Desde o fat�dico 24 de fevereiro, este jovem de 25 anos j� assinou contrato com o Staatsballett de Berlim, mas antes se deu ao luxo de se apresentar em casa, para o p�blico do Rio de Janeiro, que o ver� neste s�bado no papel do pr�ncipe Sigfrido em "O Lago dos Cisnes", obra ic�nica criada precisamente no Bolshoi de Moscou.
Com belas fei��es e silhueta longil�nea, Motta explica serenamente como tomou a decis�o "mais dif�cil" de sua vida, ap�s secar o suor ao final do ensaio geral no Teatro Municipal.
"Hoje eu me sinto mais calmo porque os acontecimentos trouxeram um turbilh�o de emo��es (...) Fiquei dias sem dormir, sem saber por onde ia recome�ar", explica Motta, ainda vestido com as meias brancas e o traje de veludo com bordados dourados de seu personagem.
Embora Motta tenha sido um dos primeiros, "todos" os bailarinos estrangeiros do lend�rio bal� do Teatro Bolshoi, nas m�os do governo russo, acabaram deixando o pa�s.
"A gente tinha que sair, obviamente", em solidariedade com o povo ucraniano; a quest�o era "como", explica o jovem.
Diante do temor de um fechamento das fronteiras, ele elaborou "uma rota de fuga": reservou um primeiro voo de Moscou a Istambul e dali voou para Mil�o, antes de viajar para o Brasil.
- Russos culpados pela guerra de Putin -
Embora n�o se arrependa, Motta lamenta que a guerra deixe os artistas, cuja voca��o � unir culturas e pa�ses, em uma posi��o de fogo cruzado, e castiga especialmente os russos, que foram vetados em uma s�rie de eventos no exterior, assim como seus esportistas.
"Infelizmente, os russos s�o culpados pelo que uma pessoa no governo est� fazendo", acrescenta, em alus�o ao presidente russo, Vladimir Putin.
Mas Motta n�o se excede: "Falar mal jamais porque � um pa�s onde cresci, onde tive um aprendizado muito grande e levarei sempre comigo no cora��o".
Natural de Cabo Frio, litoral norte do Rio de Janeiro, Motta descobriu muito cedo sua paix�o pelo bal� e depois de se destacar em um concurso internacional em Nova York, conseguiu uma bolsa para a Academia do Bolshoi custeada pelo Itamaraty.
Com apenas 12 anos, trocou as praias tropicais de sua cidadezinha pelo frio da capital russa.
"Fui sozinho. Lembro todo desse momento: minha chegada na escola, era inverno, estava tudo branco, muito frio", explica com certa saudade sobre o pa�s onde acabou tendo uma segunda "fam�lia".
Motta formou-se em 2015, ano em que ganhou o primeiro pr�mio no Concurso de Jovens Bailarinos da R�ssia. Foi galgando posi��es no Bolshoi at� chegar ao posto de solista principal, apenas abaixo do primeiro bailarino, protagonizando cl�ssicos como "Dom Quixote" e "O Quebra-nozes".
- "O ar que respiro" -
"O bal� significa tudo (para mim). � o ar que respiro. A gente dorme pensando no bal� (...) A gente est� sempre procurando evoluir e nunca parar", admite.
Na estreia deste s�bado, quando as luzes se apagarem e a orquestra come�ar a tocar as primeiras notas de "O Lago dos Cisnes", Motta admite que sentir� uma emo��o especial pela presen�a de seus pais.
"Para minha fam�lia � a oportunidade para me ver dan�ar depois de todo o esfor�o que foi feito para que me formasse no Bolshoi. Poder mostrar o fruto do meu trabalho, acho que n�o tem pre�o", explica este bailarino que s� se apresentar� tr�s noites no Teatro Municipal, antes de se mudar no fim do m�s para Berlim.
No Staatsballett alem�o, ele entrar� j� como bailarino principal, embora ainda n�o saiba com qual obra vai estrear. Na verdade, nem mesmo conhece a cidade, nem fala alem�o. Mas isso n�o deveria ser um problema para um brasileiro que aos 12 anos aprendeu russo a 11.000 km de casa.
RIO DE JANEIRO