Em 26 de junho de 2019, a Justi�a do Qu�nia suspendeu a constru��o de uma usina de carv�o que solicitava uma nova jazida. Esta foi uma das poucas vit�rias conquistadas pelos ativistas ambientais deste pa�s do leste africano.
Com um custo de 2 bilh�es de euros (R$ 10,7 bilh�es), esta usina que seria financiada pela China n�o foi constru�da, nem se escavou a mina de onde o carv�o seria extra�do.
Os construtores do projeto, apoiados pelo governo queniano, apelaram da senten�a, mas o ativista local Omar Elmawi acredita que s�o poucas as chances de vit�ria.
O presidente chin�s, Xi Jinping, prometeu em setembro de 2021, perante a ONU, que seu pa�s n�o construiria mais minas de carv�o no exterior, lembrou Elmawi.
"Aumentamos muito o sarrafo", afirmou ele, em um pa�s onde "90% da energia � verde" (hidrel�trica, solar, e�lica).
- "4% das emiss�es mundiais" -
Altamente poluente, o carv�o contribui em grande medida para o aquecimento global, do qual a �frica � uma das principais v�timas.
Mas, em um contexto nacional de grande d�ficit de eletricidade, "� a nossa sa�da", disse � AFP Ousseini Hadizatou Yacouba, ministra nigerina das Minas antes do recente golpe de Estado, durante uma confer�ncia sobre as minas na �frica realizada em Paris em julho.
Os solos nigerinos s�o ricos em ur�nio, l�tio e terras raras e, apesar do forte potencial em energia solar, "n�o estamos na l�gica de dizer: 'N�o vamos explorar o carv�o, porque � poluente'", afirmou.
"Ou ser� que uma f�brica de carv�o no N�ger gera mais emiss�es do que muitos ve�culos e outras ind�strias aqui (na Europa)?", questionou.
O racioc�nio � o mesmo na Costa do Marfim, onde atualmente h� 22 minas abertas - a maioria de ouro -, 180 licen�as de explora��o foram emitidas, e importantes campos de petr�leo e g�s foram descobertos em suas �guas territoriais.
"Mesmo que consegu�ssemos frear as emiss�es africanas neste momento, isso n�o mudaria nada no ritmo do aquecimento global", considerando-se que a �frica "contribui apenas com 4% das emiss�es de gases do efeito de estufa" no mundo, justificou o ministro costa-marfinense das Minas, Energia e Petr�leo, Mamadou Sangafowa Coulibaly.
Ao ser entrevistado pela AFP, o ministro se gabou do saldo "l�quido de carbono zero" proveniente dos hidrocarbonetos de seu pa�s, onde "cada grama de CO2 emitida corresponde a um projeto que permite sua absor��o", sobretudo, por meio do reflorestamento.
� o mesmo argumento usado pela gigante francesa TotalEnergies, que come�ou a explora��o de petr�leo bruto no maior parque nacional de Uganda e construiu um oleoduto de 1.443 quil�metros para transport�-lo at� a costa da Tanz�nia.
- "Dividendo demogr�fico" -
Apesar das cr�ticas dos ativistas ambientais, os governos ugandense e tanzaniano apresentaram este projeto como uma importante fonte de receita para seus pa�ses.
"N�o podemos impedir o desenvolvimento de pa�ses soberanos", argumenta Pierre-Samuel Guedj, cofundador da Affectio Mutandi, uma consultoria que coorganizou a confer�ncia sobre minas em Paris.
Guedj insiste no "dividendo demogr�fico": em 2050, haver� 2,5 bilh�es de africanos - o dobro da quantidade atual - para se "alimentar" e, portanto, "fornecer emprego", completa.
A Rep�blica do Benin, cujos solos est�o repletos de l�tio, cobalto, t�ntalo, cromo e n�quel, tem nestes minerais "um dos motores do seu desenvolvimento econ�mico", observa seu ministro das Minas, Samou Se�dou Adambi.
Como consolo, Jean-Claude Guillaneau, do Escrit�rio Franc�s de Pesquisa Geol�gica e Mineira, afirma que pelo menos "os pain�is solares e as turbinas e�licas para abastecer as minas est�o agora em toda parte" na �frica.
"Se a minera��o consome 10% da energia mundial, e esses 10% prov�m de pain�is fotovoltaicos, turbinas e�licas ou hidrog�nio verde, isso j� � alguma coisa", defende Guillaneau.
PARIS