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Estado de Minas BARCELONA

Ca�adores de odor: o longo caminho para recuperar o olfato ap�s a covid


28/10/2021 08:35

�s vezes, Encarna Oviedo vai �s compras para ver se sente cheiros. Tamb�m toma banho mais do que de costume e, quando a filha vem v�-la, imediatamente pergunta: "A casa est� cheirando bem?"

Ela n�o sabe porque h� mais de um ano perdeu o olfato por covid-19 e, como milhares de pacientes, ainda luta para recuper�-lo.

A mulher de 66 anos vive perto de Terrassa, a noroeste de Barcelona, e foi uma das muitas espanholas que contra�ram o v�rus na agressiva primeira onda de 2020. Com um pa�s assustado e centenas de mortes por dia, ter uma forma leve da doen�a era sorte e a perda do olfato um pequeno detalhe, tamb�m para os m�dicos saturados.

Com o tempo, as vacinas foram ganhando terreno, mas pelo menos meio milh�o de espanh�is ainda n�o recuperaram o olfato, segundo c�lculos do Dr. Joaquim Mullol, diretor da Cl�nica do Olfato do Hospital Cl�nic de Barcelona, e um dos poucos especialistas que estavam no pa�s antes da pandemia.

"A perda do olfato ocorre em aproximadamente 70% dos pacientes com covid", explica. A maioria se recupera totalmente nas semanas seguintes, mas um quarto ainda tem problemas.

"De muitos nunca saberemos, porque n�o consultam o m�dico", aponta.

A not�cia tamb�m n�o � muito animadora para quem vai ao especialista com expectativa de recupera��o r�pida: o �nico tratamento que tem mostrado alguma efic�cia � o treinamento olfativo.

- Reabilita��o -

O aumento de casos provocados pela pandemia levou o Hospital Mutua Terrassa, a 30 quil�metros de Barcelona, a criar uma Unidade de Olfato em fevereiro, como aconteceu em muitos centros.

Desde ent�o, cerca de 90 pacientes passaram por l�, a maioria com covid persistente. Ap�s uma primeira avalia��o m�dica, iniciam uma reabilita��o na qual, uma vez por semana, durante quatro meses, v�o ao centro para identificar odores com um terapeuta.

No final, voltam a consultar o otorrinolaringologista e fazem novo exame para ver a evolu��o.

"Mel, baunilha, chocolate ou canela?", pergunta o m�dico a Encarna enquanto lhe entrega um dos 48 cilindros arom�ticos n�o identificados que comp�em um dos testes.

"Baunilha?", fala pouco convencida.

Cristina Valdivia tamb�m foi infectada com covid naquele confuso m�s de mar�o de 2020. Ela teve uma forma leve da doen�a e perdeu o olfato por tr�s meses. At� que, de repente, voltou a sentir cheiros, mas mal.

"Comecei a sentir o cheiro constante de queimado, como se meu nariz estivesse enfiado em uma frigideira", lembra a mulher de 47 anos de sua casa em Barcelona.

Ap�s meses de ang�stia, e a passagem por v�rios otorrinolaringologistas at� chegar ao Hospital Cl�nic, explicaram-lhe que sofria de parosmia, uma percep��o distorcida do olfato.

A boa not�cia � que esse tipo de reconex�o err�nea geralmente ocorre em pacientes que est�o em processo de recupera��o e a m� not�cia � que n�o h� outra ajuda al�m da reabilita��o e paci�ncia.

Duas vezes por dia, Cristina abre sua mala com seis latas de diferentes aromas e fica cerca de 20 segundos concentrada inalando cada uma para tentar regenerar suas conex�es olfativas.

Alguns, como os c�tricos, parecem estar aparecendo, mas outros s�o especialmente resistentes.

"O caf� � horr�vel, � uma mistura de gasolina, algo podre...", diz.

- Desconectados -

Muitas vezes o mais discreto dos sentidos, a vida sem olfato � mais complicada do que parece.

"No come�o foi horr�vel. Passava os dias chorando", lembra Cristina, que ainda n�o sente o cheiro do filho e cuja vida se alterou at� no mais �ntimo: "Por exemplo, abra�o minha sogra, minha m�e e o cheiro � horr�vel (...) � dif�cil administrar isso", descreve.

Paciente com fibromialgia, que foi obrigada a parar de trabalhar por muito tempo, seus anos de terapia a ajudaram a suportar um processo em que se sente muito sozinha.

"Com o olfato sentimos tudo o que comemos, o que bebemos. Interagimos com o exterior", explica o Dr. Mullol.

"Al�m disso, sentimos cheiros de coisas nocivas que podem ser perigosas, como gases, comida estragada. Tudo isso se perde e a pessoa se desconecta do mundo", alerta sobre alguns pacientes que podem sofrer depress�o ou emagrecimento abrupto.

Cansada de n�o sentir o gosto da comida, Encarna diz que ultimamente tem menos vontade de comer, mas n�o perde a esperan�a de que isso acabe logo.

"Vamos ver se eu levanto um dia de manh� e, olha, j� estou sentindo cheiros", suspira.


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