
Com amea�as xen�fobas e queima dos poucos pertences dos imigrantes venezuelanos em situa��o ilegal terminou neste s�bado (25/9) uma marcha de protesto de cerca de 3 mil pessoas na cidade de Iquique, Norte do Chile, um dia depois da violenta desocupa��o de uma pra�a lotada de fam�lias com crian�as.
"Inadmiss�vel humilha��o contra migrantes, especialmente vulner�veis, afetando-os no mais pessoal", escreveu no Twitter Felipe Gonz�lez, relator especial das Na��es Unidas sobre os direitos humanos dos migrantes.
Inadmisible humillaci�n contra migrantes especialmente vulnerables, afect�ndolos en lo m�s personal. El discurso xen�fobo, asimilando migraci�n a delincuencia, que por desgracia se ha ido volviendo cada vez m�s frecuente en Chile, alimenta esta clase de barbarismo. https://t.co/WwCRGIbFxu
%u2014 UN Special Rapporteur Migration Felipe Gonz�lez M (@UNSR_Migration) September 25, 2021
"O discurso xen�fobo, vinculando migra��o � delinqu�ncia, que infelizmente tem se tornado cada vez mais frequente no Chile, alimenta este tipo de barb�rie", acrescentou Gonz�lez.
Em um clima de aberto rep�dio aos imigrantes venezuelanos, os manifestantes entoaram o hino da cidade e agitaram bandeiras chilenas, assim como a Whiphala, pavilh�o colorido dos povos origin�rios andinos, para expressar sua oposi��o � migra��o ilegal, associada � criminalidade com boatos que circulam por todo tipo de plataforma.
Tamb�m cantaram e exibiam cartazes com lemas como: "Chega de Imigra��o Ilegal" e "O Chile � uma rep�blica que se respeita".
A partir da Pra�a Prat, no centro hist�rico de Iquique, os manifestantes marcharam por 10 quarteir�es at� a praia banhada pelo Oceano Pac�fico, onde os carabineiros tiveram que controlar escaramu�as isoladas provocadas pelos chilenos que se aproximavam para agredir os venezuelanos em situa��o de rua.

Desde a manh� de s�bado, os imigrantes tentavam se esconder em outras �reas deste balne�rio para evitar os manifestantes, constataram jornalistas da AFP.
Outros manifestantes radicais se dirigiram a um pequeno acampamento de venezuelanos - que n�o estavam no local - e queimaram em uma barricada seus poucos pertences: barracas, colch�es, bolsas, cobertores, brinquedos.
Fake news insufla popula��o
"Eu sou nascido, criado e mal-criado em Iquique. Sempre vivi nesta regi�o do norte e isto que estamos vivendo � terr�vel porque o problema � que na Venezuela abriram as pris�es e parte dessa gente chegou ao Chile", disse � AFP Veliz Rifo, um agricultor de 48 anos de La Tirana, povoado em uma esp�cie de o�sis no deserto 72 km a leste de Iquique, fazendo men��o a uma informa��o falsa."O pior � que este governo do Chile deixou isto crescer e os que chegaram n�o s�o refugiados pol�ticos, nem imigrantes que contribuem com seu trabalho, aqui chegaram muitos delinquentes", acrescentou, lamentando, assim como muitos manifestantes, o aumento dos assentamentos erguidos pelos imigrantes com caixas de papel�o e folhas de zinco nos arredores desta cidade portu�ria a quase 2.000 km de Santiago.
Outros manifestantes pediam que os mais violentos respeitassem o ato pac�fico, enquanto nos restaurantes do centro hist�rico, gar�ons venezuelanos e clientes chilenos viam de longe a cena, que denominaram como "triste".
"Nem todos os venezuelanos roubam, nem todos os chilenos nos odeiam", diziam em uma mesa do Caf� Francesco da Pra�a Prat.
"M� gest�o"
O protesto ocorreu um dia depois do desalojamento da Pra�a Brasil, onde h� um ano pernoitam os migrantes mais pobres e sem documentos que n�o conseguem chegar a Santiago e sobrevivem vendendo balas, pedindo esmolas ou limpando vidros dos carros nos sinais de tr�nsito da cidade.Na opera��o policial, repudiada por autoridades locais e organiza��es humanit�rias, Jeremy, um menino venezuelano de 4 anos, ficou 24 horas desaparecido. Ele era procurado na manh� deste s�bado por carabineiros, que mostravam fotos da crian�a aos pedestres na praia. Finalmente, o menino foi encontrado.
"Menos mal que encontraram o menino, mas isto resume a m� gest�o de todo esse drama humanit�rio, o governo pensa que � s� deportar alguns e desaloj�-los de uma pra�a", queixou-se Franklin P�rez, administrador de um pr�dio no centro de Iquique.

O governador da regi�o de Tarapac�, Jos� Miguel Carvajal, culpou o governo do presidente Sebasti�n Pi�era pela crise migrat�ria no norte do pa�s, queixando-se que nem ele, nem o prefeito da cidade foram alertados do desalojamento de sexta-feira, que gerou o rep�dio de uma parte da popula��o.
"As cem fam�lias na Pra�a Brasil hoje (s�bado) est�o perambulando em diferentes espa�os p�blicos; est�o realocando-se com amigos, pr�ximos, com quem v�o se alojar novamente com barracas nas praias de Iquique, e outros est�o se mobilizando para assentamentos em Alto Hospicio", zona industrial nos arredores de Iquique.
Vistos exclusivos
A col�nia venezuelana � a mais numerosa do Chile, com mais de 400.000 pessoas, embora estime-se um n�mero muito maior devido ao aumento de entradas por corredores clandestinos desde 2020, quando o Chile fechou suas fronteiras por causa da pandemia.Al�m disso, o governo chileno deu uma guinada em sua pol�tica de solidariedade com os venezuelanos, defendida pelo presidente Pi�era em 2018, inclusive oferecendo vistos exclusivos para que os venezuelanos "tivessem oportunidades no Chile".
Desde ent�o, diminuiu drasticamente a aprova��o de qualquer visto para quem viaja da Venezuela, depois veio o fechamento de fronteiras pela pandemia e muitos venezuelanos come�aram a chegar ap�s viverem por alguns anos em Col�mbia, Equador e Peru.
As chegadas de pessoas ao Chile por passagens clandestinas somaram 23.673 at� julho, quase 7.000 a mais do que em todo o ano passado, segundo o relat�rio do Servi�o Jesu�ta aos Migrantes (SJM) no m�s de setembro.