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Estado de Minas CONHECIMENTO

Voc� se conhece? Provavelmente n�o t�o bem quanto imagina

Pesquisas do psic�logo sueco Petter Johansson lan�am d�vidas sobre aspectos que consideramos inquestion�veis


31/01/2021 14:23 - atualizado 31/01/2021 14:52

Quando você faz uma escolha, sabe explicar por quê?(foto: Getty Images)
Quando voc� faz uma escolha, sabe explicar por qu�? (foto: Getty Images)

Quando voc� escolhe entre duas coisas, provavelmente acredita que sabe muito bem por que preferiu A, em vez de B. Mas ser� mesmo?

Imagine que te mostrem retratos de duas pessoas diferentes, e pe�am para voc� dizer qual delas parece mais atraente. At� a�, tudo bem.

Mas, logo em seguida, pedem para que voc� explique o porqu�.

Isso � mais dif�cil.

O que voc� gosta nele ou nela? Talvez haja algo atraente em seus olhos? Ou ser� o cabelo? Pode ser ainda que voc� goste dos tra�os fortes da mand�bula ou da arcada dent�ria perfeita, quem sabe?

Mas ser� que essas s�o realmente as raz�es pelas quais voc� acha uma pessoa mais atraente do que a outra?

Depois de ler sobre o trabalho do sueco Petter Johansson, � poss�vel que voc� comece a duvidar de suas pr�prias escolhas.


Johansson, que � psic�logo experimental, adora m�gica. Ele n�o recebeu treinamento oficial, mas aprendeu alguns truques b�sicos.

Faz tempo que os m�gicos entenderam o fen�meno da "cegueira � mudan�a". Ao distrai-lo, eles s�o capazes de trocar uma carta, digamos, o Rei de Paus pelo Rei de Espadas, e voc� provavelmente n�o vai perceber.

As habilidades m�gicas rudimentares de Johansson s�o �teis para seus experimentos, uma vez que, alguns anos atr�s, ele e seus colegas decidiram testar n�o a cegueira � mudan�a, mas a "cegueira � escolha".

Deixe-me explicar.

Em seu primeiro experimento, Johansson mostrou a cada participante retratos de duas pessoas diferentes. E eles tinham uma tarefa simples: escolher a que achavam mais atraente.

Em seguida, ele entregou a fotografia a eles, e pediu para justificarem sua sele��o.

Mas, sem o conhecimento dos participantes, Johansson usou um truque de m�gica para fazer uma mudan�a; na verdade, ele entregou a eles a foto da pessoa que eles n�o haviam escolhido.


Petter Johansson mostrando fotografias a uma participante em seu experimento(foto: BBC)
Petter Johansson mostrando fotografias a uma participante em seu experimento (foto: BBC)

Voc� acha que todos perceberam? Se sim, voc� est� enganado.

75% n�o notam

Surpreendentemente, apenas um quarto dos participantes percebeu a mudan�a, apesar do fato de os rostos serem de pessoas diferentes e de haver diferen�as facilmente identific�veis %u200B%u200Bentre elas. Uma poderia ter cabelo castanho e usar brinco; e a outra ser loira, e n�o usar brinco.

Ap�s a mudan�a, os participantes explicaram por que escolheram a pessoa que, na realidade, n�o haviam escolhido.

"Quando eu perguntei a eles: Por que voc� escolheu este rosto?, eles come�aram a explicar por que aquele era o rosto preferido, mesmo que, segundos antes, tivessem escolhido o outro", diz Johansson.

Quando ele explicava o que havia feito, as pessoas em geral ficavam surpresas e, muitas vezes, incr�dulas.

Os casos mais intrigantes foram aqueles em que os participantes justificaram a escolha manipulada destacando algo ausente em sua escolha original.


Você notaria a diferença entre as duas?(foto: BBC)
Voc� notaria a diferen�a entre as duas? (foto: BBC)

"Por exemplo, se eles dissessem: 'Ah, eu prefiro este rosto porque gosto muito de brinco', e a pessoa que eles originalmente preferiram n�o usava brinco, ent�o podemos ter certeza de que seja l� o que for que os tenha feito tomar essa decis�o, n�o pode ter sido os brincos."

O que podemos concluir?

Ao que parece, n�o temos uma compreens�o clara de por que escolhemos o que escolhemos. Muitas vezes temos que descobrir por n�s mesmos, assim como temos que descobrir os motivos e raz�es dos outros.

A janela pela qual tentamos ver nossa pr�pria alma � obscura e turva.

Apelo pol�tico

A pergunta "por que voc� acha que um rosto � mais atraente do que outro" n�o � trivial. A atra��o sexual � importante: a sobreviv�ncia da esp�cie humana depende dela.

Mas Petter Johansson tamb�m usou seus truques para analisar nossas escolhas em outra �rea importante: a pol�tica.

