
- Brasileiros que moram na R�ssia contam como est�o vendo a guerra
- R�ssia � criticada ap�s ataque a usina nuclear na Ucr�nia; veja tudo sobre o 9º dia de guerra
A jovem de 25 anos tem falado regularmente com a m�e, que mora em Moscou. Mas nessas conversas, e mesmo depois de enviar v�deos de sua cidade natal fortemente bombardeada, Oleksandra n�o consegue convencer a m�e sobre o perigo que corre.
"Eu n�o queria assustar meus pais, mas comecei a dizer diretamente a eles que civis e crian�as est�o morrendo", diz. "Mas mesmo que se preocupem comigo, eles ainda consideram que isso provavelmente acontece apenas por acidente, que o ex�rcito russo nunca teria civis como alvos. E que s�o os ucranianos que est�o matando seu pr�prio povo."
� comum que os ucranianos tenham fam�lia do outro lado da fronteira com a R�ssia. Mas, para alguns, como Oleksandra, os parentes russos t�m uma compreens�o contrastante do conflito. Ela acredita que isso se deve �s hist�rias contadas pela m�dia russa rigidamente controlada pelo governo.

Oleksandra diz que sua m�e apenas repete as narrativas do que ouve nas TVs estatais russas.
"Realmente me assustou quando minha m�e citou exatamente a TV russa. Eles est�o apenas fazendo lavagem cerebral. E as pessoas confiam neles", diz.
"Meus pais entendem que alguma a��o militar est� acontecendo aqui. Mas eles contraargumentam: 'Os russos vieram para libert�-los. Eles n�o v�o estragar nada, eles n�o v�o tocar em voc�. Eles est�o apenas mirando em bases militares'."
Enquanto A BBC entrevistava Oleksandra, o bombardeio continuou. A conex�o com a internet era fraca, ent�o foi necess�rio continuar a conversa por meio de mensagens de voz. "Eu quase esqueci como � o sil�ncio. Eles est�o bombardeando sem parar", disse.
Nos canais de TV estatais russos, no mesmo dia, n�o houve men��o aos m�sseis que atingiram os bairros residenciais de Kharkiv, �s mortes de civis ou �s quatro pessoas mortas na fila por �gua.
Os canais de TV estatais russos justificam a guerra culpando a agress�o ucraniana e continuam chamando-a de "uma opera��o especial de liberta��o". Qualquer ve�culo russo que use as palavras "guerra", "invas�o" ou "ataque" � bloqueado pelo �rg�o regulador de m�dia do pa�s por divulgar "informa��es deliberadamente falsas sobre as a��es de militares russos" na Ucr�nia.
Canais de televis�o populares dizem que a amea�a aos civis ucranianos n�o vem das for�as armadas russas, mas de nacionalistas ucranianos que usam civis como escudos humanos.
Alguns russos sa�ram �s ruas para protestar contra a guerra, mas essas manifesta��es n�o foram noticiadas nos principais canais de televis�o estatais.
Mykhailo, um conhecido dono de restaurante de Kiev, n�o teve tempo nem disposi��o para assistir � cobertura da invas�o na TV russa.
Quando o bombardeio da capital da Ucr�nia come�ou, ele e a esposa estavam se concentrando em como proteger a filha de seis anos e o filho beb�.

