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Estado de Minas INTERNACIONAL

Coronel uruguaio condenado na It�lia segue livre no Brasil


14/08/2021 19:41

Apesar de condenado � pris�o perp�tua na It�lia por homic�dio doloso, com m�ltiplos agravantes, e considerado foragido pela Justi�a do Uruguai, o coronel Pedro Antonio Mato Narbondo, conhecido como "El Burro", pela forma como conduzia seus interrogat�rios durante a ditadura uruguaia, vive tranquilamente refugiado em Sant�Ana do Livramento, no Rio Grande do Sul. Sua casa fica a 2,6 km da linha que divide o Pa�s da cidade uruguaia de Rivera.

Com passos tranquilos e roupas discretas, o homem de 79 anos, que mant�m uma rotina interiorana na cidade ga�cha, foi receptivo ao ser abordado pelo Estad�o, na quinta-feira. S� pediu para n�o gravar entrevista, nem ser fotografado. Afirmou que, desde 2003, vive em Livramento, ap�s ter feito o registro como brasileiro nato, por ser filho de brasileira, o que impede o Brasil de extradit�-lo.

Narbondo foi condenado � pris�o perp�tua pela morte dos quatro militantes �talo-uruguaios Bernardo Arnone Hern�ndez, Gerardo Gatti, Juan Pablo Recagno Ibarburu e Mar�a Emilia Islas Gatti de Zaffaroni. Pouco antes de ser interrogado pela suspeita do assassinato de Batalla, Narbondo cruzou a fronteira e fixou resid�ncia definitiva em Sant�Ana do Livramento, fronteira oeste do Rio Grande do Sul.

No Uruguai, o coronel � acusado de integrar o esquadr�o secreto que sequestrou e matou em Buenos Aires o senador Zelmar Michelini e o ex-presidente da C�mara de Deputados, H�ctor Guti�rrez Ruiz, em 1976. Na vis�o do advogado criminalista Leonardo Sagrillo Santiago, mestre em Direito pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), n�o parece poss�vel que ele seja preso e cumpra pena no Brasil. "E tamb�m n�o pode ser extraditado por ser brasileiro nato", afirma.

Segundo Santiago, a decis�o sobre a natureza do julgamento cabe ao Supremo Tribunal Federal, conforme o artigo 9� do C�digo Penal Brasileiro, que obriga o condenado a reparar dano cometido em outro pa�s. "Essa quest�o da natureza da infra��o foi tema de debate no STF recentemente no caso Cesare Battisti, quando se confirmou que essa � uma decis�o exclusiva do Supremo", acrescentou.

Durante a conversa com o Estad�o, o coronel condenado destacou que o objeto do processo j� faz 45 anos e, para ele, trata-se de uma quest�o pol�tica e n�o jur�dica. Em reportagem publicada nesta semana no site jornal�stico Matinal, ele disse ser um militar que cumpria ordens em uma �poca de guerrilhas.

Na cidade de 76 mil habitantes, Narbondo mora com sua esposa, uma policial uruguaia aposentada. Com amigos dos dois lados da fronteira, ele vive em uma casa de classe m�dia, com dois carros populares na garagem e um espa�o dedicado ao cultivo de plantas nativas.

Antes da resid�ncia atual, ele j� passou por pelo menos dois endere�os perto da fronteira, um deles a duas quadras do Uruguai. Como cidad�o brasileiro que �, o coronel transita livremente pelas ruas de Livramento, inclusive para ir ao consulado uruguaio, onde faz sua prova de vida para continuar recebendo sua aposentadoria do Ex�rcito do pa�s vizinho.

Quando questionado sobre sua atua��o na ditadura, ele desconversa e diz que "o mundo de hoje � outro". Segundo o advogado de Narbondo, Julio Favero, seu cliente nunca se declarou culpado. "Todos esses julgamentos s�o de cunho pol�tico. N�o h� nenhuma prova documental que o vincule de forma clara a crimes de tortura. Ele est� vinculado a uma cadeia de mando", afirma.

Anos de chumbo

No Uruguai, a ditadura durou de 1973 a 1985. Apesar de ter tido um forte car�ter militar, o pa�s foi governador sempre por um civil - que funcionava como um pe�o das For�as Armadas. Nos 12 anos de regime, foram 465 assassinatos e mais de 170 desaparecimentos. A tortura e a viola��o de direitos humanos se tornaram parte do cotidiano de quem contestava a repress�o.

O jornalista N�stor Chaves, de 74 anos, lembra bem daquela �poca. Ele conta que, em 1973, estava cobrindo uma manifesta��o contra a ditadura, em frente � sede do jornal Di�rio Popular, na principal avenida de Montevid�u. "Eles nos pegaram, nos levaram para o Departamento Cinco e nos torturaram", conta.

Segundo Chaves, no local foram realizadas v�rias pr�ticas de tortura, entre elas a conhecida como "submarino", quando a v�tima � imobilizada e afogada em um balde de �gua. Em seguida, ele foi conduzido a uma penitenci�ria, onde permaneceu por um ano e meio. Depois, Chaves foi levado para uma quadra de basquete, tamb�m na capital uruguaia, onde presenciou o ensinamento a recrutas das pr�ticas utilizadas.

O jornalista parece conformado com o fato de viver a poucas quadras do coronel. "Tenho de me conter e confiar na Justi�a. N�o podemos gerar �dio, devemos aprender com tudo isso, o ser humano tem de seguir adiante."

Ra�l Silva Cotto, de 67 anos, afirma que viveu os dois lados da hist�ria: foi torturador e torturado. Recrutado como militar no final dos anos 60, quando a repress�o ainda n�o tinha come�ado, se apaixonou por uma mulher que, sem saber, era do grupo guerrilheiro Tupamaros - que operava contra a ditadura.

"Eu s� soube que minha mulher era dos Tupamaros quando ela foi presa e eu fui obrigado a tortur�-la", conta. Al�m da esposa, o irm�o tamb�m fazia parte do grupo e foi torturado pelo regime. "Quando prenderam o meu irm�o, me levaram at� a unidade e eu reconheci a voz dele, que estava encapuzado, imobilizado em um cavalete de ferro molhado. Ali, passou por v�rias sess�es de choque el�trico. Eu torturei o meu pr�prio irm�o".

Questionado sobre arrependimento, Cotto diz que sim. "Como n�o vou me arrepender? Mas ou voc� fazia ou morria." Quando descobriram que ele era marido e irm�o dos guerrilheiros, come�aram a tortur�-lo tamb�m. "S�o marcas que tenho at� hoje. Muitas vezes, eu n�o sabia onde estava, porque me colocavam um capuz e faziam o �submarino�. Ap�s a tortura, muitos eram executados de v�rias formas para a oculta��o dos cad�veres."


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