Dirigida por Santiago Mitre, a narrativa mostra como o promotor Julio Strassera (Ricardo Dar�n) e seu adjunto, Moreno Ocampo (Peter Lanzani), conduziram a acusa��o contra os nove dirigentes militares no poder entre 1976 e 1983, em um clima de grande tens�o ap�s uma ditadura brutal.
Em entrevista � AFP na Calif�rnia, onde mora atualmente, Moreno Ocampo destacou a recep��o positiva do filme em pa�ses como Brasil e Espanha, que atravessaram ditaduras militares que n�o enfrentaram os tribunais.
"Na transi��o da ditadura para a democracia, n�o investigaram o passado", afirma o advogado. O julgamento da Junta na Argentina "transformou a perspectiva do pa�s (...) Esse processo faltou no Brasil, onde temiam que os militares pudessem se envolver em um golpe num futuro pr�ximo".
Segundo Moreno Ocampo, "os militares n�o s�o o problema, porque eles cumprem ordens. S�o as elites, se suas elites apoiam um golpe de Estado, voc� tem um problema".
"Isso � uma coisa que n�o entendem no Brasil, mas at� nos Estados Unidos n�o entendem", acrescenta, referindo-se ao ataque de janeiro de 2021 ao Capit�lio, nos �ltimos dias da presid�ncia de Donald Trump, ao qual o ataque de janeiro passado �s sedes dos Tr�s Poderes em Bras�lia foi muito comparado.
- "Batalha pela mem�ria" -
Hoje com 70 anos, Moreno Ocampo tinha apenas 32 e pouca experi�ncia quando trabalhou no caso, mas para ele era claro que precisava convencer n�o s� os ju�zes, mas tamb�m a opini�o p�blica da Argentina. Algo que "Argentina, 1985" tamb�m est� fazendo, aponta.
"� preciso ganhar o caso no tribunal, mas depois vem uma batalha pela mem�ria", avalia. "Venci a batalha pelo entendimento em 1985. Mas agora, Santiago Mitre e Ricardo Dar�n est�o vencendo a batalha pela mem�ria. E isso � �nico", acrescenta o ex-procurador-chefe do Tribunal Penal Internacional (2003-2012).
Vindo de uma fam�lia de tradi��o militar, Moreno Ocampo conta que sua pr�pria m�e estava contra ele. "Minha m�e frequentava a missa com o ditador Jorge Videla!"
Mas como revela uma das cenas mais dolorosas do filme, o angustiante depoimento de uma mulher obrigada a parir algemada dentro de uma viatura a fez mudar de opini�o.
"No dia seguinte, minha m�e me ligou (...). Disse: 'continuo gostando do general Videla, mas voc� tem raz�o, ele tem que ser preso'", lembra Moreno Ocampo.
Isso encheu de otimismo o ent�o promotor adjunto que, com Strassera e uma equipe de jovens inexperientes, construiu um processo que levou �s condena��es de seis dos militares, incluindo Videla, um feito para a Am�rica Latina, marcada naqueles anos por violentas ditaduras.
"Argentina, 1985" mostra como o regime militar estabeleceu campos de deten��o, tortura e exterm�nio, jogou pessoas vivas de avi�es ao mar e prendeu outras indefinidamente. Cerca de 30 mil argentinos desapareceram, segundo organiza��es de direitos humanos, e centenas de beb�s nascidos em cativeiro foram entregues a outras fam�lias.
"No meu pa�s, meu ex�rcito tratou os cidad�os argentinos como inimigos", diz Moreno Ocampo. "N�o se pode tratar cidad�os como inimigos".
- "O poder da juventude" -
A Argentina j� ganhou dois Oscar de melhor filme internacional, ambos por obras que abordaram os anos do terror militar: "A Hist�ria Oficial", em 1986, e "O Segredo dos Seus Olhos", em 2010.
F� de futebol, Moreno Ocampo espera que seu pa�s conquiste agora sua terceira estatueta em Hollywood, assim como fez ao se consagrar tricampe�o na Copa do Mundo no ano passado.
Ele tamb�m confia em que o filme de Mitre, que dedica boa parte do tempo a mostrar o trabalho de jovens que ajudaram os promotores, vai fazer a hist�ria alcan�ar as novas gera��es.
"Meu filho de 23 anos n�o tinha ideia do que havia acontecido. E agora est� aprendendo", conta Moreno Ocampo, pai de quatro filhos.
"Este filme � (...) tamb�m sobre o poder da juventude: como os jovens s�o aqueles que mudam o mundo e como � necess�rio continuar lutando pela justi�a. A justi�a � um trabalho sem fim", assegura.
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MALIBU
Promotor de 'Argentina, 1985' compara o p�s-ditadura de seu pa�s com o do Brasil
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