de uma rela��o que terminou em 2005. Hoje, vive com a jornalista de Cultura e atriz Fabiola Y��ez, em Puerto Madero, um dos endere�os mais nobres de Buenos Aires.
Entre seus hobbies, est� tocar viol�o. Ele comp�e can��es rom�nticas e � f� do rock argentino. Torce para o Argentinos Juniors, time de onde sa�ram os craques Diego Maradona e Juan Rom�n Riquelme.