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Estado de Minas INTERNACIONAL

Por que Coreia do Sul paga jovens reclusos para sa�rem de casa

Muitos jovens sul-coreanos est�o optando por se isolar, retirando-se totalmente de uma sociedade que castiga aqueles que n�o correspondem �s expectativas


29/05/2023 13:58 - atualizado 29/05/2023 14:54
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Yoo Seung-gyu
Yoo Seung-gyu ficava isolado em seu quarto - e evitava at� o banheiro para n�o ver a fam�lia (foto: BBC)
Em 2019, Yoo Seung-gyu deixou seu pequeno apartamento pela primeira vez em cinco anos.

 

O homem de 30 anos primeiro fez uma faxina em seu "apartamento bagun�ado", com ajuda de seu irm�o. E saiu em dire��o ao mar para uma viagem de pesca, com outros reclusos que conheceu por meio de uma organiza��o sem fins lucrativos.

 

"Foi uma sensa��o estranha estar no mar, mas ao mesmo tempo muito revigorante ap�s a reclus�o. Parecia surreal, mas com certeza eu estava l�. Eu estava existindo", disse Yoo.

 

Um n�mero crescente de jovens sul-coreanos est� optando por se isolar, retirando-se totalmente de uma sociedade que castiga aqueles que n�o correspondem �s expectativas.

 

Essas pessoas reclusas s�o conhecidas como hikikomori, um termo cunhado pela primeira vez no Jap�o na d�cada de 1990 para descrever a reclus�o radical entre adolescentes e jovens adultos.

 

Na Coreia do Sul, que luta contra a taxa de fertilidade mais baixa do mundo e um decl�nio da produtividade, isso se tornou uma preocupa��o s�ria. Tanto que as autoridades est�o oferecendo aos jovens reclusos um dinheiro mensal extra para convenc�-los a sair de casa.

 

Pessoas de nove a 24 anos de fam�lias de baixa renda podem receber at� 650 mil won (R$ 2,4 mil) como ajuda de custo mensal. Eles tamb�m podem solicitar subs�dios para uma s�rie de servi�os, incluindo sa�de, educa��o, aconselhamento, servi�os jur�dicos, atividades culturais e at� "corre��o de apar�ncia e cicatrizes".

 

Esses incentivos visam "permitir que jovens reclusos recuperem suas vidas di�rias e se reintegrem � sociedade", segundo o Minist�rio da Igualdade de G�nero e Fam�lia da Coreia do Sul.

 

O governo define jovens reclusos como "adolescentes que vivem em um espa�o confinado por um longo per�odo de tempo, isolados do mundo exterior e t�m dificuldade significativa em levar uma vida normal".

 

No entanto, gastar dinheiro com esse problema n�o faz com que ele desapare�a, dizem os jovens que se isolaram.

 

Yoo agora dirige uma empresa que apoia jovens reclusos chamada Not Scary — em uma vida muito diferente dos dias em que n�o sa�a de seu quarto nem mesmo para usar o banheiro.

 

No entanto, sua jornada para abandonar os anos de reclus�o foi cheia de altos e baixos. Ele se retirou do mundo exterior pela primeira vez quando tinha 19 anos, saiu da reclus�o por dois anos para prestar o servi�o militar obrigat�rio e depois se isolou novamente por dois anos.


Quarto bagunçado
O quarto de Yoo h� dois anos, quando o jovem raramente sa�a dele (foto: BBC)

 

Park Tae-hong, outro ex-recluso, disse que o autoisolamento pode ser "reconfortante" para algumas pessoas. "Quando voc� tenta coisas novas, � emocionante, mas, ao mesmo tempo, voc� precisa suportar algum n�vel de fadiga e ansiedade. Mas quando voc� est� apenas no seu quarto, n�o precisa sentir isso. No entanto, n�o � bom no longo prazo", diz Park, de 34 anos.

 

Cerca de 340 mil pessoas de 19 a 39 anos no pa�s — ou 3% dessa faixa et�ria — s�o consideradas solit�rias ou isoladas, segundo o Instituto Coreano de Sa�de e Assuntos Sociais.

 

A pesquisa tamb�m mostrou uma propor��o crescente de fam�lias de uma pessoa s� na Coreia do Sul, representando cerca de um ter�o de unidades familiares inteiras em 2022. Ao mesmo tempo, o n�mero de pessoas que tiveram "mortes solit�rias" no pa�s aumentou.

 

O dinheiro, ou a falta dele, n�o � o que leva os jovens � reclus�o.

 

"Eles v�m de origens financeiras variadas", disse Park. "Eu me pergunto por que o governo conecta reclus�o com situa��o financeira. Nem todo jovem recluso est� tendo dificuldades financeiras."

 

"Indiv�duos que precisam desesperadamente de dinheiro podem ser for�ados a se adaptar � sociedade. Existem muitos casos diferentes."

