Esta tomada de ref�ns, que durou seis dias, gerou um novo conceito: a s�ndrome de Estocolmo, que se popularizou ao redor do mundo, definida como a atitude favor�vel ou, inclusive, a atra��o que pessoas sequestradas podem desenvolver por seus captores.
O assalto ganhou rapidamente a aten��o dos meios de comunica��o: "Janne" Olsson fez quatro funcion�rios do banco ref�ns - tr�s mulheres e um homem - e usou dois como escudos humanos, agitando a arma e amea�ando mat�-los caso as suas demandas n�o fossem atendidas.
V�rios policiais foram mobilizados e franco-atiradores se posicionaram ao redor do banco.
"Depois, eu pensei muitas vezes na situa��o absurda em que est�vamos", lembra a ref�m Kristin Enmark, que tinha 23 anos no momento, no seu livro "I Became the Stockholm Syndrome" (Eu me tornei a S�ndrome de Estocolmo).
"Aterrorizados e presos entre duas amea�as de morte: de um lado a pol�cia e do outro o assaltante", afirma no livro.
Olsson fez algumas exig�ncias: 3 milh�es de coroas suecas (quase 700.000 d�lares na �poca) e que Clark Olofsson, um dos mais famosos ladr�es de banco do pa�s, que estava preso, fosse levado � ag�ncia.
Para acalm�-lo, o governo concordou com ambas.
"Quando Clark Olofsson chegou, ele assumiu o controle da situa��o, foi ele quem conversou com a pol�cia", recorda � AFP Bertil Ericsson, de 73 anos, rep�rter fotogr�fico que trabalhou na cobertura da crise.
"Ele tinha muito carisma e falava bem", acrescenta.
Olsson acalmou assim que Olofsson chegou ao banco. E Kristin Enmark rapidamente passou a ver Olofsson como um salvador, afirma no livro.
"Ele prometeu que iria garantir que nada aconteceria comigo e eu decidi acreditar nele", escreveu.
Ela falou ao telefone com as autoridades diversas vezes durante o sequestro e chocou o mundo quando defendeu os captores.
"N�o tenho nem um pouco de medo do Clark e do outro cara, eu tenho medo da pol�cia. Voc� compreende? Eu confio completamente neles", afirmou a jovem em uma conversa telef�nica no segundo dia de sequestro com o ent�o primeiro-ministro sueco, Olof Palme.
A crise terminou no sexto dia, quando a pol�cia invadiu a ag�ncia pelo teto e jogou g�s lacrimog�neo no local. Olsson e Olofsson se renderam e os ref�ns recuperaram a liberdade.
- "Nem amor nem atra��o f�sica" -
A equipe de negociadores tinha um psiquiatra, Nils Bejerot, que analisava em tempo real o comportamento dos criminosos e dos ref�ns.
Ele criou o conceito de "s�ndrome de Estocolmo", refutado por muitos de seus colegas.
"N�o � um diagn�stico psiqui�trico", afirma Christoffer Rahm, psiquiatra e pesquisador do 'Karolinkska Institute', autor de um artigo com o t�tulo: "S�ndrome de Estocolmo: diagn�stico psiqui�trico ou mito urbano?".
O termo "pode ser descrito como um mecanismo de defesa que ajuda a v�tima a sobreviver" em uma situa��o de extrema press�o. "Gra�as a este v�nculo positivo, desenvolve uma forma de aceita��o da situa��o, o que por sua vez reduz o estresse", explica Rahm � AFP.
Para Cecilia �se, professora de Estudos de G�nero da Universidade de Estocolmo, o conceito tem uma "dimens�o de g�nero".
As declara��es de Kristin Enmark e das outras mulheres durante o sequestro foram interpretadas pelas autoridades "de maneira muito sexualizada, como se tivessem ca�do sob o feiti�o de uma s�ndrome", que teria retirado seu arb�trio ou capacidade de raciocinar.
A percep��o foi alimentada por v�rios rumores, em particular o de um relacionamento entre Kristin e Clark.
Embora os dois tenham iniciado um relacionamento v�rios anos depois, nada parece indicar que a hist�ria de amor tenha come�ado em agosto de 1973.
"N�o havia amor ou atra��o f�sica da minha parte. Ele era minha chance de sobreviv�ncia e me protegeu de 'Janne'", escreveu a sueca, que inspirou a personagem "Kicki" da s�rie "Clark", da Netflix.
A professora �se afirma que "a s�ndrome de Estocolmo � um conceito constru�do" e usado para explicar como os ref�ns se comportam quando as autoridades e os Estados falham em sua prote��o.
- "Amea�a real" -
"N�s represent�vamos uma amea�a real para os ref�ns", admitiu anos mais tarde o superintendente de pol�cia Eric Ronnegard em um livro no qual analisa as falhas das for�as de seguran�a durante o sequestro.
Em um sinal do ressentimento com a pol�cia, os ex-ref�ns optaram pelo sil�ncio durante o julgamento dos sequestradores.
A maioria das pessoas pode se identificar com o conceito em um n�vel psicol�gico, disse Rahm, ao destacar que os v�nculos emocionais com algu�m que representa uma amea�a tamb�m s�o comuns em relacionamentos abusivos.
A rea��o psicol�gica da v�tima permite aliviar o peso da vergonha e da culpa que pode sentir, conclui.
ESTOCOLMO