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Estado de Minas GUERRA

O que China tem a perder ao apoiar R�ssia?

Antes da invas�o russa na Ucr�nia se tornar realidade, uma poss�vel alian�a entre R�ssia e China j� vinha se desenhando. Agora, guerra na Ucr�nia apresenta um grande desafio para Xi Jinping em v�rias frentes.


08/03/2022 06:44 - atualizado 08/03/2022 07:43


Presidente chinês Xi Jinping
Presidente chin�s Xi Jinping n�o falou sobre a a��o militar da R�ssia na Ucr�nia e todas as declara��es foram emitidas por representantes dos minist�rios (foto: Getty Images)

Antes mesmo da invas�o russa na Ucr�nia se tornar realidade, uma poss�vel alian�a entre R�ssia e China j� vinha se desenhando.

Os l�deres das duas pot�ncias se reuniram em Pequim no in�cio de fevereiro e deram mostras de sua proximidade. O encontro, que aconteceu �s margens das Olimp�adas de Inverno, foi marcado por declara��es de apoio de Xi Jinping a Moscou e suas preocupa��es com a seguran�a nacional.

Em um comunicado divulgado ap�s a reuni�o, os dois pa�ses afirmaram que "a amizade entre [R�ssia e China] n�o tem limites, n�o h� �reas 'proibidas' de coopera��o" e que pretendem "combater a interfer�ncia de for�as externas em assuntos internos de pa�ses soberanos".

 

 

Mas desde que Vladimir Putin reconheceu oficialmente a independ�ncia das prov�ncias ucranianas de Donetsk e Luhansk e deu in�cio � opera��o militar no pa�s vizinho, as declara��es de apoio da China se tornaram menos consistentes e mais discretas.

Segundo analistas consultados pela BBC News Brasil, a forma cautelosa com que Pequim vem lidando com a guerra na Ucr�nia � reflexo dos temores do pa�s em rela��o a poss�veis retalia��es econ�micas e pol�ticas.

Qual a posi��o da China no conflito?

Desde que a R�ssia iniciou o envio de suas tropas para a fronteira com a Ucr�nia, no final de 2021, a China vem adotando um comedido discurso pr�-Moscou.

Nas semanas que antecederam a invas�o, o ministro das Rela��es Exteriores chin�s, Wang Yi, classificou as preocupa��es de Moscou em rela��o � sua seguran�a nacional como "leg�timas", afirmando que elas deveriam ser "levadas a s�rio e discutidas".

Por meio da imprensa estatal, o governo em Pequim tamb�m afirmou que a Organiza��o do Tratado do Atl�ntico Norte (Otan) adota uma posi��o agressiva ao se recusar a respeitar o direito soberano de outros pa�ses - como R�ssia e China - de defender seu territ�rio.


Policial patrulha ruas na Ucrânia
Policial faz patrulha nas ruas na Ucr�nia (foto: Getty Images)

"Tanto a R�ssia quanto a China desejam criar uma posi��o de antagonismo em rela��o aos Estados Unidos e encontram nessa ambi��o uma posi��o em comum", diz Alexandre Uehara, coordenador acad�mico do Centro Brasileiro de Estudos de Neg�cios Internacionais da ESPM.

Para Vicente Ferraro Jr., cientista pol�tico e pesquisador do Laborat�rio de Estudos da �sia da Universidade de S�o Paulo (USP), h� tamb�m um componente ideol�gico envolvido na aproxima��o entre as duas pot�ncias.

"Ambas contestam em parte o liberalismo pol�tico e acusam o Ocidente de tentar 'exportar' seus modelos pol�ticos, de maneira inapropriada, a outras sociedades e contextos culturais. O liberalismo pol�tico e, indiretamente, a democracia representativa s�o apresentados por ambas n�o como valores universais, mas como constru��es do Ocidente instrumentalizadas para fins geopol�ticos", diz.

Ap�s o in�cio oficial da opera��o militar russa na Ucr�nia na semana passada, o governo chin�s disse acreditar na "soberania e integridade territorial de todos os pa�ses", mas tamb�m expressou a opini�o de que a R�ssia tem "preocupa��es leg�timas de seguran�a" que "devem ser levadas a s�rio e tratadas adequadamente".