 

Tanto ele quanto Yoo, por exemplo, eram sustentados financeiramente pelos pais quando estavam em reclus�o.

 

O que � comum entre os jovens reclusos � a cren�a de que eles n�o viveram de acordo com os padr�es de sucesso da sociedade — ou de suas fam�lias. Alguns se sentem desajustados porque n�o est�o seguindo carreiras convencionais, enquanto outros podem ter sido criticados por notas acad�micas baixas.

 

Yoo disse que entrou na universidade porque era o desejo de seu pai, mas desistiu depois de um m�s.

 

"Ir para a universidade me deixava com vergonha. Por que n�o pude ter a liberdade de escolher [meu curso de estudo]? Eu me sentia muito infeliz", disse ele. Ele tamb�m diz que nunca sentiu que poderia falar com seus pais sobre isso.

 

"A 'cultura' da vergonha na Coreia torna mais dif�cil para os reclusos falarem sobre seus problemas", disse Yoo. "Um dia, cheguei � conclus�o que minha vida est� errada e comecei a me isolar."

 

No seu isolamento, ele n�o ia nem ao banheiro porque n�o queria ver a fam�lia.

Para Park, a press�o social foi agravada por um relacionamento tenso com a sua fam�lia.


Park Tae Hong
Park Tae Hong, um ex-recluso, diz que as dificuldades financeiras n�o obrigam os jovens � reclus�o (foto: Imagem cedida)

 

"Minha m�e e meu pai brigavam com frequ�ncia desde que eu era crian�a. Isso tamb�m afetou minha vida na escola — a escola na Coreia �s vezes pode ser muito dif�cil. Eu n�o conseguia cuidar de mim mesmo", disse Park.

 

Ele come�ou a fazer terapia em 2018, quando tinha 28 anos, e agora est� retomando a vida social aos poucos.

 

Os jovens na Coreia do Sul se sentem oprimidos porque a sociedade espera que as pessoas sejam de uma certa maneira em uma certa idade, disse Kim Soo Jin, gerente s�nior da Seed:s, ag�ncia especializada em programas para hikikomori.

 

"Quando eles n�o conseguem corresponder a essas expectativas, eles pensam 'eu fracassei, 'cheguei tarde demais para isso' — esse tipo de atmosfera social deprime sua autoestima e pode eventualmente isol�-los da sociedade", afirma ela.

 

A Seed:s administra um espa�o f�sico onde os reclusos podem descansar, ter momentos de sil�ncio e buscar aconselhamento. Seus programas s�o abertos a todos, independentemente de seu n�vel de renda.

 

Uma sociedade onde os jovens podem encontrar maior variedade de empregos e oportunidades de educa��o seria mais acolhedora para indiv�duos reclusos, diz Kim.

 

"Jovens reclusos querem um local de trabalho onde possam pensar 'Ah, eu posso fazer isso, n�o � t�o dif�cil. Acho que posso aprender mais aqui e depois entrar no mundo real'", disse ela.

 

Park tamb�m espera que um dia a sociedade coreana possa ser mais receptiva aos jovens com interesses que est�o fora do usual.

 

"No momento, apenas os obrigamos a estudar. Precisamos dar aos jovens a liberdade de encontrar coisas de que gostem e nas quais sejam bons", diz ele.


Pessoas pintando
O instituto Seed:s ajuda pessoas que vivem isoladas (foto: SEED:S CENTRE)

 

Os subs�dios podem ser um "primeiro passo" para resolver o problema, mas alguns acreditam que o dinheiro pode ser melhor empregado. Acreditam que o financiamento de organiza��es e programas voltados para jovens reclusos, oferecendo-lhes aconselhamento ou treinamento profissional, teria um impacto mais amplo.

 

"O pr�ximo passo deve ser preparar programas nacionais gratuitos e de alta qualidade para jovens reclusos. No momento, h� um n�mero muito limitado de programas e centros onde jovens reclusos podem participar e sentir que pertencem � sociedade", diz Kim Hye Won, diretora-chefe do PIE for Youth, organiza��o que oferece programas para jovens reclusos e seus cuidadores.

 

Ainda assim, ela elogia o fato de o governo sul-coreano estar tentando resolver o problema na adolesc�ncia.

 

"� bom ver que [as novas medidas] focam nos adolescentes. A adolesc�ncia � o momento de ouro para evitar a reclus�o, porque a maioria dos adolescentes faz parte de uma comunidade, como a escola. Depois disso, fica muito dif�cil encontrar essas pessoas. "

 

Yoo disse que emergiu do isolamento gradualmente. O que o ajudou, ele conta, foi conhecer ex-reclusos por meio de um grupo de reabilita��o agora extinto chamado K2 International.

 

"Depois que recebi ajuda de outras pessoas, comecei a perceber que este n�o � apenas um problema meu, mas um problema da sociedade", disse. "E finalmente consegui sair da reclus�o lentamente."


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