O secret�rio de Estado americano, Antony Blinken, advertiu o novo governo talib� que deve conquistar a legitimidade perante a comunidade internacional, � qual os Estados Unidos mobilizaram nesta quarta-feira para oferecer uma resposta coordenada � crise afeg�.
"Os talib�s buscam uma legitimidade internacional. Toda legitimidade, todo apoio, dever� ser conquistado", destacou em coletiva de imprensa ao lado de seu colega alem�o, Heiko Maas, na base a�rea norte-americana de Ramstein, no sudeste da Alemanha, ao final de uma reuni�o virtual em n�vel ministerial entre 20 pa�ses sobre a crise afeg�.
Como nos �ltimos dias, a quarta-feira registrou v�rios protestos contra o regime talib�, ap�s a morte na v�spera de duas pessoas durante uma manifesta��o em Herat (oeste).
Um pequeno grupo de manifestantes foi rapidamente dispersado por combatentes talib�s em Cabul. O mesmo aconteceu em Faizabad (nordeste), segundo a imprensa local.
No poder desde meados de agosto, duas d�cadas ap�s o regime fundamentalista e brutal que governou o Afeganist�o entre 1996 e 2001, o Talib� anunciou na ter�a-feira a forma��o de um governo interino.
Todos os membros do Executivo, liderado por Mohammad Hasan Akhund, um ex-colaborador pr�ximo ao fundador do movimento, o mul� Omar, s�o talib�s. E quase todos pertencem � etnia pashtun.
V�rios novos ministros, incluindo alguns que foram muito influentes no regime Talib� anterior, figuram nas listas de san��es da ONU. Quatro deles passaram pela pris�o americana de Guant�namo.
Abdul Ghani Baradar, cofundador do movimento, � vice-primeiro-ministro e o mul� Yaqub, filho do mul� Omar, titular da pasta da Defesa.
O minist�rio do Interior foi atribu�do a Sirajuddin Haqqani, l�der da rede Haqqani, a fac��o mais violenta do Talib� e considerada terrorista por Washington.
- Sem mulheres -
Durante o an�ncio do governo, o porta-voz dos fundamentalistas, Zabihullah Mujahid, disse que o gabinete "n�o est� completo" e que o grupo vai tentar "incluir pessoas de outras partes do pa�s".
O governo dos Estados Unidos destacou imediatamente a aus�ncia de mulheres e expressou "preocupa��o com as filia��es e os antecedentes de v�rios indiv�duos". E insistiu que avaliar� o regime "por suas a��es, n�o por suas palavras", de acordo com o secret�rio de Estado, Antony Blinken.
Nesta quarta-feira, na Alemanha, Blinken ter� uma reuni�o virtual com os ministros de 20 pa�ses aliados para tentar estabelecer uma estrat�gia comum diante deste governo.
"Queremos ver como alcan�ar uma forma comum de agir diante do Talib� que tamb�m sirva aos nossos interesses: respeito aos direitos humanos fundamentais, manuten��o das vias de sa�da do pa�s, acesso humanit�rio e luta contra grupos terroristas como a Al-Qaeda e o Estado Isl�mico", disse o ministro alem�o das Rela��es Exteriores, Heiko Maas.
Se o Executivo Talib� desperta preocupa��o na maior parte da comunidade internacional, a China considera o novo governo o "fim da anarquia" e uma "etapa importante para restabelecer a ordem no pa�s", segundo um porta-voz do minist�rio das Rela��es Exteriores.
A Uni�o Europeia (UE) lamentou que o novo governo n�o seja um grupo "inclusivo e representativo" do pa�s, como havia sido prometido.
No Catar, no centro das negocia��es diplom�ticas, a vice-ministra e porta-voz das Rela��es Exteriores do emirado, Lolwah al-Khater, afirmou que o Talib� "mostrou uma boa dose de pragmatismo" e deve ser julgado por suas a��es.
Desde que chegou ao poder, o movimento Talib� deseja demonstrar mais abertura e modera��o, mas as promessas n�o conseguem convencer e muitos temem o retorno do regime fundamentalista dos anos 1990, especialmente cruel com as mulheres.
Pramila Patten, diretora da ONU Mulheres, ag�ncia sobre a Igualdade de G�nero e o Empoderamento da Mulher, declarou que a aus�ncia de mulheres no governo "coloca em d�vida o recente compromisso (dos talib�s) para proteger e respeitar os direitos das afeg�s".
Em um comunicado, o l�der supremo do Talib�, Hibatullah Akhundzada, afirmou que o governo "trabalhar� de maneira forte para defender as regras do isl� e da sharia", a lei isl�mica, o que aumentou a inquieta��o.
- Protestos "ilegais" -
Mas o pa�s que o movimento fundamentalista governa agora n�o � o mesmo dos anos 1990 e os talib�s s�o confrontados com manifesta��es inimagin�veis h� duas d�cadas.
Na ter�a-feira foram registradas as primeiras v�timas fatais nos protestos: duas pessoas morreram e oito ficaram feridas em Herat.
Para o porta-voz Zabihullah Mujahid, as manifesta��es s�o "ilegais", enquanto leis n�o tenham sido proclamadas. Ele pediu � imprensa que n�o fa�a a cobertura das mesmas.
Na ter�a-feira, os combatentes talib�s atiraram para o alto em Cabul para dispersar os protestos contra a repress�o dos fundamentalistas em Panjshir, um reduto de resist�ncia, e a suposta interfer�ncia do Paquist�o no Afeganist�o.
A Associa��o Afeg� de Jornalistas Independentes (AIJA) informou que 14 rep�rteres, afeg�os e estrangeiros, foram detidos por algumas horas na ter�a-feira durante as manifesta��es, protagonizadas em sua maioria por mulheres.
A rebeli�o no vale de Panjshir, tradicional reduto anti-Talib�, � liderada pela Frente Nacional de Resist�ncia (FNR) e seu chefe Ahmad Masud, filho do famoso comandante Ahmed Shah Masud, assassinado em 2001 pela Al-Qaeda.
O Talib� afirma que controla todo o territ�rio, mas a FNR afirma que prossegue com sua luta.
A FRN declarou que o novo governo Talib� � "ileg�timo" e em breve anunciar� um gabinete pr�prio, depois de consultas a "importantes personalidades afeg�s".
O ex-presidente Ashraf Ghani, cuja fuga em 15 de agosto abriu as portas de Cabul e do poder ao Talib�, pediu desculpas nesta quarta-feira ao povo afeg�o por n�o ter conseguido oferecer um futuro melhor.
"� com profundo pesar que meu pr�prio cap�tulo terminou com uma trag�dia similar a de meus antecessores, sem garantir a estabilidade nem a prosperidade (do Afeganist�o). Pe�o desculpas ao povo afeg�o por n�o ter conseguido que as coisas terminassem de maneira diferente", declarou
CABUL