Na quarta-feira (02/03), Pequim ainda recha�ou a possibilidade de impor san��es contra a R�ssia e classificou as penalidades econ�micas anunciadas por Estados Unidos e Europa como ilegais.

"N�o aprovamos as san��es financeiras, especialmente as san��es lan�adas unilateralmente, porque elas n�o funcionam bem e n�o t�m fundamento legal", disse Guo Shuqing, presidente da Comiss�o Reguladora de Bancos e Seguros da China, em entrevista coletiva. "Continuaremos a manter as trocas econ�micas e comerciais normais com as partes relevantes", disse ele.

De forma bastante significativa, a China tamb�m n�o usou em nenhum de seus pronunciamentos a palavra "invas�o" quando se trata das a��es da R�ssia na Ucr�nia.

 

Leia tamb�m: 13º dia de guerra na Ucr�nia: corredores humanit�rios e a press�o da R�ssia

 

No entanto, de forma surpreendente, Pequim absteve-se do voto do Conselho de Seguran�a das Na��es Unidas condenando a invas�o russa da Ucr�nia.

 

O pa�s tamb�m preferiu se abster de uma segunda resolu��o, votada pela Assembleia-Geral da ONU. O texto, aprovado por 141 Estados-membros, tamb�m critica o governo russo por suas a��es militares e classifica o reconhecimento da independ�ncia das regi�es de Donetsk e Luhansk como uma "viola��o da integridade territorial e soberania da Ucr�nia, inconsistente com os princ�pios da Carta das Na��es Unidas".


Vladimir Putin
A China � aliada hist�rica do presidente russo Vladimir Putin (foto: SERGEI GUNEYEV/SPUTNIK/AFP VIA GETTY IMAGES)

Ao mesmo tempo, um dos fatos mais not�veis sobre a rea��o da China ao conflito � que n�o houve palavras do presidente Xi Jinping — todas as declara��es foram emitidas por representantes dos minist�rios.

O que Pequim tem a perder?

Segundo especialistas em pol�tica internacional, o maior receio da China ao apoiar Moscou � prejudicar seus la�os econ�micos com a Europa e os Estados Unidos.

"A China tem interesses econ�micos gigantescos na Europa e tem que tomar cuidado para que seu apoio a Putin n�o fique t�o �bvio a ponto de provocar rea��es negativas da Fran�a, Alemanha ou do continente em geral", diz o americano Bruce Jones, diretor do Projeto sobre Ordem Internacional e Estrat�gia do think tank Brookings Institution.

Ao todo, a China exportou cerca de US$ 420 bilh�es (R$ 2,1 trilh�es) em bens para a Europa em 2020, segundo a pr�pria Uni�o Europeia (UE), e foi a principal fonte de origem das importa��es do bloco. O montante s� fica atr�s do que foi comercializado pela pot�ncia chinesa para os Estados Unidos, que chegou a US$ 452 bilh�es (R$ 2,2 trilh�es).

J� o mercado chin�s foi o terceiro principal destino das exporta��es europeias em 2020, respons�vel por 10,5% das exporta��es da UE.

O governo chin�s teme que um apoio vigoroso e vocal � opera��o militar russa possa desencorajar seus parceiros comerciais na Europa e Am�rica a expandir ainda mais os neg�cios.

Ao mesmo tempo, receia que uma piora nas san��es aplicadas contra Moscou possa prejudicar sua pr�pria rela��o econ�mica com o mercado russo.

A R�ssia tamb�m � um parceiro comercial importante para a China e os dois pa�ses v�m estreitando ainda mais os la�os nos �ltimos anos.

O com�rcio total entre as pot�ncias saltou 35,9% no ano passado, segundo dados da alf�ndega chinesa, e Moscou serve como uma importante fonte de petr�leo, g�s, carv�o e commodities agr�colas para Pequim.

