Rita Lee, a 'rainha' rebelde do rock brasileiro

Rebelde, vision�ria e inspiradora de v�rias gera��es de mulheres, a cantora e compositora Rita Lee, que morreu na segunda-feira (8), aos 75 anos, era considerada por muitos a "rainha" do rock brasileiro. Mas preferia ser chamada de "padroeira da liberdade".

A artista foi diagnosticada com c�ncer de pulm�o em 2021 e chegou a anunciar uma remiss�o da doen�a no ano passado.

Nascida em S�o Paulo, em 31 de dezembro de 1947, em uma fam�lia de classe m�dia, Rita Lee Jones estreou como cantora na banda feminina Teenage Singers, cantando covers de The Beatles e outros grupos estrangeiros.

Em 1966, formou o trio de rock psicod�lico Os Mutantes, com o qual alcan�aria fama nacional no auge da Tropic�lia, um movimento libert�rio que revolucionou a m�sica brasileira durante a Ditadura Militar (1964-1985).

Foi com Caetano Veloso e Gilberto Gil, l�deres do movimento, que Rita Lee descobriu seu "lado brasileiro".

"Eles me deram as dicas de como fazer m�sica brasileira, porque at� ent�o era s� coisa gringa", disse Rita Lee no document�rio biogr�fico "Ovelha Negra" (2007), dirigido pelo m�sico Roberto de Carvalho, seu marido e s�cio musical durante quatro d�cadas.

Separada de Os Mutantes em 1972, seguiu com a banda Tutti Frutti e, depois, com carreira solo.

- "�nica garota roqueira" -

Rita Lee foi uma mulher pioneira no cen�rio musical. Suas roupas extravagantes e can��es irreverentes, que falavam de sexo, amor e liberdade, tornaram-se s�mbolos feministas.

"Eu era a �nica garota roqueira no meio de um clube s� de Bolinhas, cujo mantra era: para fazer rock tem que ter culh�o. Eu fui l� com meu �tero e ov�rios e me senti uma igual, gostassem eles, ou n�o", escreveu ela em sua autobiografia lan�ada em 2016.

A artista evitou, no entanto, o compromisso pol�tico defendido por muitos de seus colegas durante a ditadura.

Seus in�meros sucessos incluem "Ovelha Negra" (1975), "Mania de voc�" (1979), "Lan�a Perfume" (1980) e "Amor e sexo" (2003).

Com sua baixa estatura, a franja ruiva e os �culos coloridos viraram sua marca registrada. Rita Lee conquistou artistas de todas as �reas, incluindo o pai da Bossa Nova, Jo�o Gilberto, com quem gravou um dueto.

"Jo�o Gilberto me ensinou que eu era roqueira com voz de bossanoveira", disse Rita Lee ap�s sua morte em 2019.

Em 50 anos de carreira, ela lan�ou mais de 30 �lbuns, foi indicada sete vezes ao Grammy Latino e venceu uma vez em 2001, na categoria de Melhor �lbum de Rock Brasileiro, com "3001".

A Academia Latina da Grava��o concedeu-lhe o Pr�mio de Excel�ncia Musical em 2022 pelo conjunto de sua obra.

Ela abriu o primeiro show dos Rolling Stones no Brasil, em 1995, e em 2001 lan�ou um �lbum com can��es dos Beatles em vers�o bossa nova.

- "Padroeira da liberdade"

Em 2012, Rita Lee anunciou sua aposentadoria dos palcos aos 64 anos, alegando "fragilidade f�sica".

Desde ent�o, vivia reclusa em sua casa de campo no interior do estado de S�o Paulo, com o marido, a frequente visita dos tr�s filhos, e seus animais, outra de suas grandes paix�es.

Nas imagens que compartilhou em suas redes sociais recentemente, apareceu com cabelos curtos, vestindo pul�veres coloridos.

Fiel ao seu estilo rebelde, em 2022 ela revelou � revista Rolling Stone Brasil que o papel de "rainha do rock" nacional atribu�do a ela por brasileiros de todas as idades n�o lhe convencia totalmente.

"Gosto mais de ser chamada de 'padroeira da liberdade' do que 'rainha do rock', o que acho um tanto cafona...".