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Estado de Minas CARACAS

Cemit�rio profanado � resid�ncia para venezuelanos sem-teto


23/03/2021 15:31

Jendry anda de skate em um gigantesco cemit�rio de Caracas tomado por sepulturas danificadas. Outras crian�as brincam com ele sem se incomodar com esqueletos humanos removidos por saqueadores.

O menino de 11 anos, que geralmente vai com sua irm� de 9 pedir comida em um mercado pr�ximo, mora com sua m�e alco�latra no Cemit�rio General del Sur.

Ainda em funcionamento, o cemit�rio do final do s�culo 19 e declarado Monumento Hist�rico Nacional em 1982, � o lar de muitas fam�lias sem-teto, que coabitam com os mortos e tamb�m com ladr�es de t�mulos.

Em uma das poucos sepulturas ainda n�o violadas, sua irm� mais velha, Winifer, 17, mora com seu marido, Jackson, 19, e sua filha de cinco meses. "Vivi praticamente toda a minha vida no cemit�rio", diz a adolescente com cara de menina que n�o sabe ler nem escrever.

Basta dar alguns passos para perceber a a��o dos saqueadores. "Em um dia, eles violaram 22 sepulturas", disse um funcion�rio � AFP. N�o h� n�meros oficiais, mas a m�dia local aponta que mais de 60% do cemit�rio ja sofreu danos deste tipo.

Winifer e Jackson, que passaram meses na pris�o por roubar um telefone celular, vivem em uma estrutura feita com folhas de zinco e barras de metal, semelhante a uma pequena capela. Eles dormem em l�pides de granito que abrigam quatro mortos embaixo.

A profana��o do cemit�rio, com figuras hist�ricas, algumas realocadas, surgiu da "corrida do ouro", na busca fren�tica pelas joias com as quais sepultavam os defuntos, segundo funcion�rios. Tamb�m se deve � rituais realizados no local com alimentos e alcool como oferenda.

Em algumas t�mulos, "eles tiram os mortos, roubam a cer�mica", justifica Jackson, "um est� aqui e este � seguro". "Cuidamos das coisas para ele."

- "Cada um cuida de seu t�mulo" -

� domingo e a salsa soam alto no perigoso bairro vizinho ao cemit�rio.

Luis, de 41 anos, que mora em um espa�o semelhante ao de Winifer e Jackson, espera mais visitantes.

Ele diz que cuida de 37 sepulturas, incluindo a que ocupa com sua fam�lia.

"Todos os meus t�mulos est�o marcados", explica ele. "Cada um cuida do t�mulo, varre, lava, limpa, e aos domingos os familiares trazem duas ou tr�s mercadorias"."Em bons fins de semana j� juntei at� 20", comemora este homem que perdeu a casa h� dois anos ap�s uma enchente.

Desempregado, ele busca esteiras, potes e brinquedos para o filho em latas de lixo.

"� melhor dormir aqui do que na rua", diz Lu�s, que ficou nove anos preso por vender drogas.

No entanto, algumas pessoas est�o insatisfeitas por acharem que essas resid�ncias improvisadas profanam os t�mulos de seus entes queridos.

Uma mulher chamada Maritza reclama com Jackson ao ver utens�lios de cozinha no t�mulo de um sobrinho morto por policiais.

"Como pode uma cozinha aqui, o que � isso? Eles t�m que respeitar, essas mortes ainda machucam", reclama Maritza, indicando que os corpos de um filho assassinado aos 21 anos, de uma sobrinha que morreu de c�ncer, sua sogra e dois outros sobrinhos v�timas da viol�ncia foram enterrados naquele local.

- Ex-presidente profanado -

Os gigantescos mausol�us da Guarda Nacional Bolivariana (GNB) e da extinta Pol�cia Metropolitana de Caracas s�o exemplos da devasta��o.

Para descer at� o por�o onde est�o os nichos da pol�cia, todos saqueados, � preciso passar por uma escada cheia de lixo, entulho e excrementos. O cheiro � insuport�vel.

O luxuoso mausol�u da fam�lia do duas vezes presidente da Venezuela Joaqu�n Crespo (1841-1898) est� em ru�nas. � dif�cil caminhar entre os escombros onde se destacam dois sarc�fagos de madeira destru�dos, onde Crespo e sua esposa descansavam.

Moradores de rua e usu�rios de drogas sobem uma escada em espiral at� o segundo andar desta obra arquitet�nica, uma das mais emblem�ticas do cemit�rio.

A prefeitura de Caracas n�o respondeu em tempo h�bil ao pedido da AFP de um coment�rio sobre a situa��o do cemit�rio. Mas Lu�s, que dorme sobre nove caix�es, diz que s� h� uma maneira de evitar a profana��o: "Quem quer que os seus mortos fiquem seguros tem que pagar".


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