� noite, seus filhos acordavam ao som de explos�es e n�o paravam de chorar. A fam�lia tomou a decis�o de se mudar para os arredores de Kiev e depois fugir para o exterior.
Eles viajaram para a Hungria, onde Mykhailo deixou a esposa e os filhos e voltou para a Ucr�nia Ocidental para ajudar no esfor�o de guerra.
Ele ficou surpreso por n�o ter not�cias do pai, que trabalha em um mosteiro perto de Nizhny Novgorod, na R�ssia.
Ele ligou para o pai e descreveu o que estava acontecendo. Seu pai respondeu que isso n�o era verdade, n�o houve guerra e os russos estavam salvando a Ucr�nia dos nazistas.
Mykhailo disse que sentia que conhecia o poder da propaganda russa, mas quando a ouviu de seu pr�prio pai, ficou arrasado.
"Meu pr�prio pai n�o acredita em mim, sabendo que estou aqui e vejo tudo com meus pr�prios olhos. E minha m�e, ex-mulher dele, tamb�m est� passando por isso", diz. "Ela est� se escondendo com minha av� no banheiro, por causa do bombardeio."
A m�dia russa tem sido rigidamente controlada por muitos anos e os espectadores t�m uma vis�o acr�tica do pa�s e de suas a��es ao redor do mundo.
"A narrativa do Estado s� mostra a R�ssia como o mocinho da hist�ria", diz Joanna Szostek, especialista em R�ssia e comunica��es pol�ticas da Universidade de Glasgow, na Esc�cia.
"Mesmo nas hist�rias que contam sobre a Segunda Guerra Mundial, a Grande Guerra Patri�tica, a R�ssia nunca fez nada de errado. E � por isso que eles n�o v�o acreditar nisso agora."
A maioria dos russos, explica a especialista, n�o procura outros pontos de vista. A narrativa unilateral que � altamente cr�tica aos demais pa�ses ajuda a explicar por que os russos podem ter vis�es opostas aos seus parentes que moram do outro lado da fronteira.
"As pessoas que criticam a R�ssia h� muito tempo s�o apresentadas como traidoras. Os cr�ticos s�o todos agentes estrangeiros trabalhando para o Ocidente. Ent�o voc� nem acredita na pr�pria filha."
Propaganda
Os pais de Anastasiya vivem em uma pequena vila a 20 km de dist�ncia da Rep�blica Popular de Donetsk, controlada pelos rebeldes apoiados pelos russos.
A vila ainda est� sob o controle das autoridades de Kiev, mas os canais de TV estatais russos est�o sempre ligados em casa. Eles at� t�m o rel�gio ajustado para o hor�rio de Moscou, quase como uma volta ao passado sovi�tico.
Quando, em 24 de fevereiro, Anastasiya acordou em Kiev ao som de sirenes, ela sabia como seus pais reagiriam.
"Minha m�e foi a primeira pessoa para quem liguei quando pulei da cama �s cinco horas, desorientada. Ela ficou surpresa por eu ter ligado e parecia muito calma, quase casual", conta.
Anastasiya, uma correspondente da BBC ucraniana que se mudou para Kiev h� 10 anos, ouviu bombas explodindo depois de acordar e estava preocupada sobre onde seria o pr�ximo alvo.

"Liguei para minha m�e novamente. Disse a ela que estava com medo. 'N�o se preocupe', me respondeu, tranquilizadora. 'Eles [R�ssia] nunca v�o bombardear Kiev'." Mas eles j� est�o fazendo isso, contrap�s Anastasiya.
"Eu disse a ela que havia baixas entre civis. 'Mas foi o que tivemos tamb�m quando a Ucr�nia atacou Donbas!', ela disse, rindo. Por um momento eu n�o conseguia respirar. Ouvir minha m�e dizer isso com tanta crueldade partiu meu cora��o."
Anastasiya acredita que a imagem que a m�dia russa criou � a do "ex�rcito russo glorificado" livrando a Ucr�nia dos nazistas. Durante anos, ela evitou discuss�es pol�ticas com os pais, mas desta vez bateu o telefone na cara da m�e.
A BBC conversou com Anastasiya quando ela estava viajando para longe de Kiev, depois de quatro noites em um abrigo antia�reo. A mente dela estava em um futuro incerto.
"H� muitos pensamentos na minha cabe�a agora. O que vai acontecer com todos n�s? Para onde isso vai? Ser� que eu vou voltar? Ser� que vou ver meus pais novamente? Eu ainda os amo profundamente, mas algo dentro de mim se quebrou." "E eu n�o acho que isso possa ser consertado."
Sabia que a BBC est� tamb�m no Telegram? Inscreva-se no canal.
J� assistiu aos nossos novos v�deos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!