
Para pedir um aumento de capital de US$ 80 bilh�es para ajudar os pa�ses atingidos pela covid, Carone afirma que o banco ter� de cortar empr�stimos em meio � pandemia - e o espa�o seria ocupado por atores como a China. Como os EUA s�o o maior acionista do BID, com 30% de participa��o, ele precisa de um acordo com Biden. O Brasil tem 11,4% de participa��o. Se aprovado, ser� o primeiro aumento de capital desde 2010.
"O governo Biden ter� de decidir. A crise da COVID � sem precedentes? O BID � o melhor ve�culo para uma a��o coletiva para a regi�o? Se o governo achar que o banco � o melhor ve�culo para essa resposta coletiva para Am�rica Latina, ent�o, precisar� apoiar o aumento de capital", afirma Daniel Runde, vice-presidente do Center for Strategic and International Studies (CSIS), de Washington.
No comando do banco, Carone adaptou seu discurso para buscar converg�ncia com Biden. Do governo Trump, ele importou o eixo de pol�tica externa compartilhado por republicanos e democratas: a ideia de reduzir a presen�a da China na regi�o aumentando a influ�ncia dos EUA.
Para se aproximar da pauta de Biden, defende o aumento de capital de forma sustent�vel, com cria��o de um fundo para investimentos clim�ticos e iniciativa de preserva��o da Amaz�nia. Ele afirma que n�o h� resist�ncia por parte da Casa Branca, mas aliados do pr�prio presidente do BID afirmam: ele sabe que a oposi��o ao seu nome pode atrapalh�-lo. "Se os acionistas n�o conseguem colocar uma candidatura alternativa de consenso para retirar Mauricio, ent�o precisam parar com as intrigas internas", diz Runde.
Carone n�o foi apenas um integrante do governo Trump, mas um lobista pr�-embargo a Cuba e um dos principais articuladores de uma pol�tica e ret�rica antissocialismo. Seu nome � malvisto na ala de esquerda do Partido Democrata - e entre muitos t�cnicos do governo.
Carone foi eleito em um momento de desorganiza��o dos pa�ses da regi�o. Pelo rod�zio, seria a vez de Brasil ou Argentina chefiarem o BID. Por j� serem os maiores acionistas, os EUA costumam ficar de fora da presid�ncia. Mas Trump n�o apoiaria uma candidatura do governo de esquerda de Alberto Fern�ndez. Restaria ao Brasil, portanto, fazer campanha pelo apoio de Washington. O nome apresentado pelo ministro Paulo Guedes, o economista Rodrigo Xavier, no entanto, era considerado desconhecido para a maioria dos pa�ses da regi�o, o que abriu caminho para Carone.
Plano
Semana passada, um grupo de senadores americanos prop�s o projeto de lei que autoriza o aumento de capital de US$ 80 bilh�es do BID. O texto fala em ampliar o poder da institui��o em "um momento em que a regi�o sofre o impacto econ�mico da pandemia e de furac�es devastadores", al�m da crise migrat�ria de venezuelanos. O texto foi proposto por cinco senadores, sendo tr�s democratas, incluindo o presidente da Comiss�o de Rela��es Exteriores, Bob Menendez.
O apoio bipartid�rio, comemorado por Carone, ainda � visto com ceticismo por quem acompanha as negocia��es. Primeiro, porque foi proposto no comit� que debate pol�tica externa, e n�o pelos respons�veis pelo or�amento. Segundo, porque Menendez � visto como um dos democratas "mais conservadores" no Senado, o que indica que a sua b�n��o ao projeto de Carone n�o significa apoio da ala progressista do partido.
Ao anunciar o projeto, Menendez disse que o aumento de capital garantir� que o BID esteja "mais bem preparado para enfrentar os desafios crescentes da mudan�a clim�tica nas Am�ricas, apelando para o estabelecimento de seu primeiro fundo ambiental", um aceno a uma das principais prioridades do governo Biden. J� o republicano Marco Rubio, v� a medida como uma estrat�gia para "conter o avan�o da China na regi�o".
O banco tem uma reuni�o, entre 17 e 21 mar�o, na Col�mbia, e Carone precisa chegar com uma agenda conjunta, j� em concord�ncia com os acionistas. Mas, se n�o h� barreiras colocadas pelo governo Biden, no m�nimo h� um atraso na discuss�o. At� agora, os EUA n�o indicaram o diretor que representar� o pa�s no BID. Sem representante formal, n�o se sabe qual a posi��o do governo americano.
N�o � s� o BID que n�o tem representante formal do governo Biden. A cadeira americana na Organiza��o dos Estados Americanos (OEA) tem um interino. A institui��o foi usada por Trump para pressionar o regime de Nicol�s Maduro. Ou seja, as duas organiza��es regionais (BID e OEA) s�o comandadas por trumpistas hostis ao governo Biden.
Na OEA, o atual o secret�rio-geral, Luis Almagro, foi reeleito no ano passado com apoio de Trump, Bolsonaro e outros 22 pa�ses da regi�o. Almagro promoveu uma guinada � direita, suspendendo a Venezuela e reconhecendo os diplomatas do antichavista Juan Guaid� como representantes oficiais - o que n�o foi seguido na ONU, por exemplo.