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Estado de Minas INTERNACIONAL

A doutrina 'igualit�ria' que avan�a na China e impacta o mundo

A mudan�a de prioridades promovida pelo Partido Comunista Chin�s pode ter consequ�ncias globais e aumentar o controle partid�rio sobre a sociedade e a economia


24/10/2021 07:00 - atualizado 24/10/2021 09:12

Pessoas tirando fotos em frente a uma placa que comemora o 100º aniversário da fundação do Partido Comunista da China em Xangai
(foto: Getty Images)
A defesa de uma sociedade menos desigual e com disparidades menores entre ricos e pobres n�o � uma ideia nova na China, mas tem ganhado for�a na ret�rica de autoridades chinesas - em uma busca por uma "prosperidade comum" que, embora foque na popula��o local, tem o potencial de provocar enormes repercuss�es no resto do mundo.

 

A China diz que suas pol�ticas para reduzir a desigualdade s�o exatamente aquilo de que o pa�s precisa neste momento, e a "prosperidade comum" se tornou uma das principais bandeiras defendidas pelo presidente Xi Jinping nos �ltimos meses.

 

Seus cr�ticos, por�m, alertam para um outro aspecto. Segundo eles, as medidas levam a um controle ainda maior do Estado sobre como o setor privado e a sociedade ser�o governados.

 

O filme 'patri�tico' chin�s que virou a maior bilheteria do mundo em duas semanas

Uma das mais vis�veis consequ�ncias da doutrina da prosperidade comum tem sido um novo foco do setor privado chin�s, com suas prioridades sendo direcionadas para o mercado dom�stico.

 

A gigante de tecnologia Alibaba, cujo mercado global tem crescido nos �ltimos, comprometeu-se com US$ 15,5 bilh�es para a promo��o de iniciativas de prosperidade comum na China - e estabeleceu uma equipe dedicada a isso, liderada pelo executivo-chefe da empresa, Daniel Zhang.

 

A empresa diz que se beneficiou do progresso econ�mico do pa�s e que "se a sociedade est� indo bem, e a economia est� indo bem, ent�o a Alibaba ficar� bem". Sua concorrente Tencent, outra uma gigante da tecnologia, tamb�m est� entrando nessa �rea. Prometeu US$ 7,75 bilh�es para a causa.


Daniel Zhang, CEO do Alibaba, fala durante a cerimônia de lançamento do fundo de revitalização rural do Alibaba
Daniel Zhang, CEO do Alibaba, fala durante a cerim�nia de lan�amento do fundo de revitaliza��o rural do grupo (foto: Getty Images)

O mundo corporativo chin�s est� disposto a mostrar que est� contribuindo para o mandato do Partido Comunista nessa iniciativa - mas, quando come�ou o movimento para que mais empresas apoiassem publicamente a nova vis�o do l�der Xi Jinping, isso causou um "certo choque", disse privadamente � BBC um alto executivo de uma empresa chinesa.

 

"Mas a� a gente se acostumou com a ideia. N�o se trata de roubar os ricos. Trata-se de reestruturar a sociedade e construir a classe m�dia. E, no fundo, n�s somos um neg�cio de consumo, ent�o isso � bom para n�s."

Setor de luxo pode perder

A origem dessa disparidade de renda remete a reformas feitas h� cerca de 40 anos, que abriram a economia de mercado chinesa e permitiram o ac�mulo de vastas fortunas pessoais, informa a ag�ncia Reuters. Ao mesmo tempo em que surgiam centenas de bilion�rios no pa�s, crescia a desigualdade entre a China rural e a urbana.

 

Se a prosperidade comum significa um foco maior na emergente classe m�dia chinesa, isso pode significar um r�pido avan�o para empresas globais que sirvam esses consumidores. "Podemos ver que o foco em jovens obtendo empregos � bom", disse � BBC Joerg Wuttke, presidente da C�mara de Com�rcio da Uni�o Europeia na China.

 

"Se eles se sentirem que s�o parte da mobilidade social neste pa�s, algo que tem enfraquecido, ent�o � bom para n�s. Porque, quando a classe m�dia cresce, existe mais oportunidade."


Duas mulheres visitam a exposição Gucci Aria Collection para a celebração do centenário em Xangai, China
A crescente classe m�dia chinesa impulsionou os gastos com bens de luxo (foto: Getty Images)

Entretanto, neg�cios ligados ao setor de luxo podem n�o se sair t�o bem, alerta Wuttke.

 

"Os gastos chineses representam cerca de 50% do consumo de luxo no mundo - e, se a China decide comprar menos rel�gios su��os, gravatas italianas e carros de luxo europeus, essa ind�stria sofrer� um baque."