Em um estudo, ele fez uma s�rie de perguntas a um grupo de suecos sobre seu posicionamento em rela��o a quest�es pol�ticas — como, por exemplo, se deveria haver aumento no imposto sobre o petr�leo ou se os benef�cios de sa�de deveriam ser cortados.

Esses temas tendem a dividir a esquerda e a direita suecas.


Você tende a ser de direita ou de esquerda? Tem certeza?(foto: Getty Images)
Voc� tende a ser de direita ou de esquerda? Tem certeza? (foto: Getty Images)

As respostas por escrito � pesquisa foram ent�o entregues aos participantes — s� que, como voc� j� deve imaginar, n�o eram as respostas verdadeiras. As pessoas de esquerda receberam respostas mais � direita; e as de direita, respostas mais � esquerda. Em seguida, elas foram convidadas a justificar suas escolhas.

Mais uma vez, a maioria das pessoas n�o conseguiu detectar a mudan�a.

Um sujeito que um minuto antes havia assinalado que apoiava um aumento no imposto sobre a gasolina, passou a explicar por que acreditava que esse aumento n�o deveria ocorrer.

E as explica��es que deram faziam sentido.

"Eles disseram coisas como: '� injusto com a popula��o que mora fora das grandes cidades, porque eles t�m que dirigir muito mais'."

N�o havia nada de estranho no racioc�nio deles, a n�o ser que alguns minutos antes, eles n�o teriam justificado isso.

� evidente que nos falta autoconhecimento a respeito de nossos motivos e escolhas. E da�? Quais s�o as implica��es desta pesquisa?

Toler�ncia

Talvez um dos pontos seja que devemos aprender a ser mais tolerantes com as pessoas que mudam de ideia.

Tendemos a ter sensibilidade agu�ada para a inconsist�ncia, seja quando nosso parceiro muda de ideia sobre se quer comer comida italiana ou indiana, ou quando um pol�tico que endossou uma pol�tica no passado, passa a apoiar uma posi��o oposta.

Se muitas vezes n�o temos uma ideia clara de por que escolhemos o que escolhemos, certamente dever�amos ter alguma liberdade para mudar nossas escolhas.

Tamb�m pode haver implica��es mais espec�ficas sobre como transitamos em nossa era, um per�odo marcado pela crescente polariza��o pol�tica e cultural.

R�tulos ou ideais?

Seria natural acreditar que quem apoia um partido de esquerda ou de direita o faz porque est� comprometido com a ideologia desse partido: acredita no livre mercado ou, ao contr�rio, em um papel mais forte do Estado.


Muita gente vota no partido, e não em propostas para melhorar a situação atual(foto: Getty Images)
Muita gente vota no partido, e n�o em propostas para melhorar a situa��o atual (foto: Getty Images)

Mas o trabalho de Petter Johansson mostra que nosso compromisso mais profundo n�o � com pol�ticas particulares, uma vez que, usando sua t�cnica de mudan�a, podemos ser persuadidos a endossar todos os tipos de pol�ticas. Em vez disso, "apoiamos um r�tulo ou um time".

Em outras palavras, provavelmente superestimamos at� que ponto um eleitor de Donald Trump ou de Joe Biden, apoia seu candidato por causa das pol�ticas que ele promove. Na verdade, eles provavelmente s�o do "Time Trump" ou do "Time Biden".

Um exemplo surpreendente disso surgiu nas �ltimas elei��es americanas. Os republicanos s�o tradicionalmente a favor do livre com�rcio, mas quando Trump come�ou a defender pol�ticas protecionistas, a maioria dos republicanos continuou a apoi�-lo, aparentemente sem sequer perceber a mudan�a.

Antes das elei��es americanas de 2016, em que Trump derrotou Hillary Clinton na corrida pela Casa Branca, Johansson fez outro experimento.


(foto: Reuters)
(foto: Reuters)

Ele pediu aos eleitores que avaliassem seu candidato preferido com base em car�ter, experi�ncia etc., e depois mudou suas respostas, melhorando as avalia��es do candidato de quem n�o gostavam.

Funcionou.

As pessoas apresentaram raz�es sobre por que, na verdade, tinham uma mente bastante aberta entre os dois.

Surpreendentemente, esse truque acaba tendo um impacto duradouro.

Engane uma pessoa fazendo-a acreditar que algu�m com cabelo loiro � mais atraente do que algu�m com cabelo castanho, e ela provavelmente confirmar� essa prefer�ncia quando as duas fotografias forem mostradas a ela posteriormente.

O mesmo vale para opini�es pol�ticas. Depois de influenciar as prefer�ncias pol�ticas dos participantes, Johansson testou seus pontos de vista na semana seguinte.

Tendo justificado suas "novas" prefer�ncias alguns dias antes, parecia que "haviam ouvido seus pr�prios argumentos" e continuavam pensando igual.


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