
As altas temperaturas deste m�s quebraram recordes em pelo menos 15 pa�ses. Nos Estados Unidos, o Vale da Morte, na Calif�rnia, registrou a noite mais quente j� documentada. Com mais de 50ºC, a China tamb�m ultrapassou marcas anteriores de calor, assim como na Pen�nsula Ib�rica. Na �sia, os extremos foram de chuva, com inunda��es e deslizamentos de terra que deixaram dezenas de mortos, especialmente no Paquist�o e na Coreia do Sul.
“Com base em dados preliminares, incluindo a previs�o de temperaturas at� o fim do m�s, � praticamente certo que julho de 2023 ser� o julho mais quente por uma ampla margem, com cerca de 0,2°C acima do recorde anterior”, comentou Haustein, em uma coletiva de imprensa on-line. “N�o ser� apenas o julho mais quente, mas o m�s mais quente de todos os tempos em termos de temperatura m�dia global absoluta. Talvez, tenhamos que voltar milhares, se n�o dezenas de milhares de anos, para encontrar condi��es igualmente quentes em nosso planeta.”
El Ni�o
O recorde acompanha a chegada do El Ni�o no Pac�fico tropical. Por�m, o cientista destacou que, embora o fen�meno natural contribua para o calor, os recordes que v�m sendo quebrados m�s a m�s s�o consequ�ncia “da libera��o cont�nua de grandes quantidades de gases de efeito estufa pelos seres humanos”. Como os efeitos do El Ni�o s� devam se manifestar totalmente no segundo semestre, Haustein alertou que “julho provavelmente ser� seguido por mais meses de calor recorde at� pelo menos o in�cio de 2024”.
Autor do livro El Ni�o in world history (El Ni�o na hist�ria mundial, sem edi��o em portugu�s), o especialista clim�tico da King´s College London George Adamson concorda que o fen�meno n�o � o �nico culpado pelas quebras de recorde de calor. “O El Ni�o pode causar grandes mudan�as nos padr�es clim�ticos em todo o mundo, mas n�o pode ser responsabilizado pelas atuais temperaturas globais.
Durante os anos sem El Ni�o, a energia extra liberada pelo fen�meno continua l�, mas uma maior parte dela � transferida para os oceanos tropicais. Portanto, embora voc� veja flutua��es na temperatura da superf�cie relacionadas ao El Ni�o, a causa subjacente das temperaturas globais observadas em escalas de tempo decenais � o di�xido de carbono liberado por atividades antropog�nicas”, garante.
O relat�rio mais recente do Painel Intergovernamental de Ci�ncias Clim�ticas das Na��es Unidas (IPCC) atesta que a atividade humana � respons�vel por todo o aquecimento registrado desde meados do s�culo 19. "O intervalo prov�vel da mudan�a induzida pelo homem na temperatura da superf�cie global em 2010-2019 em rela��o a 1850-1900 � de 0,8°C a 1,3°C, com uma estimativa central de 1,07°C. Enquanto o intervalo prov�vel da mudan�a atribu�vel � for�a natural � de apenas -0,1°C a +0,1°C’”, diz o resumo t�cnico do relat�rio.
O IPCC tamb�m destaca que o uso de combust�veis f�sseis � o principal fator que impulsiona o aquecimento global: "Em 2019, cerca de 79% das emiss�es globais de gases de efeito estufa foram provenientes de energia, ind�stria, transporte e edif�cios, e 22% vieram da agricultura, silvicultura e outros usos da terra. As redu��es de emiss�es de CO2 decorrentes de medidas de efici�ncia s�o ofuscadas pelo aumento das emiss�es em v�rios setores".
Acordo de Paris
Esta n�o � a primeira vez que a temperatura mensal ultrapassa 1,5ºC, comparada ao fim do s�culo 19. Em 2016 e 2020, os term�metros no Hemisf�rio Norte subiram mais que isso no ver�o.
O Acordo de Paris estabelece que o aquecimento m�dio — em longo prazo — chegue, ao m�ximo, a 1,5ºC at� o fim do s�culo. Embora isso n�o tenha acontecido ainda, com o limite quebrado esporadicamente, especialistas em clima alertam que, possivelmente, o mundo n�o atingir� a meta, estabelecida em 2015.
Para manter o aquecimento no limite, o IPCC determina que as emiss�es globais de gases de efeito estufa precisam atingir o pico antes de 2025 e serem reduzidas em 43% at� 2030. Por�m, os planos nacionais apresentados anualmente pelos pa�ses signat�rios s�o insuficientes para alcan�ar a meta, colocando o Acordo em risco.