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Estado de Minas MEIO AMBIENTE

A impressionante foto que mudou a percep��o mundial sobre a crise do pl�stico

As fotos de filhotes de albatrozes mortos com pl�stico no est�mago, tiradas por Chris Jordan em 2009, viralizaram e mudaram nossa rea��o � crise do pl�stico.


14/06/2023 15:17 - atualizado 14/06/2023 16:44
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Filhotes de albatrozes mortos com plástico no estômago
As fotos de filhotes de albatrozes mortos com pl�stico no est�mago, tiradas por Chris Jordan em 2009, viralizaram e mudaram nossa rea��o � crise do pl�stico (foto: CHRIS JORDAN)

Quando o fot�grafo americano Chris Jordan pisou pela primeira vez no Atol de Midway – uma estreita faixa de terra no meio do Oceano Pac�fico – em setembro de 2009, para documentar os "assustadores" n�veis de lixo nos oceanos, ele n�o imaginava que a imagem marcante de um filhote de albatroz morto iria viralizar e mudar a rea��o do mundo � crise do pl�stico.


Depois de produzir algumas imagens de grandes pilhas de lixo, Jordan procurava uma forma direfente de destacar a escala do excesso de consumo do pl�stico.


Depois que soube de uma ilha a 2.100 km a noroeste de Honolulu, no Hava�, coberta por milhares de aves mortas, todas com seus est�magos cheios de produtos de pl�stico do dia a dia, como tampas de garrafas e escovas de dentes, ele diz que sentiu "imediatamente o impulso magn�tico de ir at� l�".


Ele estava decidido a "encontrar uma forma de fotografar [essas aves] que comprovasse a profundidade daquela trag�dia ambiental".


Jordan n�o foi o primeiro fot�grafo a capturar o impacto da crise do pl�stico sobre a popula��o de albatrozes de Midway.


A primeira foto conhecida foi tirada por pesquisadores americanos em 1966 e publicada em 1969, segundo o bi�logo Wayne Sentman, presidente do conselho da organiza��o Friends of Midway Atoll ("Amigos do Atol de Midway").


A ingest�o de pl�stico � provavelmente a causa dos "piores destinos" dos filhotes de albatroz.


Seus fragmentos podem perfurar a parede intestinal das aves ou causar desidrata��o.

E os metais pesados e outras subst�ncias podem se dissolver em concentra��es que podem ser mortais para as aves, segundo Sentman.


Jordan conhecia as fotos anteriores tiradas em Midway, mas tentou dar uma dimens�o mais emocional �s suas imagens. Ele compara a composi��o das fotografias das aves mortas com um "ritual f�nebre".


"Quando arrumamos objetos sagrados sobre um altar, fazemos de forma natural, com simetria e equil�brio, e podemos passar muito tempo at� que tudo se encaixe", explica Jordan.


Fotógrafo Chris Jordan
Jordan n�o esperava que suas imagens viralizassem (foto: Getty Images)

Ele decidiu usar um difusor – um material branco estendido por uma moldura que dispersa a luz brilhante – para gerar uma ilumina��o mais suave "que ajuda a criar a sensa��o de uma fotografia um pouco mais profunda".

Quando Jordan voltou para Seattle, nos Estados Unidos, ele achou que havia encerrado seu projeto. "Eu me despedi da ilha e fui para casa, processei as imagens e as publiquei", ele conta.


Ele n�o esperava que suas imagens "viralizassem", muito antes da era das redes sociais. Suas fotos rapidamente come�aram a aparecer em revistas e jornais de todo o mundo.


"Elas meio que apareceram em toda parte, todas de uma vez", relembra ele.

Dezenas de milhares de e-mails jorraram na sua caixa de entrada e ele precisou contratar um assistente em tempo integral, apenas para respond�-los.

"Muitas pessoas escreveram com rea��es traum�ticas", ele conta.

"As pessoas queriam ir para Midway e salvar os albatrozes, mas o pl�stico n�o vem daquela ilha. � um problema sist�mico."


Um relat�rio recente do WWF prev� que a produ��o de pl�stico deve mais do que dobrar at� 2040. Com isso, at� 2050, os res�duos pl�sticos no oceano dever�o quadruplicar.


A engenheira ambiental Jenna Jambeck, da Universidade da Ge�rgia, nos Estados Unidos, � especialista mundial em polui��o por pl�stico.


Ela calcula que, em 2010, 8 milh�es de toneladas de pl�stico entraram no oceano a partir de fontes terrestres. O peso corresponde a cerca de 650 mil �nibus de dois andares.

Jordan decidiu ent�o voltar para Midway. Ele chegou em julho de 2010 a uma "cacofonia" de milh�es de albatrozes dan�ando, cantando e se cumprimentando.


Imagem de pássaro morto com plásticos em seu estômago
Outra das fotos que Chris Jordan capturou em Midway (foto: Chris Jordan)

Jordan ficou encantado. "Aquela quantidade de p�ssaros � incr�vel", relembra ele.