"H� uma expectativa de que o aprofundamento das rela��es comerciais com a China poder� amortizar, ao menos em parte, o impacto das san��es econ�micas impostas pelo Ocidente contra a R�ssia", diz Vicente Ferraro Jr. "Contudo, o alcance dessa amortiza��o ainda � uma inc�gnita e n�o � descart�vel um efeito colateral das san��es para empresas chinesas que t�m rela��es comerciais tanto com a R�ssia quanto com pa�ses do Ocidente".


Presidentes Vladimir Putin e Xi Jinping
Segundo especialistas, o maior receio da China ao apoiar Moscou atualmente � prejudicar seus la�os econ�micos com Europa e EUA (foto: AFP)

Segundo o especialista, as san��es econ�micas contra a R�ssia podem gerar o encarecimento de commodities devido �s tens�es, sobretudo petr�leo e g�s.

Contudo, a quebra das rela��es comerciais com a Europa e os EUA pode ser ainda mais danosa para Pequim. "O volume comercial entre a China e pa�ses do Ocidente � muito superior ao volume comercial da China com a R�ssia", diz Ferraro Jr.

Afronta a interesses internos

Para al�m do impacto econ�mico, a China ainda tem interesses pol�ticos em jogo.

Do ponto de vista geopol�tico, o governo de Xi Jinping pode estar buscando n�o se contradizer, pois uma mensagem repetida constantemente pelos l�deres chineses � a de que o pa�s n�o interfere em assuntos internos de outros e que outras na��es n�o deveriam interferir em suas quest�es internas.

 

Para Alexandre Uehara, a China n�o aprovou o reconhecimento da independ�ncia das regi�es de Donetsk e Luhansk, e assim que a decis�o foi anunciada por Putin passou a amenizar seu discurso a favor de Moscou.

"A China tamb�m possui territ�rios que demandam mais autonomia e independ�ncia, como Taiwan, Tibete e Xinjiang, e v� no reconhecimento da independ�ncia de regi�es separatistas na Ucr�nia uma afronta aos seus interesses internos", diz.

Segundo Uehara, o governo chin�s teme que se apoiar as a��es da R�ssia na Ucr�nia, outros pa�ses possam tomar atitudes semelhantes � de Putin em rela��o aos seus pr�prios territ�rios.

 

E ao se abster das vota��es nas Na��es Unidas contra a R�ssia, Pequim pode estar buscando sinalizar para o resto do mundo qual a sua posi��o verdadeira sobre o tema.

 

"Embora tal movimento n�o represente um veto contra a R�ssia, ele traz diferentes implica��es pol�ticas. Pode representar uma sinaliza��o � R�ssia de que a China est� preocupada com a escalada de tens�es e com o impacto pol�tico e econ�mico que o conflito pode ocasionar no sistema internacional", diz Vicente Ferraro Jr., do Laborat�rio de Estudos da �sia da USP.

"Mas tamb�m pode sinalizar a pa�ses em desenvolvimento e do sul global que a China n�o compactua de pr�ticas intervencionistas promovidas por grandes pot�ncias".

 

Ao mesmo tempo, quando o governo chin�s rejeitou a imposi��o de san��es contra a R�ssia, nos �ltimos dias, sabia que poderia receber tratamento semelhante se decidir tomar Taiwan � for�a, no que seria uma opera��o custosa e sangrenta.

A ilha se proclamou rep�blica independente em 1911 e se estabeleceu como uma democracia, mas a China a considera parte inalien�vel do seu territ�rio e nos �ltimos anos tem se empenhado ostensivamente no projeto de reunifica��o.

 

Durante um encontro regular com a imprensa em Pequim, Hua Chunying, porta-voz do Minist�rio das Rela��es Exteriores, disse que a China nunca acreditou que san��es eram a melhor forma de resolver problemas entre na��es.

Para o Partido Comunista Chin�s, a forma como a atual crise poder� impactar seu pr�prio povo e sua vis�o de mundo tamb�m � uma preocupa��o.

 

Por esse motivo, o governo est� manipulando e controlando as informa��es sobre a situa��o na Ucr�nia na sua imprensa e m�dias sociais.

 

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