EUA: c�pula militar temeu golpe de Donald Trump ap�s elei��es de novembro

O general Mark Milley, chefe do Estado-Maior Conjunto dos Estados Unidos, temia que o presidente Donald Trump desse um golpe ap�s as elei��es de novembro. Existia a percep��o de que o republicano pudesse abolir a Constitui��o, a fim de se manter no poder. Tanto que a c�pula militar de Washington levantou a possibilidade de uma ren�ncia coletiva, uma forma de ignorar as ordens do magnata. "Eles podem tentar, mas n�o ter�o sucesso nem f...", disse Milley a seus assessores. "Voc� n�o pode fazer isso sem os militares. Voc� n�o pode fazer isso sem a CIA ou o FBI. Somos os caras com as armas", acrescentou.

As revela��es fazem parte do livro intitulado I alone can fix it: Donald J. Trump's Catastrophic Final Year ("S� eu posso consertar isso: o final catastr�fico de Donald J. Trump"), de autoria de Carol Leonnig e Philip Rucker, rep�rteres do jornal The Washington Post e ganhadores do Pr�mio Pulitzer.

Na obra, Milley chega a comparar a recusa de Trump em aceitar a derrota nas elei��es com a tomada do Reichstag pelo l�der nazista Adolf Hitler, em 1933. Naquele ano, Hitler aproveitou um inc�ndio suspeito no Reichstag, sede do Parlamento da Alemanha, para suspender as liberdades civis e refor�ar a pr�pria autoridade. "Este � um momento como o Reichstag (...) O evangelho do F�hrer", disse Milley a seus assessores do Pent�gono, segundo o livro.

O general disse a Leonnig e a Rucker que enxergava paralelos entre a ret�rica de Hitler como v�tima e salvador, e as falsas acusa��es de fraude eleitoral por parte de Trump. Tamb�m viu os simpatizantes convocados pelo presidente para marcharem contra as elei��es como se fossem os "camisas marrons nas ruas" - a violenta mil�cia de Hitler.

Trump reagiu com um longo comunicado � imprensa, publicado no site Save America ("Salvem a Am�rica"). "Apesar da massiva fraude eleitoral e das irregularidades durante as elei��es presidenciais de 2020 (...), eu nunca ameacei, nem falei para ningu�m, sobre um golpe de nosso governo. T�o rid�culo! Sinto informar-lhes, mas uma elei��o � minha forma de 'golpe'", afirmou.

"Se eu fosse cometer um golpe, uma das �ltimas pessoas com quem gostaria de faz�-lo � o general Mark Milley. Ele conseguiu seu emprego apenas o porque o general mais bem avaliado do mundo, James Mattis, n�o o suportava, n�o tinha respeito por ele e n�o o recomendava. (...) Costumo agir contra os conselhos das pessoas que n�o respeito", acrescentou.

Trump disse que perdeu o respeito por Milley, em 1º de junho de 2020, quando ambos caminharam lado a lado at� a Igreja de S�o Jo�o, em meio a protestos deflagrados pela morte de George Floyd, um homem negro asfixiado ao ter o pesco�o pressionado pelo joelho de um policial branco. Segundo Trump, a visita simb�lica � igreja, situada a poucos metros da Casa Branca, provou-se "totalmente apropriada". "No dia seguinte, Milley se sufocou como um cachorro na frente das 'fake news', quando eles lhe disseram que ele n�o deveria ter caminhado com o presidente. (...) Ele se desculpou profusamente, fazendo disso uma grande hist�ria, em vez de dizer 'Eu estou orgulhoso por caminhar com e proteger o presidente dos Estados Unidos", ironizou.

"Eu n�o gosto de golpes!", ressaltou Trump, que n�o poupou cr�ticas ao general. "� um melhor pol�tico do que um general, tentando obter favores da esquerda radical e dos absolutamente loucos que defendem uma filosofia que destruir� o nosso pa�s", concluiu o o magnata republicano.

O livro de Carol Leonnig e de Philip Rucker est� sobre a mesa do escrit�rio de David J. Rothkopf, autor de Traitor: A history of american betrayal from Benedict Arnold to Donald Trump ("Traidor: Uma hist�ria de trai��o americana de Benedict Arnold a Donald Trump").

Em entrevista ao Correio Braziliense, Rothkopf, tamb�m professor de rela��es internacionais da Universidade Johns Hopkins, afirmou que autoridades do mais alto n�vel do governo Trump tinham receio de que presidente pudesse tomar medidas para minar a democracia americana. "Essas medidas variaram desde o envio de tropas para deter manifestantes do movimento Black Lives Matter at� a tentativa de colocar em xeque a legitimidade das elei��es. Muitas dessas autoridades, especialmente depois da elei��o, deram passos para conter Trump, por meio de press�o p�blica e de cr�ticas."

Rothkopf acredita que o ex-presidente n�o conhece o significado de um golpe. "Acho que ele pensava que poderia usar advogados e a opini�o p�blica para controlar a situa��o e conquistar um resultado satisfat�rio. Trump sentia que poderia intimidar e persuadir as pessoas pelo caminho. Atacar o Capitolio foi uma forma mais aberta de golpe. Em sua mente, Trump imaginava que l�deres duros tinham que se comportar assim", explicou.

"N�o vejo Trump com o mesmo tipo de estrutura ideol�gica de Hitler. Trump � patologicamente interessado em si mesmo. Ele queria aumentar o poder. Foi atra�do por outros l�deres com personalidades deformadas iguais � sua, como Jair Bolsonaro. Ambos s�o superficiais, narcisistas e valent�es ignorantes. Havia uma qu�mica natural entre eles." David J. Rothkopf, escritor e professor da Universidade Johns Hopkins.