"Imediatamente, o outro lado da hist�ria come�ou a se apresentar e o tema passou a ser o nome da ilha – ficar a meio caminho ['midway', em ingl�s] entre o horror e a beleza. Entre o inferno de ver o nosso pl�stico aparecendo daquela forma t�o terr�vel no est�mago daqueles filhotes de p�ssaros e o para�so da ilha tropical que est� sendo carinhosamente vigiada e protegida como santu�rio marinho, coberto por milh�es daqueles seres que n�o t�m medo dos seres humanos", ele conta.


Ao todo, Jordan visitou Midway oito vezes.

Ele tamb�m passou quatro anos produzindo seu document�rio, Albatross, lan�ado em 2018 – apenas um ano depois de outros dois lan�amentos fundamentais que tamb�m destacaram os impactos da polui��o sobre a vida marinha: a s�rie da BBC Planeta Azul 2, de David Attenborough, e o premiado Oceanos de Pl�stico, da Netflix, produzido pela cineasta Jo Ruxton.

Fazer com que as pessoas se identifiquem

Jo Ruxton � a fundadora da organiza��o Ocean Generation, que trabalha pela conserva��o dos mares. Ela incluiu no seu filme uma sequ�ncia sobre os pl�sticos que amea�am os albatrozes de Midway.


"O que faz com que as fotos de Jordan repercutam entre as pessoas � que elas reconhecem coisas que certamente poderiam ter jogado fora", afirma ela.


"Voc� pode ver pequenos fragmentos de pl�stico em criaturas pequenas como mexilh�es, ostras e at� zoopl�ncton – mas, quando voc� v� coisas que realmente usamos, que passaram pelas nossas m�os, as pessoas se identificam."

Ruxton segura um grande pote de vidro com objetos de pl�stico coloridos de uso di�rio – um cartucho de impressora, uma bola de golfe, uma escova de dentes, quatro isqueiros descart�veis. Todos esses objetos vieram dos est�magos de albatrozes.


Exposição com as fotos de Jordan em Londres em 2014
Exposi��o com as fotos de Jordan em Londres em 2014 (foto: Getty Images)

"Isso atinge os cora��es e mentes das pessoas nas minhas palestras", ela conta.

"Entender o oceano deveria estar no nosso DNA."

Jordan sabe que a fotografia colaborou com o aumento da consci�ncia sobre a polui��o causada pelo pl�stico.


"Houve enorme ativismo sobre os oceanos que foi despertado em todo o mundo de uma vez", relembra ele.

"ONGs limpando praias e [defendendo] legisla��o sobre o pl�stico, educa��o nas escolas, a��es judiciais sobre a toxicidade. Ver aquilo foi espetacular."

Em maio de 2023, cientistas do Museu de Hist�ria Natural de Londres identificaram a plasticose, uma nova doen�a das aves mar�timas causada pela ingest�o de pl�stico.

Ela prejudica o trato digestivo das aves mar�timas, causando feridas. Nos casos graves, a doen�a gera infec��es e parasitas, restringindo a capacidade de digerir eficientemente os alimentos.


"N�o h� d�vida de que as coisas est�o melhorando – havia muito pouca legisla��o antes", afirma Ruxton.


Surgiram proibi��es para tudo, desde as microesferas de pl�stico nos cremes dentais at� hastes flex�veis de algod�o e sacolas pl�sticas, em v�rios pa�ses pelo mundo.

Em junho, 175 pa�ses deram continuidade �s negocia��es com vistas � elabora��o de um Tratado Global sobre o Pl�stico, com for�a de lei, at� 2024.


Este novo acordo internacional ir� definir uma abordagem muito mais abrangente e coordenada sobre a redu��o da polui��o global pelo pl�stico, tomando medidas como a taxa��o do pl�stico novo e a proibi��o de todos os objetos de pl�stico descart�veis desnecess�rios.


Os pa�ses concordaram em criar uma primeira vers�o do tratado at� novembro de 2023.


Albatroz fotografado em Midway
Albatroz fotografado no Atol de Midway (foto: Getty Images)

Mas, quando o assunto � encontrar solu��es, Jordan ainda sente que algo est� faltando. Ele acredita que o centro desta crise est� na desconex�o da sociedade entre as a��es e seus impactos sobre o ambiente.


Para ele, enfrentar com sucesso a polui��o causada pelo pl�stico passa por reconstruir uma forte rela��o com a natureza.


"Milh�es est�o despertando [mas] o mais estranho � que a grande maioria das pessoas que det�m o poder no nosso mundo, os presidentes e os chefes das empresas e grandes institui��es, s�o os mais desconectados", afirma ele.


"Sempre que eu ficava com p�ssaros que estavam morrendo e em muitas das vezes em que estive com eles depois de mortos, as l�grimas simplesmente ca�am", ele conta.

"O luto era incrivelmente intenso, at� que, um dia, eu entendi – o motivo por que eu sentia tanto � porque eu os amo."


"Isso � o luto – uma experi�ncia direta de amor por algo que estamos perdendo ou por algo que est� sofrendo. Eu me liberei para sentir completamente. � uma passagem."


Jordan acredita que a conex�o com a natureza e a considera��o pura e simples pelo mundo � nossa volta, sem ficarmos � espera de que, um dia, as coisas melhorem, � o que realmente impulsiona as mudan�as positivas.

Leia a vers�o original desta reportagem (em ingl�s) no site BBC Future.


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