 

No entanto, enquanto Wuttke reconhece que a economia da China precisa de reformas cr�ticas para aumentar o sal�rio m�dio chin�s, ele diz que a prosperidade comum pode n�o ser a maneira mais eficiente de obter esse objetivo.

 

Steven Lynch, da C�mara Brit�nica de Com�rcio na China, tamb�m diz que a prosperidade comum n�o � garantia de que a classe m�dia vai crescer da mesma forma que cresceu nos �ltimos 40 anos.

 

Ele gosta de contar uma hist�ria sobre o qu�o rapidamente a economia chinesa expandiu ao longo das �ltimas d�cadas.

 

"Trinta anos atr�s, uma fam�lia chinesa conseguia comer um pote de bolinhos tipo dumplings uma vez por m�s", diz. "Vinte anos atr�s, talvez eles pudessem ter um pote uma vez por semana. Dez anos atr�s, isso mudou para um pote por dia. Agora, eles podem comprar um carro."

 

At� agora, por�m, Lynch diz que a ideia da prosperidade comum n�o resultou em nada concreto, al�m dos tipo de programas de responsabilidade social corporativa que a Alibaba e a Tencent adotaram.

 

"Tamb�m existem muitas regula��es instant�neas surgindo em v�rios setores", disse ele sobre as recentes a��es contra empresas de tecnologia. "Isso causa incerteza - e levanta quest�es. Se eles est�o se voltando mais para dentro, ent�o ser� que eles realmente precisam do resto do mundo?"


Mulheres andando de máscaras na rua na china
A mudan�a de prioridades promovida pelo Partido Comunista Chin�s pode ter consequ�ncias globais (foto: Getty Images)

O 'novo socialismo'

Em sua ess�ncia, a prosperidade comum consiste em tornar a sociedade chinesa mais igualit�ria, pelo menos de acordo com o Partido Comunista. E isso tem o potencial de transformar o significado de socialismo no contexto global.

 

"O Partido est� agora preocupado com os trabalhadores medianos - como motoristas de t�xi, trabalhadores migrantes e rapazes que fazem servi�os de entregas", diz Wan Huiyao, do Centro para China e Globaliza��o, de Pequim.

 

"A China quer evitar a sociedade polarizada que alguns pa�ses ocidentais t�m, o que temos visto levar � desglobaliza��o e � nacionaliza��o."

 

Mas observadores da China de longa data dizem que, se o que o Partido realmente quer � transformar o socialismo - com caracter�sticas chinesas - para que seja um modelo alternativo para o resto do mundo, ent�o a prosperidade comum n�o � o caminho.

 

"Isso � parte da guinada para a esquerda e parte da guinada na dire��o de cada vez mais controle que tem sido indicativa do governo de Xi Jinping", diz George Magnus, acad�mico associado do Centro da China da Universidade de Oxford.

Magnus acrescenta que a prosperidade comum n�o significa a reprodu��o de um estilo europeu de bem-estar social.

 

"A press�o impl�cita � para cumprir com os objetivos do Partido", diz ele. "Haver� imposto sobre rendas altas e 'n�o razo�veis' e press�o sobre empresas privadas para que fa�am doa��es para os objetivos econ�micos do Partido", afirma, "mas sem grandes passos na dire��o da taxa��o progressiva".

 

De fato, segundo a ag�ncia Reuters, autoridades chinesas t�m dito que a "prosperidade comum" n�o tem como objetivo "eliminar os ricos" nem "sustentar pregui�osos": ideia � que "os que enriqueceram primeiro" ajudem os que est�o mais atr�s, disse em agosto Han Wenxiu, da comiss�o central de economia e finan�as do pa�s.

 

Na pr�tica, tamb�m t�m aumentado o controle estatal sobre setores monopolistas e contra a evas�o fiscal.

Utopia chinesa, de cima para baixo

Est� claro que a prosperidade comum � uma parte importante de como o Estado e a sociedade chineses ser�o governados sob Xi Jinping.

 

Com isso vem a promessa de uma sociedade mais igualit�ria - uma classe m�dia maior e mais rica, al�m de empresas que devolvem � sociedade em vez de apenas tomar ganhos para si.

 

� uma esp�cie de China Ut�pica, imposta de cima para baixo, que o Partido espera que se mostre um modelo vi�vel para o mundo, como alternativa ao que o Ocidente tem a oferecer.

 

Mas ele vem com um detalhe: ainda mais controle e poder nas m�os do Partido. A China sempre foi um ambiente dif�cil para neg�cios estrangeiros operarem, e a prosperidade comum significa que a segunda maior economia do mundo ficou ainda mais dif�cil de navegar.

 

*Com reportagem de Karishma Vaswani, da BBC News na �sia

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