
O Reino Unido deve acompanhar os Estados Unidos no boicote, reduzindo suas importa��es de petr�leo gradualmente at� o fim de 2022, segundo o secret�rio de Neg�cios brit�nico Kwasi Kwarteng. J� a Uni�o Europeia anunciou um plano de mais longo prazo para reduzir sua depend�ncia dos combust�veis f�sseis russos, com a expectativa de chegar � independ�ncia total at� 2030.
Do outro lado, a R�ssia amea�ou na noite de segunda-feira suspender o fornecimento de g�s natural � Europa por meio do gasoduto Nord Stream 1. O vice-primeiro-ministro russo, Alexander Novak, alertou que o movimento poderia ter "consequ�ncias catastr�ficas" para a economia mundial e previu que o pre�o do barril poderia chegar com isso a US$ 300.
Diante da perspectiva de avan�o nas restri��es internacionais ao com�rcio de petr�leo e g�s, o �leo chegou a subir mais de 7% nesta ter�a-feira, superando os US$ 131 por barril para o tipo Brent, refer�ncia para o mercado europeu, e os US$ 128 para o WTI (refer�ncia nos EUA).
Desde o in�cio do ano, o petr�leo j� valorizou mais de 70% e, na segunda-feira, a cota��o chegou a bater em US$ 139, maior patamar desde o recorde de US$ 147 atingido em 2008.
Para analistas ouvidos pela BBC News Brasil, a proibi��o de importa��o pelos Estados Unidos tem efeito mais simb�lico do que pr�tico, j� que a R�ssia responde por apenas cerca de 8% das importa��es de petr�leo americanas.
Ainda assim, o an�ncio de Biden, que dever� ser acompanhado pelo premi� brit�nico Boris Johnson, traz volatilidade aos pre�os internacionais e os analistas avaliam que os pre�os podem voltar a flertar com patamares pr�ximos a US$ 150 nos pr�ximos dias.
No Brasil, esse cen�rio aumenta a press�o por uma mudan�a na pol�tica de pre�os da Petrobras, diante de um presidente Jair Bolsonaro (PL) preocupado com os efeitos da infla��o na corrida eleitoral de outubro.
No Congresso, projetos de lei que buscam aliviar a press�o sobre os combust�veis ganham urg�ncia com a alta de pre�os do petr�leo no mercado internacional.

Por aqui, a percep��o de uma piora do quadro inflacion�rio se consolida. Nesta ter�a-feira, a XP Investimentos, por exemplo, elevou sua proje��o para a infla��o no Brasil de 5,2% para 6,2% este ano, e de 3,25% para 3,80% no ano que vem, devido ao cen�rio de pre�os de commodities muito mais inst�vel.
J� o banco franc�s BNP Paribas elevou sua proje��o para o IPCA (�ndice Nacional de Pre�os ao Consumidor Amplo) em 2022 de 6% para 7%, passando a prever uma alta da taxa b�sica de juros at� 13,25%, ante estimativa anterior de 12,25%.
Petr�leo a US$ 150?
"Os an�ncios desta ter�a-feira devem trazer mais volatilidade ao mercado, apesar de os Estados Unidos importarem uma quantidade pequena de petr�leo da R�ssia, pouco mais de 600 mil barris por dia", observa Al� Delara, s�cio-diretor da corretora de commodities Pine.
"Mas o an�ncio traz o sentimento de um primeiro passo de proibi��o de importa��es de commodities da R�ssia, que at� ent�o estavam sendo preservadas."
Segundo o analista, um cen�rio muito mais grave acontecer� caso a R�ssia leve a cabo as amea�as de fechar a torneira de g�s para a Europa de forma imediata.
"Com a proibi��o de importa��o pelos Estados Unidos, US$ 150 por barril � um patamar poss�vel de atingirmos, porque j� estamos muito pr�ximos desse pre�o. Mas se a R�ssia resolver barrar exporta��es e elas demorarem a retornar, a� o patamar de pre�os � muito dif�cil de prever", diz Delara.
"US$ 300 por barril [como previu o vice-primeiro-ministro russo Alexander Novak] parece muito apocal�ptico, mas US$ 200 se a proibi��o durasse 60 dias � poss�vel. Mas esse seria um cen�rio desastroso, que n�o est� no radar por enquanto", afirma.
Para Dawisson Bel�m Lopes, professor de Pol�tica Internacional na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), a proibi��o de importa��es pode n�o ser t�o decisiva para os rumos da guerra, mas se soma ao pacote sem precedentes de san��es econ�micas � R�ssia.
"H� um impacto simb�lico, � uma sinaliza��o forte. Biden n�o tinha op��o, ia ficar muito estranho mover uma guerra por procura��o, com uma condena��o veemente da R�ssia por parte dos Estados Unidos, se n�o houvesse uma atitude expl�cita de tentar impactar a R�ssia cortando esse fluxo de petr�leo, visando uma asfixia econ�mica de Putin", diz Lopes.
Ele avalia que a situa��o da R�ssia diante do ac�mulo das san��es � bastante complicada, mas n�o descarta uma atitude mais dr�stica de Putin.
"A R�ssia n�o pode se dar muito ao luxo de abrir m�o das rendas do petr�leo e do g�s natural, mas, num regime autorit�rio, o governante tem mais capacidade de empurrar os efeitos da deteriora��o social e econ�mica para a popula��o sem sofrer tanto, porque o impacto da revolta popular � menor", observa o professor.

O especialista em pol�tica internacional da UFMG considera que um quadro de restri��o de oferta pela R�ssia poderia levar o mundo a um cen�rio de crise do petr�leo similar �quele dos anos 1970.
Mas ele avalia que isso seria moment�neo, j� que os pa�ses t�m forte interdepend�ncia econ�mica e j� se esfor�am para encontrar alternativas ao petr�leo russo, com EUA retomando conversas com Ir� e Venezuela e liberando o uso de seus estoques de emerg�ncia para minimizar os efeitos da crise.
Lopes lembra ainda que Biden tem observado uma melhora dos seus �ndices de avalia��o nos Estados Unidos, devido � resposta � guerra na Ucr�nia. Mas ele considera que esse efeito pode se esgotar, � medida que cres�a a fadiga da opini�o p�blica.
"H� uma rea��o da popularidade Biden, mas n�o sei se isso se sustenta no m�dio prazo. O que define as coisas � o 'feel good factor', ou seja, a economia bem, o pa�s se recuperando da pandemia e como vai se dar o acerto de conta depois com a China", afirma.
Para o professor, a rela��o com a China � a grande quest�o. "Se houver a sensa��o de que a China saiu ganhando com essa disputa, que conseguiu transformar a R�ssia num Estado mais dependente, isso pode n�o ser bom na percep��o da popula��o estadunidense."
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